O bullying sozinho não causa transtorno mental, explica psicóloga

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

O episódio na escola particular em Goiânia, no dia 20 de outubro, em que um adolescente atirou em sala de aula com uma arma de fogo e matou dois colegas, foi atribuído a ele ser vítima constante de bullying.  A tragédia trouxe à tona as consequências desse tipo de violência. Segundo a psicóloga Raquel Manzini, essas agressões verbais, físicas ou simbólicas não podem ser tomadas como causa isolada de transtornos mentais que levem a práticas de violência. Ela explica que essas atitudes, por si só, não são o bastante para justificar um assassinato ou transtorno mental, por exemplo. “Um fato isolado não causa transtorno mental”, explica.

“Ele (o ‘bullying’) é apenas um dos fatores”, afirma. Segundo a especialista, um ato de violência tomado por uma criança ou adolescente, geralmente, é desencadeado por um conjunto de fatores como depressão, problemas familiares, estresse, dentre outros. “O bullying vira gatilho quando a pessoa já vive vários fatores. Ele sozinho não causa nada”, explica.

Outra crítica da psicóloga: o assunto é tratado, muita vezes, de forma irresponsável pela televisão e outras mídias. Segundo ela, o “bullying” é muitas vezes visto como brincadeira e isso tira a seriedade e a problemática da prática das agressões. “[O ‘bullying’ é visto como brincadeira na TV”, salientou.

Registrar as brincadeiras hostis e conversar com os alunos a respeito é uma ação importantíssima de responsabilidade das escolas, segundo Raquel. “A escola tem que observar o tempo inteiro. Com os professores, os funcionários e os próprios alunos”, acrescenta. Além disso, ela explica que quando frases que contém ameaças de morte ou conteúdo depressivo são proferidas pelas crianças, isso não deve ser tomado como bobagem.

Na escola

A Secretaria de Educação do Distrito Federal afirma que possui um projeto para dar suporte aos profissionais da educação, aos estudantes e aos pais, popularizando o conhecimento e diminuindo práticas excludentes. O projeto, chamado de Programa de Combate à Intimidação Sistemática, induz atividades educativas e é disponibilizado em todo o território nacional, desenvolvido de acordo com a legislação federal que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying).

Já a Secretaria de Saúde disponibiliza atendimento nos Centros de atenção Psicossocial (CAPS), no Centro de Orientação Médico Psicopedagógica (Compp) e também nas unidades da rede, onde o primeiro atendimento é feito no Centro de Saúde mais próximo da residência do paciente.

O Conselho Regional de Psicologia (CRP) explica que o “bullying” desencadeia diversas alterações emocionais.” É uma violência, e em toda essa, não possibilita o diálogo, a defesa, gerando adoecimento psíquico quais seja, depressão, ansiedade, agressividade, dentre outros”, afirmam. Porém, eles acrescentam que é necessário fazer uma leitura mais contextualizada. “Precisamos compreender que o bullying é algo nefasto que corrói o desenvolvimento de uma criança ou jovem com prejuízos severos”, alertam.  

“A tristeza é maior”

A estudante Vitória Alessandra Brígida, 15 anos, que mora e estuda na Ceilância, sofre com brincadeiras que a deixam muito triste. Ela tem lábio leporino e fenda palatina, que são divisões nos lábios superiores e aberturas no céu da boca, que dificultam a fala e afetam a autoestima. Por isso, virou motivo de “brincadeiras” constantes na escola e na rua.

A adolescente sofre com o constrangimento que as intimidações causam. A atitude deixa-a insegura de atender o telefone, fazer novas amizades e gravar mensagens de áudio “Eu fico paranóica, encontrar alguém que me chacota me faz pensar que tudo vai voltar a acontecer e o constrangimento vai ser em público”, afirmou.

Vitória afirma que os professores veem a prática e não tomam providência. Quando a situação fica mais séria, ela recorre à direção da escola, mas a resposta é de que a ação é decorrente da adolescência. “Eu tenho raiva de quem faz isso, mas a tristeza é maior”, explicou.

Por Bruno Santa Rita e Júlia Fagundes

Foto: Pixabay / Domínio 

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress