Após a reforma do Mané Garrincha (capacidade para mais de 70 mil pessoas), notícias de jogos de futebol não estão apenas nos assuntos esportivos, mas também nas páginas policiais. Mesmo com média baixa de público, é comum histórias de violência entre torcidas organizadas.
Em março de 2015, um jovem foi morto com pelo menos três tiros, em uma escola de Taguatinga. De acordo com informações da Polícia Civil, a motivação do crime foi uma briga entre torcidas organizadas. A vítima começou uma discussão, que terminou quando um homem entrou na escola e disparou contra o estudante.
Em fevereiro de 2016, no Guará, torcedores de Gama e Brasiliense (7.247 pagantes) foram levados para a 4ª Delegacia de Polícia após começarem a trocar agressões. Um deles sofreu um corte na mão e foi levado para o Hospital.
O caso mais emblemático e recente foi a pancadaria no clássico do dia 12 de março deste ano. O jogo entre Gama e Brasiliense corria bem até que, aos 40 minutos do segundo tempo, dois jogadores se desentenderam, dando início a uma briga generalizada que se estendeu às arquibancadas. Torcedores das organizadas de ambas as equipes, Facção Brasiliense e Ira Jovem do Gama, invadiram o gramado, o que intensificou a confusão. Como resultado do ocorrido os dois clubes foram punidos com multa e o estádio onde a partida acontecia, o Bezerrão, havia sido interditado, mas Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal (TJD-DF) revogou a decisão.
“Penas brandas”
Mesmo com a adoção de novas políticas como a criação do Estatuto do Torcedor, em 2003, as tentativas de reduzir os incidentes não têm sido muito efetivas. Punições, multas, jogos com torcidas únicas, perda do mando de campo e suspensões parecem não surtir efeito nos clubes e nos torcedores. Segundo o advogado Ricardo Silva Barreto, especialista em Direito Desportivo, as penas são brandas e os casos ainda são corriqueiros por falta de competência das instituições responsáveis.
“Não há uma fiscalização efetiva por parte do Poder Público. Caso o Estado fosse competente em fiscalizar e punir os infratores os índices de violência iriam ser reduzidos drasticamente, basta ver o que a Inglaterra fez em meados dos anos 80/90 com os Hooligans. Cabe ao Brasil, além de aplicar as leis públicas, aplicar aos clubes e federações punições em caso de prejuízo causado por suas torcidas a fim de que a Justiça Desportiva seja atuante com o Poder Público no combate aos crimes de motivação esportiva”.
Para o sociólogo Edi Alves de Oliveira, doutorando da Universidade de Brasília, o que levou à “marginalização” das torcidas e tornou acontecimentos deste tipo rotineiro no Brasil foi consequência da negligência dos órgãos públicos nas décadas de 80 e 90.
“O estado não deu a atenção que deveria ter dado a estes casos, permitindo o surgimento de atividades ilegais dentro destas torcidas, como tráfico de drogas, armas, pirataria, lavagem de dinheiro, dentre outros. Isso acabou por preencher as torcidas organizadas com indivíduos criminosos, com armamentos e com uma estrutura organizacional direcionada para alguns confrontos com outras torcidas organizadas.”
Confira os cinco maiores públicos de jogos envolvendo equipes do DF (2016-2017):
- Gama x Brasiliense 12/03/2017: 7247 pagantes
- Gama x Taguatinga 05/02/2017: 3.821 pagantes;
- Santa Maria x Gama 11/02/2017: 2.488 pagantes;
- Brasília x Vila Nova (GO) 18/02/2016: 1.808 pagantes;
- Gama x Luziânia (GO) 08/03/2017: 1916 pagantes.
Confira os cinco menores públicos de jogos envolvendo equipes do DF (2016-2017):
- Taguatinga x Planaltina (GO) 21/02/2016: 32 pagantes;
- Paranoá x Real 22/02/2017: 38 pagantes;
- Brasília x Formosa (GO) 08/03/2017: 71 pagantes;
- Ceilândia x Santa Maria 15/03/2017: 108 pagantes;
- Brasília x Luziânia (GO) 12/03/2017: 150 pagantes.
Por Ana Karolline Rodrigues e Victor Fuzeira.
Colaboraram: George Ribeiro e Diego Veiga