Especialistas explicam riscos de jogos às 11h

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A decisão do Campeonato Brasiliense 2020 às 11h chamou atenção de especialistas para a situação, pois o horário incomum gera questionamentos quanto à saúde dos jogadores e dos demais presentes no evento. Vale lembrar que o regulamento da competição estipula que a equipe mandante tenha o direito de escolher a hora e o local da partida.

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Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Por ter ficado em 2º lugar na primeira fase, o Brasiliense vai ter o mando de campo na disputa de ida. O Jacaré vai manter os mesmos preparativos dos últimos jogos, seguindo o cronograma do preparador Odair Mourato e da comissão técnica. “Como os treinos costumam ser exatamente no horário entre 10h30 e 11h30, a programação não mudou pelo fato do jogo ser às 11h”, explicou a assessoria do clube. 

O Verdão, 1º colocado na fase de classificação, teve de se adaptar mais à situação. Além do horário, a equipe comandada por Vilson Taddei teve um menor período de descanso, pois jogou a segunda partida da semifinal depois do adversário da grande decisão. Apesar disso, o fisiologista do clube Phillippi Coutinho, afirma que o time está bem preparado para o jogo. “Tendo em vista que nosso descanso foi em um prazo menor, entendemos que precisávamos melhorar a recuperação dos atletas. Ficamos monitorando todos jogadores, avaliamos caso a caso e tratamos cada indivíduo com descanso e  suplementação. Está trazendo resultados significativos. Conforme o planejado do treino, não precisou ter alterações. A alimentação terá que ser ajustada conforme a necessidade do horário do jogo”.

Reações do organismo

Apesar de ambas as equipes estarem preparadas, o jogo levanta questionamentos a respeito do horário de realização. O professor de educação física Tácio Santos explica que disputar uma partida nessas condições pode trazer problemas não apenas de nível técnico, mas também físico aos atletas. “O organismo humano produz calor durante o esforço. Cerca de 40 a 60% da energia gerada durante o exercício físico é liberada em calor, e apenas o restante destinado aos vários sistemas corporais envolvidos na atividade. Se o indivíduo já parte de uma temperatura ambiente elevada, a soma desta com o calor produzido pelo organismo pode resultar em temperaturas internas desfavoráveis não somente para o desempenho esportivo, mas para o funcionamento adequado do corpo”.

Ainda segundo o professor, é necessário o ajuste dos horários nos dias anteriores ao jogo, não somente para os treinos, mas também do sono dos atletas, pois a recomendação é de que os jogadores acordem cinco horas antes da partida. Considerando que o habitual tempo de sono costuma ser entre 7 e 8 horas, deveriam ir dormir às 22h e se levantar às 6h. Por fim, Tácio complementa. “A Organização Mundial da Saúde considera 40% como a umidade mínima adequada para a prática de atividades  esportivas ao ar livre. Como o índice médio previsto para o dia do jogo é de 34%, não seria apropriado realizar a partida neste horário.”

O calor e baixa umidade podem também causar problemas respiratórios aos presentes no evento. O pneumologista Sérgio Pontes Prado comenta a respeito. “Por mais que sejam atletas e que realizem atividades físicas regularmente, a baixa umidade do ar pode dificultar a respiração, causar um cansaço, o que a gente chama de dispneia. Aqueles que possuem alguma doença respiratória, algum outro fator de risco como o tabagismo, ou alguma doença crônica de via aérea, podem sofrer mais, tossir mais, ter mais falta de ar, chiarem o peito, e não desenvolverem tão bem sua atividade”.

Para amenizar os efeitos causados pelo clima, o pneumologista destaca a importância da hidratação constante e o uso de roupas leves e arejadas. “Tais sugestões não se aplicam apenas aos jogadores, mas também para a comissão técnica, arbitragem, narradores, jornalistas, e todos os demais presentes. Às vezes, o atleta não tem uma doença pulmonar crônica que necessite de uso regular de medicação, mas que nesse período de baixa umidade, o esforço físico pode desencadear uma crise, ter uma falta de ar, chiado no peito, e às vezes ter a necessidade de utilizar uma medicação específica, fazer uma nebulização, usar uma bombinha.” 

Por Arthur Ribeiro e João Paulo de Brito

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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