De um garoto com pernas deformadas e doenças na infância ao pódio olímpico e mundial, Caio Bonfim se consolidou como o maior medalhista brasileiro em Mundiais de Atletismo.
Confira entrevista com o atleta e com a mãe dele, a ex-atleta Gianetti Bonfim
No último sábado (20/9), o marchador brasiliense conquistou seu primeiro ouro no campeonato mundial, realizado em Tóquio, e reafirmou seu nome no topo do atletismo brasileiro e mundial.
Caio nasceu em Sobradinho (DF), em 1991. No entanto, ainda pequeno, enfrentou hepatite, meningite e intolerância à lactose. A dificuldade para absorver cálcio afetou seus ossos e deformou suas pernas. Ele chegou a escutar dos médicos que o esporte não faria parte de sua vida.
“O médico me disse que a única coisa do meio esportivo que eu poderia ser era jogador de dominó. Isso se eu soubesse contar até sete”, relembrou em entrevista à Agência Ceub.
Apesar do diagnóstico desanimador, uma cirurgia corrigiu suas pernas e abriu espaço para que ele pudesse correr atrás de um sonho. O ouro conquistado em Tóquio coroou mais de duas décadas de treinos e superação.

Herança familiar
O esporte sempre esteve presente em sua casa. O esporte sempre esteve presente na vida de Caio. Isso porque ele é filho de Gianetti Sena, que foi marchadora e campeã brasileira, e de João Sena, um técnico de atletismo. Por causa disso, Caio cresceu nas pistas do atletismo.
“Toda vez que minha mãe ia marchar, eu brincava muito com ela e sabia fazer a técnica. E meu pai me dizia: ‘Sua forma física é boa. Se você encaixar isso com a técnica que tem, dá para brincar’”, contou.
Aos 16 anos, ele largou o futebol e decidiu focar na marcha atlética. Dessa forma, pouco tempo depois, ele já estava vestindo a camisa da Seleção Brasileira em competições internacionais.
Preconceito e reconhecimento
Caio encontrou desafios em seus treinos, pois o esporte que ele praticava não era muito popular. Dessa forma, mesmo sendo talentoso, ele teve que lidar com xingamentos e preconceitos. A rotina exigia, além da preparação física, um forte preparo mental.
‘’Nesses nove anos de carreira, não teve nenhum dia em que sai na rua e não fui xingado.’’ Desabafou após um campeonato no Rio de Janeiro.
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No entanto, após as conquistas, Caio deixou de ser visto com preconceitos e passou a ser referência para o esporte do país.
“Agora, já me sinto abraçado pela cidade. Brinco que o som da buzina mudou, já que agora ela vem seguida de elogios e incentivos como ‘Vai campeão!’ e ‘Leva essa medalha para a gente’. É muito bom quando isso acontece em meio a um treino debaixo de um forte sol. A maior medalha que ganhei nas Olimpíadas foi poder mudar a cultura de uma sociedade”, disse em entrevista à Agência CEUB.
Consagração mundial
As conquistas vieram cedo. Logo aos 24 anos, ele conquistou sua primeira medalha da carreira profissional durante o Pan-americano em 2015. Na ocasião, ele saiu com o bronze na prova de 20km.
Nos anos seguintes, sua carreira apenas melhorou: foram mais 3 pódios em jogos Pam-Americanos, 1 medalha de prata nas olimpíadas de 2024 e quatro medalhas em mundiais de atletismo. A mais recente veio no último sábado (20/9), quando conquistou seu primeiro ouro da carreria no Mundial de Tóquio.
No entanto, Caio afirmou que até chegar nas conquistas, a estrada é “longa e solitária” e depende da “garra e vontade” para alcançar o alto nível.
“Até que se consiga alguma conquista a estrada é longa e solitária, o atleta tem que ir pela garra, pela vontade e muitos se perdem no caminho por falta de condição”, disse.
Inspiração para futuras gerações
Para Caio, a marcha atlética não é só sobre medalhas. Na verdade, é sobre mostrar que dá para superar desafios que parecem impossíveis. Além disso, ele acredita que o valor de um atleta começa com o reconhecimento das pessoas que estão ao seu lado.
“O atleta não pratica esporte por dinheiro, o que ele gosta é a valorização. E eu tenho sorte porque tenho o reconhecimento de quem eu, de fato, gostaria de ter”, afirmou à Agência Ceub.
O brasiliense também enxerga sua trajetória como uma forma de incentivar jovens atletas do país.
“Quando você acredita no que faz e mantém a perseverança, é possível transformar obstáculos em vitórias. E é isso que eu quero passar para as novas gerações”, completou.
Por Mateus Péres, Madu Suhet e Maju Rocha
Com reportagens de repórteres da Agência Ceub
Imagens de Pedro Santana, Ricardo Ribeiro, Vinícius Heck e Lucas Junqueira
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira