Tenista, campeã Rejane trabalha em escola

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

Rejane Cândida da Silva foi a primeira mulher do país a competir no tênis de cadeira de roda. Nascida em 1976, ela teve poliomielite aos cinco anos de idade e ficou paraplégica. Apesar das limitações, teve uma infância normal, frequentou escolas comuns e teve total apoio dos pais e dos cinco irmãos para realizar as atividades da forma mais natural possível.

Com 11 anos de carreira, Rejane encontrou no tênis com cadeiras de roda mais do que uma atividade física e sim, uma profissão. Hoje ela trabalha em uma escola particular como auxiliar de educação física e mescla as obrigações como atleta. Ela treina duas vezes por semana em quadra no período da tarde e nos outros dias, preparação física em academia. Para Rejane, o esporte contribuiu muito para a saúde e bem-estar dela. “Hoje o esporte é tudo na minha vida, me ajudou a ter uma qualidade de vida melhor, administrar as fortes dores e manter o corpo ativo”.

Apesar dos 11 anos de carreira, a atleta critica a diferente forma de tratamento entre esportistas olímpicos e paralímpicos. Para ela, o termo superação é uma qualidade que não se aplica apenas para competidores deficientes e essa visão deve ser desvinculada como forma única de vitória para a categoria. “Infelizmente a nossa cultura é muito diferente da galera lá de fora, aqui ainda se bate muito na tecla da superação, o atleta paraolímpico hoje ainda não é visto exatamente como um atleta, só enxergam a nossa deficiência”

IMG_6680
Rejane conquistou 2ª medalha de ouro no Parapan de Toronto deste ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Complicações

Para a atleta, a falta de visibilidade das competições e conquistas da categoria tornam a aquisição de patrocínios e apoios muito mais complicada. Ela acredita que este seja o maior problema que o seguimento enfrenta na atualidade e que apenas competindo em um evento internacional para mudar essa realidade. “Falta patrocinador porque o patrocinador sabe que conosco não conseguirá tanta visibilidade. Hoje tenho a bolsa atleta do governo federal e é só isso que eu tenho”.

Os problemas para ser notada no meio paraolímpico têm relação, segundo ela, com culpa da mídia, tanto nas divulgações quanto nas coberturas esportivas. A atleta contou que é muito raro assistir às transmissões de alguns desses eventos na televisão e, na maioria das vezes, divulgam apenas o resultado no rodapé da televisão. “Amigos e parentes meus mandavam mensagens pra mim indignados. Eles ligavam a televisão, a emissora colocava na programação que passaria algo do Parapan, mas quando mudavam de canal, estava passando reprise de um jogo de basquete ou a Série B do Campeonato Brasileiro”.

Rejane não parou por aí, a atleta mencionou um outro pais da américa do sul que, na visão dela e de vários outros atletas paralímpicos brasileiros, seria uma forma adequada de tratamento com os competidores. “Tenho uma comparação bem simples para dar, nosso vizinho Chile, quando um atleta medalhista volta ao pais após uma conquista, não recebe apenas palavras de incentivo. São oferecidas bolsas, é reconhecido financeiramente, coisas que servem para melhorar nosso desempenho”.

//////////////

O título, um detalhe da história

Com mais de uma década no esporte, Rejane já viajou para cinco mundiais, está na seleção brasileira desde 2006 e conquistou na última edição dos jogos Parapan Americanos a segunda medalha na competição. Hoje com 39 anos, Rejane quer seguir conquistando outros títulos, mas principalmente, um espaço mais justo para ela e para todos os atletas da categoria. “Vou continuar lutando por isso, queremos deixar de ver o atleta paralímpico como superação, queremos ser vistos como atletas”.

Por Felipe Oliveira

Fotos: Arquivo Pessoal

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress