Administração da cidade afirma não ter projeto de incentivo à educação
Pelo menos 31,25% dos moradores do Gama não terminaram o ensino fundamental, segundo última pesquisa da Companhia de Planejamento (Codeplan). A Coordenação Regional de Ensino do Gama (CRE), responsável pela organização educacional da cidade, constatou que os jovens são fragilizados e devido às dificuldades familiares não permanecem na escola.
“A maior parte das desistências são influenciadas por fatores familiares e financeiros. Quando eles percebem a necessidade de se ter um ensino completo, voltam para a educação de jovens e adultos”, explicou a coordenadora intermediária de anos finais da Direção Regional de Ensino (DRE), Andréa Verbena. Segundo ela, o Gama oferece mais de três instituições de supletivo para alunos com mais de 18 anos que decidem voltar para escola.
Reprovações
A cidade do Gama possui 48 escolas públicas ativas e em condições de uso, segundo o cadastro das instituições educacionais do DF. A falta de escolas e o baixo número de vagas não são problemas da região. Para o coordenador do Centro de Ensino Fundamental 07, Daniel Rodrigues de Oliveira, o fator que mais influencia a porcentagem apresentada é o alto número de reprovações nas escolas. “A reprovação desmotiva o aluno, além de não terem o acompanhamento dos pais. Chega um momento que o aluno já tem uma idade avançada na quinta série e é mais vantajoso sair para trabalhar e complementar a renda”, explicou. O educador relata que são convocadas reuniões com os pais, mas eles não comparecem devido ao tempo dedicado ao trabalho.
A falta de preparação do aluno na educação básica, antes de chegar ao ensino fundamental, é apontada pelo coordenador como um dos pilares que explicam a porcentagem da pesquisa. “O aluno chega para nós sem saber ler, escrever e interpretar. Por isso, eles encontram uma dificuldade muito grande. A mudança deve começar desse ensino primário”, elucidou. Para ele, o estudo é um investimento a longo prazo, mas os pais não conseguem passar essa motivação para os filhos.
Daniel relata que a falta de condição de trabalho dos professores da rede pública de ensino gera o desinteresse por parte dos mesmos, que buscam outro emprego e abandonam as escolas, “Temos muitas instituições, mas poucos professores. Isso pode ocasionar em um número menor de aulas e acaba afetando e desmotivando os alunos”, constatou. Além disso, o gestor conta que o comércio local se tornou um atrativo para os moradores que não completam o ensino antes de alcançarem a maioridade.
Para o comércio, a administração do Gama descreveu projetos e palestras que incentivam o microempreendedor. Com isso, os moradores locais trocam a escola, um investimento a longo prazo, pelo empreendedorismo, que serve como uma porta de entrada para o mercado de trabalho. “Acredito que eles (jovens) estão querendo a sobrevivência em época de crise”, declarou a administradora ao justificar o abandono dos moradores do Gama em busca de uma melhor qualidade de vida.
“Preocupação é com buracos”
A administração da cidade informou que não há projeto para diminuir esse número. “Nossa preocupação é tapar buracos, tirar o lixo, podar as árvores e cortar o mato. Deixo a parte da educação para o CRE (Coordenação Regional de Ensino)”, disse a administradora do Gama, Maria Antônia Rodrigues Magalhães, que disse estar surpresa com os dados.
Ela conta também que a pesquisa apresentada pela Codeplan servirá como um espelho para os próximos projetos. “Essa porcentagem me causou surpresa. Não tem sentido uma cidade que tem o perfil de uma cidade universitária estar perdendo no ensino fundamental, que é a base de tudo”.
Por Clara Sasse