Nº 1 da corrida de cadeira de rodas sem recurso

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Atual número 1 no ranking da corrida de cadeira de rodas, campeão por 15 anos seguidos, o brasiliense Wendel Silva Soares não estará nas Paralimpíadas do ano que vem. Ele diz que não conseguirá o índice para disputar o evento por não ter recursos para compra dos equipamentos necessários. Ele é imbatível no país nas categorias de 1500, 5 mil e 10 mil metros, mas só recebe R$ 925 por mês do Bolsa Atleta.

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Wendel é um exemplo de atleta que perseguiu o sonho. Ele teve uma infância conturbada. Com quase dois anos de idade, foi diagnosticado paralisia infantil. Por falta de informações, a mãe não o deixou utilizar o aparelho recomendado para as pernas. Por esse motivo, ele passou toda a infância brincando no quintal de casa e sem poder sair para a rua. A dificuldade afetou o desempenho , também, na escola.

“Na época da escola, minha mãe me levava e buscava, então para eu ir ao banheiro durante o horário da escola era complicado e eu tive uma infância bem conturbada em relação a isso”, disse. Os estudos foram em escola normal e, por esse motivo, a sua relação com os colegas não era fácil. “As crianças, também por não entender, implicavam bastante comigo, eu sofri bastante bullying”, relatou.

A situação só mudou aos 15 anos quando, por iniciativa própria, Wendel procurou o hospital Sarah kubitschek. “Eu tive dificuldade até essa idade onde, a partir da minha própria iniciativa, fui ao Sarah e me passaram uma bengala canadense. A partir daí, comecei a viver melhor com isso”

wendel 2A dificuldade do esporte

Não é de hoje que a dificuldade está presente no para esporte. Na corrida de cadeira de rodas, o piloto não é o único diferencial. “Hoje, na minha prova de atletismo em cadeira de rodas, não adianta ser um bom atleta se você não tem uma boa equipe para te dar um apoio e se você não tem um equipamento bom, uma cadeira boa”, comentou.

A compra do equipamento se torna inviável para muitos atletas. “Hoje um equipamento para você correr, uma das melhores cadeiras, com uma roda especifica para você fazer a prova, não sai por menos de R$ 30 mil. Então isso, para muitas pessoas, é inviável”. A preocupação não fica só por conta do equipamento. “E não é só isso tem toda uma parte por trás, todo um aparato, alimentação, nutrição, fisioterapia, parte médica, e de você não estar preocupado com mais nada e só focar no esporte“, constatou.

O campeão acrescenta que a melhor época da carreira foi quando teve um patrocínio. “Na época, em que eu tive esse patrocínio, eu não precisava me preocupar em trabalhar por fora, eu me preocupava exclusivamente com o esporte, foi onde eu consegui minhas melhores marcas”, confirmou. Porém, esse foi um curto período. “Pena que não durou muito tempo, foi muito rápido essa ajuda que eu tive. Infelizmente a associação não pode arcar com os custos e nos não tivemos mais esse apoio.”

A rotina de campeão

Wendel tem uma rotina de treino incrível, a fim de alcançar o sonho das olimpíadas. “A minha rotina hoje é diária, treino duas vezes por dia, de manhã e à tarde, sete vezes na semana, só tem descanso quando tem corrida, então a gente acaba não descansando”, relatou.

wendel 3Apesar de tantos títulos, ele afirma que o esporte não lhe garante toda a renda necessária. “Sempre tive que trabalhar porque, infelizmente, o esporte ainda não consegue suprir todas as necessidades, então sempre trabalhei na área da informática, trabalhei muito tempo em escola, fui coordenador e administrador de empresas por algum tempo e meu ultimo emprego foi gestor de matriculas”, completou.

Da prata no Pan na natação ao titulo Brasileiro de Atletismo

Silva, aos dezoito anos, começou a trabalhar na Politech informática. Esse foi o ponto de partida para o esporte. Ele foi aconselhado por um colega de trabalho a procurar o Centro de Treinamento de Educação Física Especial (CETEFE). “Eu procurei esse centro esportivo, fiz um teste na natação, já nadava muito bem, só afinaram algumas coisas”. Os frutos vieram rápido, três meses depois. “Com três meses de treinamento, eu fiz um campeonato regional, onde fui campeão e já fui convocado para o pan-americano de 1999, onde eu consegui duas medalhas de prata”. Mesmo conquistando importe marcas e medalhas, a natação não era unanimidade na vida dele. “Só que a menina dos olhos sempre estava voltada para o atletismo porque eu via os meninos correndo e achava muito interessante, talvez pela infância um pouco complicada, eu não tive oportunidade de andar de bicicleta e eu gostava muito daquela questão da velocidade.”

Hoje, Wendel é um dos principais nomes do atletismo, tendo diversos títulos e marcas importantes na carreira. “No atletismo pouco tempo depois, já consegui grandes marcas, onde hoje eu sou campeão brasileiro há mais de 15 anos, já sou recordista em várias provas no Brasil onde até hoje ninguém conseguiu quebrar os meus tempos ainda”, informou. Apesar disso, ainda busca o sonho olímpico “Campeão Brasileiro com várias marcas, já participei de várias provas internacionais, vários mundiais, pan-americanos, só nunca consegui ir para uma paraolimpíada, ainda não, mas quem sabe no futuro, nem que não seja no atletismo, seja em outra modalidade”, avisou.

Para ele, o esporte vai além da inclusão. “O esporte, para mim, é responsável pela formação, a disciplina que o esporte traz na vida da pessoa e a formação de caráter também. Hoje, fala-se muito em inclusão, mas o esporte já vem fazendo esse papel há muito anos, resgatando pessoas com algum tipo de deficiência”, relatou. O atleta afirma que a limitação não é física. “O limite não esta no corpo, o limite está na mente. O esporte, para mim hoje, é um meio de vida, é saúde, para mim, é interação, é uma pagina muito importante na minha vida que eu ainda não virei”, alegou.

Por Gabriel Lima

Com produção de Henrique Kotnik

Fotos: Arquivo pessoal

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