Estudar no exterior: confira o que outros jovens querem te avisar

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A universitária Beatriz Lohmann, 19 anos, cursa psicologia na Vanier College, no Quebec, no Canadá. Ela conta que escolheu a área para estudar por influência da família, já que é a profissão de sua mãe e avó. ‘’Aqui temos diversas opções de instituições, e ainda temos os advisers (‘’conselheiros’’), pessoas com as quais podemos contar, programas de ajuda para estudantes, monitorias, bibliotecas, sistemas tecnológicos diversos”, afirma.

 

Universidade de Vanier, na província do Quebec, Canadá. Foto: Divulgação

De acordo com a Belta – Associação Brasileira de Intercâmbio – os destinos mais procurados pelos brasileiros para sua graduação em uma universidade são os Estados Unidos, Canadá, e Portugal. Os dois primeiros pela facilidade com o idioma inglês e pela qualidade de vida oferecida, e o terceiro e último pela proximidade entre as culturas.

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Foi ainda averiguado, de acordo com dados do site “Quero Bolsa”, em agosto de 2020, que países da América Latina também têm se tornado uma opção para construção da carreira individual.

Nos tempos da pandemia, a situação foi alterada completamente, não só no nosso sistema universitário, mas também em sistemas estrangeiros.

Nem tudo são flores

Já Débora Scherer, 18 anos, pensa um pouco diferente da organização de sua universidade. Ela estuda Ciências Sociais na Sorbonne Université, em Paris, França. ‘’Eu daria uma nota 8 pra qualidade da Sorbonne, porque de um lado o ensino é excelente, os professores são muito bem qualificados, as matérias são muito interessantes, mas, por um outro lado, a administração é super difícil, e pelo que sei muito pior que do Brasil’’, explica.

 

Vista da Universidade de Sorbonne, em Paris, França. Foto: Divulgação

É importante lembrar que esta comparação de ensino entre realidades diferentes pode ser relativa também. Frederico Marín-Vargas, 28 anos, nativo da Colômbia, estuda Tradução na Universidade de Antioquia, na cidade de Medellín, e ele diz que seu local é o segundo melhor do país. Porém, quando colocado ao lado de outras instituições da América Latina, o mesmo está nos últimos dos rankings de qualidade.

 

‘’Eu decidi estudar isso, pois, de um lado, eu amo línguas e culturas estrangeiras.’’, disse o estudante da Universidade de Antioquia

Cibernético

Além dos três alunos, Danton Santos e Simone Cefali também conversaram com a reportagem. Danton estuda Mídia Criativa e Produção de Cinema, em Londres, Inglaterra, enquanto Simone, nativo da Itália, cursa Cybercity Strategies (‘’estratégias de cybercity’’), que, de acordo com ele, engloba tudo aquilo ligado ao mundo cibernético e a segurança virtual. No caso da graduação, esta visa a proteção de empresas de comunicação, que sofreram cada vez mais ataques virtuais desde a pandemia.

Em relação às oportunidades de emprego ou estágio, a maioria dos alunos deram depoimentos pessimistas. Beatriz diz que na área de psicologia do Canadá as oportunidades aos universitários primeiramente se dão no campo de serviço social, e que se requer um doutorado para atuar como profissional da área. E assim como ela, Débora pauta a questão do diploma de graduação.

Concorrência

“Aqui na França, os diplomas que saem das universidades não são tão valorizados porque aqui eles têm um segundo sistema de ensino superior, que eles chamam de grandes escolas, que são escolas privadas, muito caras, mais voltadas para as áreas de marketing, comércio e ciências políticas. Então, se eu sair com um diploma de Sociologia, quase não vale nada aqui’’, diz a estudante sobre a realidade do mercado de trabalho do país onde reside.

Frederico enxerga essa realidade da mesma maneira. Ele relata a negligência que existe em relação ao trabalho como tradutor, e que, em seu país, é possível atuar como freelancer ou como professor do idioma. ‘’Costuma-se pensar que qualquer um que tenha o espanhol como língua-mãe ou que saiba falar a língua, já pode traduzir e interpretar, mas isso está errado!’’, critica.

Apoio

Por outro lado, Danton e Simone reforçam o apoio de suas universidades na procura de um trabalho. Danton diz que as próprias instituições ajudam no momento de encontrar um trabalho e que, uma vez dentro do ramo, as chances de evolução da carreira são cada vez maiores. Simone também pensa assim.

Além disso tudo, nosso país também merece espaço para ser mencionado. Na realidade de uma universidade particular, foi visto que a estrutura do local e as oportunidades de emprego são decentes, levando em consideração as dificuldades atuais. Leonardo Travassos, 23 anos, cursa Direito na Faculdade Processus, localizada na 708/907 Sul, de Brasília, e ele diz que a faculdade apresenta uma qualidade excelente em questão de ensino, mas que a estrutura do prédio deixa a desejar ainda.

Problemas

João Vitor Bilio, 21 anos, exalta a realidade vivida por ele na Universidade Brasília, a UnB. Ele estuda engenharia agrônoma, por gostar de biologia e de ambientes abertos, e diz que, por exigir a prática em ambientes externos, o ensino remoto dificultou o contato com estas dinâmicas, que envolviam o toque com a natureza. Também, as oportunidades de estágio são baixas, e para obter um bom emprego depende do estado onde se vive.

E ele não está sozinho. Na mesma universidade, Isabel Vaz reclama do mesmo problema. Ela cursa Engenharia Florestal, por vontade de ajudar os biomas de nosso país, e diz que a situação atual a impede de ‘’colocar a mão na massa’’ como deveria, já que muitas atividades de sua formação envolve plantações e idas a campos externos. ‘’Fica bem complicado ter aula de laboratório por vídeo, ou por foto, então eu sinto que não aprendemos tanto se estivéssemos tendo aulas presenciais.’’, explica a aluna.

Efeitos da pandemia

A pandemia causou uma transformação profunda nos métodos de ensino e avaliação. Existem as opções de ensino remoto, onde as aulas se dão de maneira completamente virtual, e ensino híbrido, onde os alunos alternam, em um período de uma semana, a participação presencial e virtual nas aulas. O gráfico abaixo mostra como cada instituição trabalha com essa dinâmica:

No caso, apenas a universidade de Débora, estudante da França, utiliza o método híbrido. Dentro das instituições que adotam o sistema remoto, Leonardo diz que suas aulas costumam ser gravadas para serem conferidas depois pelos alunos. Sobre isso, o aluno comenta que a qualidade dos vídeos não é boa, e que isso o faz sentir bastante falta do ensino presencial.

De forma geral, percebe-se que países da Europa, América do Norte, e outros da América Latina enfrentam dificuldades similares ao nosso sistema. É comum ver países de grande relevância mundial como uma meta de alcance, ou como objetivo para se mudar e construir sua carreira, porém, analisando internamente suas dinâmicas e formas de administração das aulas e métodos avaliativos, o Brasil se enquadra nos mesmo parâmetros, sem necessariamente estar melhor nem pior que outras nações.

Por Felipe Tusco Dantas
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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