Impunidade abastece violência de torcidas, explica pesquisadora

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Os maiores campeões de Brasília, Gama e Brasiliense, voltam a se enfrentar após oito anos em uma final. Os dois times estão classificados para a decisão do Campeonato Brasiliense de Futebol 2019. A primeira partida está marcada para este sábado (13/04).  Torcedores entrevistados afirmaram que preferem não comparecer ao estádio na disputa com medo da violência entre as torcidas organizadas. Para a professora Tânia Siqueira Montoro, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de Brasília (UnB), o que fomenta as brigas entre os adeptos dos clubes é a impunidade dos crimes e a falta de políticas públicas para punir exemplarmente os criminosos. “A sociedade precisa começar a discutir isso de forma mais eficaz, não pode ficar apenas para os policiais”, afirmou.

Em 2017, os dois clubes do DF foram punidos devido a uma briga entre torcedores e jogadores dos times durante uma disputa no Estádio Bezerrão. O Gama foi advertido com a pena de cinco mandos de campo e multa de R$ 33 mil pela falta de segurança no jogo. O Brasiliense recebeu R$ 11 mil de multa, e os jogadores de ambos os times também foram punidos pela confusão. A sentença foi proferida pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal.

Mas as penalidades não foram suficientes para acalmar os ânimos das torcidas. Em 2018, após uma partida entre Gama e Fortaleza, uma briga tomou conta das ruas do Gama. Torcedores do Brasiliense compareceram ao estádio para apoiar os visitantes e, após a partida, ocorreu um confronto entre as duas torcidas. Apoiadores das torcidas chegaram a ser espancados e provocaram até acidentes de trânsito durante os atos de violência quando um dos animadores foi atropelado.

Foucault e a imprensa

Segundo a professora Tânia Montoro, as brigas de torcida organizada não são exclusivas do Brasil, elas existem no mundo todo e são uma prática exclusivamente masculina. De acordo com ela, o costume é de natureza autoritária e classificada como uma violência difusa, ou seja, quando um dos torcedores começam os outros integrantes vão atrás sem medir as consequências. “As torcidas apesar de serem organizadas, são desorganizadas nesse sentido. (O autor Michel) Foucault classificaria como situações desestruturantes que vem crescendo”, explicou.

A especialista avalia que os bares precisam tomar providência perante as situações de violência das torcidas, como pausar a transmissão dos jogos, por exemplo. A  imprensa também precisa ser mais cautelosa ao anunciar as partidas e dar voz aos torcedores, para evitar o fomento da rixa entre os grupos. “Os times, principalmente, também precisam estar em alerta. Para esses casos é necessário tomar medidas muito sérias, pois os problemas atingem toda a sociedade em volta”, concluiu.

Forte esquema de segurança

Em nota, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), informou que são esperadas 10 mil pessoas no jogo, de acordo com a estimativa dos organizadores. A partida começa às 16h e os portões serão abertos a partir das 14h. As torcidas serão separadas por questões de segurança. As organizadas chegarão ao estádio escoltadas e terão portões de acesso exclusivo. Após a partida, só poderão sair do Mané Garrincha após a dispersão do público. 150 seguranças privados reforçarão o esquema de proteção no interior do estádio.

Violência pelo Brasil

Neste mês, outros dois casos de violência de torcidas chamaram a atenção do país. O primeiro ocorreu quando torcedores de Flamengo e Peñarol entraram em conflito nas ruas do Rio de Janeiro, próximo ao hotel onde a delegação da equipe uruguaia estava hospedada. Cerca de 100 torcedores uruguaios foram detidos e não puderam comparecer ao Maracanã na partida disputada no dia 3.

Outro caso marcante foi o do apedrejamento ao ônibus em que se encontrava a delegação do Palmeiras na noite do dia 10. A equipe chegava ao estádio para a partida pela Libertadores contra o Junior Barranquilla, quando foi surpreendida por pedras arremessadas pelos próprios torcedores. Ninguém ficou ferido. Além do episódio, os muros do Centro de Treinamento foram pichados com protesto contra jogadores, diretoria e patrocinadores. Esses atos fazem parte da retaliação pela eliminação do time nas semifinais do Campeonato Paulista de Futebol.

Por Marília Sena e Vinícius Heck

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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