Estudo da Codeplan indicou a região administrativa como o maior índice de analfabetismo no DF
Pesquisa realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) neste ano informou que por volta de 35% das mulheres são responsáveis pela renda familiar. Entre elas 22% também são analfabetas. A região administrativa tem a taxa de analfabetismo mais alta do DF. A pesquisa colocou em números a realidade de uma a cada cinco mulheres. Um exemplo de Raimunda (foto), de 45 anos, que perdeu marido cedo e passou a se dedicar ao trabalho. Deixou o estudo de lado pela sobrevivência dela e dos quatro filhos. “Sou o homem e a mulher na minha casa”, explicou.
Outro exemplo é a aposentada Ionis Zifino Pereira, de 63 anos, Ela veio do nordeste para DF com três filhos pequenos. A aposentada conta que o marido não queria que ela trabalhasse, mas estava desempregado há muito tempo, ela teve que procurar uma ocupação sem que ele soubesse. “Trabalhei 19 anos lá na mesma empresa. Só parei quando enfartei […] E se não tivesse enfartado, estava aí”, contou.
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A aposentada disse que fez até a quarta série do ensino fundamental, que lê, escreve e faz conta. Mas que fica só no básico. Os filhos de Ionis também não completaram os estudos. Segundo a aposentada, as meninas fizeram até a sétima série e o menino chegou a terminar o terceiro ano do ensino médio. Assim como ela, a proprietária de uma barraca de alimentos na feira do Paranoá, Jesuíta de Jesus, disse que também só tem a primeira parcela do ensino fundamental. Ela disse que sustentou a filha sozinha. De acordo com a feirante, ela trabalhou mais para que a filha pudesse estudar em ensino superior. “Tinham dias que eu não tinha nem o dinheiro para por ela para lanchar. Ela tinha que levar biscoito de água e sal para a faculdade, porque o dinheiro que dava só dava para pagar a faculdade, os livros e os complementos”, contou Jesuíta.
Auxiliar do lar há 13 anos, Rosângela Maria Araújo já faz uma dupla tarefa. Ela passa das 8h até as 18h em uma casa de família, mas a noite trabalha também em um supermercado. O segundo período de trabalho começa às 21h e só encerra às 5h. Ela divide o sono nos períodos em que está dentro do ônibus. “Trabalho em dobro para que a minha filha tenha o que eu não tive”, confessou a trabalhadora. Rosângela alega que faltou parte do estudo para ela, mas não quer que a filha passe pelo mesmo. Ela ressaltou que já cumpre a dupla jornada há três anos e deve fazer por mais dois, até que a caçula siga os passos da mais velha e termine os estudos de enfermagem.
Cansada e sem letras
Raimunda já trabalhou em casa de família, mas hoje é também dona de um estabelecimento na feira do Paranoá. A trabalhadora disse que não tinha escolaridade, não lia bem, nem escrevia. Entretanto, Raimunda disse que participou da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e concluiu o que vale para o segundo grau do ensino médio. A feirante disse que já teve vontade de concluir o EJA. Segundo ela, o projeto ensinou muito a trabalhadora. Entretanto, ela alegou estar cansada e como as aulas são no período noturno, ela ressaltou que está cansada. Assim como as outras mulheres, dona Raimunda investe na educação dos filhos, um deles é estudante de engenharia.
A pesquisa da Codeplan também informou que a renda mensal dessas mulheres é em geral inferior a R$ 2 mil. No estudo feito, apenas 3% das mulheres na Região Administrativa do Paranoá têm o ensino superior completo. Em nenhum caso, há um mestrado ou um doutorado. Em janeiro do ano, a Unesco divulgou uma pesquisa que mostra a dificuldade de pessoas analfabetas em conseguirem emprego. Entretanto, o estudo disse que a situação no DF é diferente, já que com taxa de analfabetismo pequena havia altos índices de desemprego.
A Secretaria de Educação informou que a situação é desafiadora, já que as mulheres, em muitos os casos, também cumprem os serviços domésticos e informa ter estratégias para permanecer com o aluno dentro da sala de aula.
Por Jade Abreu – Agência de Notícias UniCEUB