Levantamento feito pela ONG Todos pela Educação mostra que a adesão de crianças de 6 a 14 anos fora da escola, em 2021, aumentou 171,1% em relação a 2019, último ano antes da pandemia de Covid-19. No entanto, quando se trata de jovens de 15 a 17 anos, ocorreu um aumento de 3,6% nas matrículas escolares dos estudantes no mesmo período.
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Este foi o maior número de crianças fora da escola desde 2015. No último censo, 1% de todas as crianças e adolescentes dessa faixa etária no país não estavam matriculadas em nenhum tipo de ensino, o que leva a um total de 244 mil crianças fora da escola. No ano que precedeu a pandemia o número era quase três vezes menor, sendo 0,3% ou 90 mil ausentes das escolas.
Para a pedagoga Anna Vieira, este acréscimo no abandono escolar se deu “porque crianças mais pobres não tinham condições de acesso ao ensino à distância e muitas delas tiveram que assumir o papel de irmão cuidador nas famílias”.
O levantamento produzido com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) ainda mostrou tendência na queda de jovens de 15 a 17 anos que não frequentam o Ensino Médio nem terminaram a etapa. Em 2019, cerca 7% destes adolescentes não frequentavam a escola e, de acordo com a última pesquisa, este número caiu para 4,4%.
A mesma pesquisa também mostra que aconteceu um aumento de 125% de pessoas dessas idades matriculadas na Alfabetização de Jovens e Adultos, o que leva a um total de 18,9 mil matriculados, número nunca antes registrado. Para Vieira, “isso ocorre devido a uma defasagem muito grande no ensino regular dos últimos anos por conta da crise sanitária”.
O estudo mostra ainda que, em 2021, o número de crianças de 6 a 14 anos matriculadas no Ensino Fundamental ou Médio foi o menor desde 2012 com 96,2% de adesão. Em 2019, esse número chegava a 98%, índice mais alto da história.
Na contramão dos mais novos, os dados de frequência à escola dos jovens de 15 a 17 anos aumentou de 87,7% em 2019 para 91,3% em 2021. Este acréscimo resultou no maior número percentual dessa faixa etária na escola, no entanto, isso se deve também a um alto aumento desses adolescentes no Ensino Fundamental. Até 2019, 17,5% destes jovens estavam matriculados até o nono ano e, em 2021, este número passou para quase 19,2%.
Mãe de jovem que se matriculou no primeiro ano do Ensino Médio em 2020, Rosangela Freitas, diz que o filho reprovou porque não tinha muitas condições e nem interesse em acompanhar as aulas. “A internet aqui em casa não é boa e ele sempre ficava dormindo. Ele dizia que via as aulas, mas eu sei que ele passava a manhã dormindo porque o irmão dele me disse que viu uma vez”, contou. Nesses termos, ela relata que considerou melhor que o garoto procurasse emprego ao invés de insistir na escola “se ele não tava nem aí”.
Márcio Feitas foi empregado como ajudante na mercearia que fica perto de casa e conta que ainda quer voltar a estudar, “mas vou esperar até o ano que vem para fazer supletivo. Também não quero voltar pra escola com a idade que eu tenho hoje e prefiro ajudar nas contas de casa”, complementa.
Márcio Freitas organizando produtos no mercadinho onde trabalha no Varjão
Agora com 18 anos, o jovem diz que sonha em ser concursado para dar melhores condições de vida para a mãe, que trabalha seis vezes por semana como diarista.
Procurado para informar como planeja amenizar essa alta de crianças e jovens que saíram da escola devido à pandemia de Covid-19, o Ministério da Educação não se manifestou.
Por Lucas Fermon