A rotina puxada de Andressa Rosa não permite que ela tenha tempo para descansar de segunda a domingo. A aluna do curso de ciências biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) tem aula de forma integral e usa os finais de semana para fazer os trabalhos exigidos pelos professores.
O excesso de conteúdo e atividades deixam a aluna estressada e ansiosa na maioria das vezes.
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A estudante entrou na universidade durante a pandemia.
Ainda no ensino médio, ela se sentia ansiosa por conta do vestibular. Depois que entrou na universidade, viu a saúde mental desmoronar.
“Havia muita pressão familiar para que eu entrasse na UFG e hoje sinto que piorei bastante. Na faculdade existem muitos trabalhos com datas de entrega muito próximas e isso me causa muito estresse”, pontua a estudante.
Gênero
Um estudo realizado pela faculdade de Educação Física e Dança da UFG, com 218 universitários, apontou que, durante a crise sanitária, 83% das mulheres entrevistadas disseram estar sofrendo com depressão e ansiedade.
Entre os homens, 73% disseram ter o mesmo sentimento.
Endorfina
A psicóloga Karen Scavacini avalia que os alunos deveriam ser estimulados a cuidar da mente e do corpo durante a educação básica de ensino com o objetivo de chegarem na universidade com uma boa saúde mental.
A especialista avalia que alunos estressados, depressivos e ansiosos tendem a entrar no mercado de trabalho com os mesmos comportamentos.
Para ela, o esporte pode ser um caminho entre os alunos para driblar as doenças mentais e fortalecer o aprendizado adquirido em sala.
“A endorfina liberada no corpo durante a prática esportiva ajuda a equilibrar o humor, melhora a oxigenação cerebral e faz com que as pessoas fiquem mais relaxadas e assim podem ter mais foco durante a aula.”
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Saúde mental
Mas, atrelado à predisposição dos universitários, a psicóloga considera que o papel das instituições no incentivo do cuidado físico e mental é essencial.
Nesse sentido, as universidades deveriam olhar mais para os alunos e promover programas de assistência social e de esportes, que de fato abracem os estudantes.
Hiperprodutividade
A agenda cheia é uma realidade também na vida da aluna Luiza Vitória, de 20 anos. A jovem cursa três faculdades.
Pela manhã a estudante vai para a faculdade de educação física e no período da tarde, ocupa-se com as tarefas dos cursos de perícia criminal e engenharia civil. Já na parte da noite, ela faz estágio em uma academia de Ceilândia, no DF.
Apesar de fazer um curso voltado à prática esportiva, ela diz que tem poucas aulas práticas, já que grande parte das matérias são teóricas.
O único momento que ela pode se exercitar é durante o período de musculação na academia e corrida durante o final de semana.
“Isso me ajuda porque não é o ambiente de estudo e acabo me distraindo. Mesmo pegando carga ou fazendo esforço a mente descansa”, relata a universitária.
Apesar disso, a aluna diz sofrer com estresse e ansiedade durante a rotina agitada. Isso porque mesmo praticando atividade durante a semana, o excesso de livros para ler e trabalhos da faculdade para entregar ainda é latente.
Professor de educação física e pesquisador em saúde mental, Felipe Dinato, avalia que o esporte dentro das universidades ajuda os alunos na vida acadêmica.
“Exercícios em grupo ajudam o aluno a criar vínculos mais fortes no campus. Com mais parcerias firmadas, a rede de apoio ajuda na hora de lidar com as dificuldades dentro destes espaços”.
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Além da atividade física outros comportamentos precisam ser colocados em prática. Quando há privação de sono em excesso por conta da agenda corrida e ingestão de alimentos inapropriados há também um grande risco para condições de estresse, ansiedade e depressão.
Instituições
O especialista aponta que os universitários devem ter consciência ao escolher entre ir para a sala de aula de escada ou de elevador, usar o intervalo para jogar uma partida de futebol ou se alongar. Mas, ele avalia que as universidades têm um papel importante para criar uma cultura de movimento.
“Precisa de um esforço institucional para fazer a conscientização dos alunos principalmente sobre os riscos de não se exercitar. Mas só a informação não adianta, seria interessante colocar bicicletas e patinetes não elétricos para os alunos se movimentarem dentro do campus, entre os blocos, aula coletiva de alongamento no intervalo e outros”.
A reportagem procurou o Ministério da Educação para saber quais ações estão sendo feitas para colocar a prática esportiva na vida dos alunos dentro das universidades, mas o órgão não se manifestou.
Por Ana Carolina Tomé
Edição de Luiz Claudio Ferreira