Superação, força de vontade, dedicação e esperança. Estes são alguns dos principais valores de dois atletas paraolímpicos brasilienses que estão entre os melhores do mundo. O mesatenista Guilherme Costa e o artilheiro de golbol Leomon Moreno são heróis que mudaram a própria história. O esporte se tornou mais do que uma simples ocupação, tornou-se uma virada na vida e um novo caminho a ser trilhado. O desafio mais próximo é o Para-Pan, de julho, e as Paraolimpíadas do ano que vem.
Atualmente, Guilherme Costa é tricampeão brasileiro, campeão pan-americano, sul-americano e 18º do ranking mundial da modalidade. “O esporte significou não tudo, mas quase tudo na minha vida. Me ensinou disciplina, perseverança e principalmente ter foco para saber onde quero chegar”. Para ele, a reabilitação teve papel fundamental para as conquistas esportivas: “A recuperação me ajudou muito com autoestima, principalmente me mostrou que sou capaz de fazer muito mais coisas que eu não imagino fazer e quando eu vejo, já estou fazendo”.
Já Leomon Moreno, morador da Ceilândia, foi o artilheiro do último mundial na Finlândia, com 52 gols e foi medalha de prata nas Paraolimpíadas de Londres, em 2012.O golbol é um esporte em que os atletas jogam deitados com uma venda nos olhos e são guiados apenas pelo som da bola, que é arremessada com as mãos. É considerado um dos melhores jogadores do mundo. Para Leomon, o esporte mudou e acrescentou valores e conquistas. Atualmente, além de praticante, Moreno investe em projetos e iniciativas da área. “Sou presidente de uma associação criada aqui em Brasília, a Uniace-DF (União dos Atletas Cegos do Distrito Federal) , lá cuidamos do golbol, futebol de sino, judô, xadrez. Eu me envolvo mesmo com essa parte do esporte, hoje em dia minha vida segue de acordo com o que o esporte me exige”.

Caminho de vida
O sonho de ser jogador de futebol de Guilherme Costa, hoje com 22 anos, foi interrompido quando ele foi atropelado na faixa de pedestres por um carro na saída da escola onde estudava, na 911 sul, em dezembro de 2006. Segundo a perícia, o veículo marcava 105 km/h em uma via de velocidade de 40 km/h. A luta pela sobrevivência foi dura, mas a disposição para viver foi maior. “Tive traumatismo craniano, fratura exposta, duas paradas cardíacas e 20 dias em coma. Fiquei dois meses de UTI e seis meses internado”, conta Costa. No fim, uma marca eterna: tetraplegia.
Cinco meses após o acidente, Costa foi indicado no Hospital Sarah Kubitschek para jogar tênis de mesa, como forma de reabilitação. Após participar de alguns jogos, o professor da instituição observou talento e o indicou para os cuidados de José Ricardo Rizzone, atual técnico da Seleção Brasileira Paraolímpica de Tênis de Mesa. Apesar de boas notícias, a adaptação ao novo estilo de vida não foi fácil. “No início eu não quis treinar, eu queria minha vida de volta. Estava tudo tão recente e eu tinha outros sonhos quando eu andava, um deles era ser jogador de futebol”. Um ano após o acidente, o tênis de mesa foi a saída que Guilherme buscava para a reabilitação. “Depois de um ano após o acidente, virei para minha mãe dizendo que eu precisava praticar alguma coisa e ela me convenceu a tentar o tênis de mesa mais uma vez”.
A rotina de treinos de Guilherme começou com atividades duas vezes por semana. Mesmo sem pretensões, ele conquistou a primeira medalha em uma competição nacional. A rotina de treinos ficou mais intensa, passou a ser de cinco a sete horas diárias.
Futebol
Leomon Moreno da Silva nasceu em Brasília, no dia 21 de agosto de 1993. A exemplo do irmão mais velho, Moreno nasceu com retimose pigmentar, doença que causa a degeneração da retina. Mesmo assim, Moreno nunca pensou em desistir. “Nasci com essa deficiência, nunca me omiti nem me deixei vencer por ser deficiente visual ou ter alguma limitação. Sempre quis me igualar aos outros, e tentando isso, fui vencendo todas as barreiras que foram aparecendo”.
Com 12 anos de idade, Moreno se inseriu no mundo do esporte através do atletismo, modalidade em que conquistou medalhas nacionais e internacionais. Aos 14 anos, entrou para o golbol, esporte inventado em 1946 pelo austríaco Hanz Lorenzen e pelo alemão Sett Reindle e praticado por deficientes visuais. Participou de vários campeonatos escolares, regionais e nacionais, até alcançar a tão almejada seleção brasileira da modalidade. Entretanto, Moreno ainda foi cortado três vezes da equipe, por não estar preparado para uma competição internacional.
Por Felipe Oliveira