Godofredo Gonçalves arrumou as coisas, deixou Goiânia e veio para Brasília aos 19 anos. Dentro da mala, carregava o sonho de querer fazer um curso superior, apesar de não ter nenhuma condição financeira. Foi estudando em universidade pública que construiu e alcançou todos os seus objetivos. Formou-se e virou professor e empresário. Por ter tido essa oportunidade, colocou na cabeça que daria essa chance a outros que também não conseguem pagar pela educação, mas que precisam de estudar para realizar suas metas. “Eu, sendo um professor, posso dar oportunidade para essas pessoas”, diz. Então, ao ver a quantidade de pessoas que queriam passar em concursos públicos, e os preços que são cobrados nesses cursinhos, além do material de estudo, resolveu fazer algo inovador e solidário: um cursinho preparatório gratuito para concursos públicos.
As expectativas de Godofredo eram pequenas, mas as aulas cresceram tanto que, hoje, contam com 480 alunos, lista de espera para as próximas turmas e 178 alunos aprovados em concursos. “É uma grande satisfação ver as pessoas alcançando o sonho delas por meio da educação. Eu sou a prova viva que a educação muda a vida de uma pessoa”, afirma o professor.
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O cursinho solidário só se tornou realidade graças aos amigos de Godofredo que o ajudaram na realização do projeto. Em cada lugar, ele tem uma parceria com alguém que cede o espaço para dar aulas. Hoje, o cursinho já chegou em Planaltina, Ceilândia e Samambaia. Todo o material é doado, tanto pelos alunos, que levam coisas como papel higiênico, quanto pelos professores. As cadeiras foram doadas pelo próprio empresário, e os professores que dão aula são voluntários. Para Godofredo, todos estão colaborando para manter o ambiente agradável. “A gente está conseguindo oferecer aulas tão boas e ambientes tão bons quanto os melhores cursinhos de Brasília”, conta.
Mas ele considera que a profissão ainda é desvalorizada no país. “Não há valorização dos professores como eu penso que deveria haver. De colocar a mudança do país nas mãos de quem realmente consegue fazer essa mudança”, diz. Além disso, coloca a docência como uma das profissões mais importantes por atuar diretamente na construção de todas as outras. “O que eu acho mais legal é passar algo para uma pessoa que ninguém vai tirar dela. E ela, sabendo utilizar aquilo, vai saber construir seu caminho, seu futuro”, garante.
Ainda assim, ele acredita que vale a pena. A sensação de ajudar as pessoas é de dever cumprido e o retorno é apenas o agradecimento. Para o professor, a magia da profissão está em doar o conhecimento e o cursinho é o meio de participar da construção do futuro de outras pessoas. “A gente não vê isso como uma questão de dar oportunidade, elas estão agarrando a oportunidade”, completa.
Por Deborah Fortuna
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