O bancário Luérgio de Sousa, de 35 anos, trabalha como assistente administrativo e produtor cultural.
Depois de fazer uma cirurgia que o deixou com imunidade baixa e contrair meningite, ele perdeu a audição dos dois ouvidos.
Ele cresceu como surdo oralizado e, com 13 anos, conheceu a língua brasileira de sinais, o seu idioma preferido.
Segundo os dados mais recentes específicos sobre o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras), cerca de 284,1 mil das 10,7 milhões das pessoas surdas no Brasil declararam saber e utilizar Libras.
Sousa afirma que nunca sofreu preconceito por usar libras.
“Ao contrário, todos se sentem motivados a aprender libras”, afirma.
O mais comum que ele sofre é a exclusão por ser surdo.
Ele entende que, quando as pessoas percebem que ele é surdo, acabam excluindo do círculo social de amigos.
O local que Luérgio mais sofre com a falta de comunicação em Libras é o hospital.
“Muitos surdos adoecem ainda mais por tomarem remédio errado por conta da falha de comunicação do médico que não sabe lidar com público surdo”, afirmou.
Exclusão
Orleans Martins, 38 anos, trabalha como contador responsável pelo almoxarifado. Ele nasceu surdo, já que a mãe, quando estava grávida, pegou rubéola.
Assim como o Luérgio, também sente falta de comunicação de libras em vários lugares além de hospital como por exemplo na blitz, no posto de gasolina, no trabalho…
“As pessoas pensam que sou obrigado a oralizar português falado, mas por que eles também não se esforçam para aprender em libras?”.
Orleans comenta que, além de sofrer esse obstáculo, também tem o fato de o médico escrever num papel para se comunicar com ele.
Muitas vezes, tem dificuldade de entender a letra do médico, que, além disso, fica o tempo todo com a máscara impedindo que se faça a leitura labial.
Apesar do uso da libras, ainda ser mínimo entre os brasileiros, existem pessoas que procuram se profissionalizar na área para agregar no cotidiano de pessoas surdas.
Intérprete
Alisson Medeiros, intérprete de libras de 30 anos, afirma que escolheu se capacitar na área pelas anomalias presentes na comunicação entre pessoas surdas e pessoas ouvintes.
“Muitas barreiras podem ser colocadas para uma pessoa que é deficiente auditiva por conta de informações que elas não recebem, […] por esse motivo, estou me especializando.”
Ele acrescenta que, mesmo atuando há três anos na área, ainda percebe a necessidade de mudanças para aprimorar o uso da língua.
Além da falta de valorização quanto à remuneração dos intérpretes, ele destaca que a ausência desses profissionais em diversos espaços ainda representa um fator prejudicial.
“Em alguns eventos pequenos ou em lugares públicos como hospitais, delegacias, fóruns, cartórios, não tem uma pessoa especializada para estar fazendo a comunicação com a pessoa surda.”
Além disso, enxerga que a presença de pessoas surdas também é um fator essencial para contribuir com o trabalho dos intérpretes.
“Ter uma pessoa surda, que tem a língua de sinais como primeira língua, trabalhando com a equipe da acessibilidade, para saber como está sendo o posicionamento do intérprete, a sua comunicação, a passagem das informações é muito importante.”
O profissional, que também possui experiência na interpretação de livros, acredita que, apesar das barreiras existentes e do constante avanço tecnológico nos métodos de comunicação, a profissão de intérprete de LIBRAS poderá passar por mudanças ao longo do tempo, mas continuará a existir, independentemente das transformações nos meios de comunicação.
Por Ludmilla Oliveira e Natalia Francescutti
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira