O ritmo das obras para construção de Brasília era muito intenso e os meios de diversão eram raros. A criação de uma equipe para jogar futebol contra outras construtoras da época ocorreu logo em 1958, porém a fundação do Grêmio Esportivo Brasiliense, que completou 63 anos em 2021, ocorreu em 26 de março de 1959. A incrível história sobre o clube pioneiro foi trazida em livro produzido em 2013 por José Ricardo Almeida e Marcio Almeida.
A obra recorda que o clube recém criado definiu como presidente Moacyr de Miranda Gomes, apenas em agosto daquele ano. Assim que constituído administrativamente, o clube se estabeleceu e mandou seus jogos no estádio Vasco Viana de Andrade, onde hoje se encontra o bairro da Metropolitana, no Núcleo Bandeirante.
O Grêmio, além de ser o pioneiro do futebol candango, trilhou o caminho da vitória no Campeonato Brasiliense de futebol antes de todos os outros. Com o tempo, depois de aprender com o Alviverde, outros clubes alcançaram essa vitória.
Primeiro título
Márcio Almeida explica que, no campeonato brasiliense de 1959, o Grêmio se tornou o primeiro time a vencer um torneio de futebol do que viria a ser a capital do Brasil. Um título que marca o início de um campeonato que é tão disputado até hoje. O pioneiro do futebol candango venceu o campeonato de forma invicta, depois de duas vitórias e um empate sobre o Planalto na final.
(Time campeão Brasiliense em 1959. Foto: Sede do Grêmio)
O quase estádio do Grêmio
O Grêmio é um dos poucos times de Brasília que possui uma sede própria. Em abril de 1963, foram iniciadas as obras para construção da sede que está localizada no Setor de Postos e Motéis Sul (SPMS). Em agosto do mesmo ano, o clube tentou a construção do seu próprio estádio, em sua sede, que teria capacidade para 35 mil pessoas. O projeto foi apresentado para Pelé, que veio à Brasília participar da inauguração da obra do Estádio do Grêmio na Candangolândia.
Melchior, representante da Provende, apresenta o projeto a Pelé. Foto: Por Marcio Almeida.
Pelé conhecendo o terreno na sede do Grêmio. Foto: Por Marcio Almeida.
Depois de divulgar nota informando que as obras de seu estádio estavam a pleno vapor, a diretoria do Grêmio desejava entregar a praça esportiva o quanto antes. Contudo, após algum tempo, as obras foram paralisadas devido a troca de diretoria e falta de recursos financeiros e o sonho não foi realizado. O clube seguiu mandando seus jogos na Metropolitana até a construção do Estádio Pelezão.
O mascote
São poucos os times no Distrito Federal que têm o hábito de adotar um mascote como símbolo, porém em 1976 a diretoria gremista divulgava um tubarão como mascote, desde então o mascote alviverde foi adotado ao time candango, até o local onde a equipe se concentrava era chamada de Toca do Tubarão.
Mascote do Grêmio. Foto: Por Marcio Almeida.
O bi-campeonato candango
Depois de crises financeiras e participações frustrantes no campeonato local durante a década de 60, o Grêmio voltou a se impor em 1969 e consegue o vice-campeonato do torneio local, perdendo para o Coenge, do Gama. Depois de uma campanha sólida e apresentar um bom futebol em 69, o clube era apontado como um dos favoritos a ser campeão em 1970.
Com um forte elenco e um dos candidatos para vencer o torneio, o Grêmio era comandado pelo técnico Seu Joaquim, que também era conhecido como Bugre. Um dos grandes personagens do futebol brasiliense. Um dos jogadores principais do elenco, Pelezinho, que na época tinha 18 anos, acreditava muito no título.
“O nosso time contava com um grande elenco, estávamos completamente confiantes, além de ter muitos jogadores experientes”, contou o atacante em entrevista à Agência UniCEUB.
No campeonato de 1970, o Grêmio estreou com derrota para o Civilsan, que viria a dar trabalho para o Tubarão. A perda inicial não passou de um susto, o time trouxe novos reforços e foi construindo uma boa campanha até chegar na final, que assim como no primeiro título do clube pioneiro, era decidida em uma melhor de três.
O Grêmio, novamente, encontrava o Civilsan que tinha uma única derrota em todo o campeonato. No primeiro embate, o alviverde sofreu uma derrota por 6 a 2. “Entramos com salto alto para a primeira partida da final. A euforia dos jogadores por ter chegado na decisão acabou atrapalhando o grupo em campo, e saímos goleados”, afirmou o ex-atacante.
Os jogadores, então, tiveram toda uma preparação para o segundo confronto e entraram obcecados na vitória, único resultado que servia para ir à terceira partida. No segundo jogo, o Grêmio conseguiu a vitória em uma partida que se finalizou em triunfo alviverde por 2 a 1, forçando o terceiro duelo. No último embate, mais uma vitória do Grêmio por 2 a 1, se tornando bi-campeão de futebol do Distrito Federal.
Time do Grêmio celebra o título em 1970, no estádio Pelezão. Foto: Jornal de Brasília/Direitos reservados
Outros esportes
Fora dos gramados, o Grêmio Brasiliense esteve representado em outras categorias. Foi uma forma encontrada pelos dirigentes para seus associados e atletas para o clube continuar funcionando.
Halterofilismo e defesa pessoal – Desde 1960, o clube já oferecia aos associados as modalidades
Jiu-Jitsu – No dia 17 de março de 1963, na sede social do Grêmio ocorreu uma demonstração de luta orientada pelo Prof. Eronildes Tavares. As lutas demonstraram Jiu-Jitsu, luta livre e luta olímpica, defesa pessoal e agarramento.
Judô – Em dezembro de 1971, foi inaugurada a academia de judô, em sua sede provisória na Metropolitana. As aulas eram ministradas pelos professores João dos Santos, Salazar de Carvalho e Raimundo Santana, no início, para 25 alunos, dentre adultos, crianças e mulheres.
Futebol de salão – Assim como no Jiu-Jitsu, em março de 1963, ocorreu o Torneio Início de Futebol de Salão promovido pela Rádio Alvorada e pelo DC-Brasília. A competição foi disputada no Clube Unidade de Vizinhança. O Grêmio abriu a competição enfrentando a equipe do Paranoá, nesta partida, o alviverde saiu derrotado por 2 a 1 e acabou sendo eliminado, já na primeira rodada.
Como anda o clube hoje?
Apesar de ter disputado o Campeonato Brasiliense de futebol pela última vez em 1978, a sede do Grêmio segue sendo no Setor de Postos. Em conversa com um dos representantes da presente direção, que preferiu não se identificar, a atual diretoria tem projetos de revitalização e ampliação de sua parte desportiva em um outro local, contudo sem qualquer time que possa espelhar seu glorioso passado e sua apaixonada torcida até o momento.
Além disso, um dos advogados do clube contou o seguinte: “No momento não há receitas oriundas do clube, sendo assim os diretores e os, ainda, associados do clube seguem pagando dívidas e despesas sem receber nada em troca.” A paixão pelo clube e esperança de ter um time glorioso mais uma vez é real, dentro das expectativas de associados e torcedores.
Por Filipe Fonseca
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira
Todas as imagens foram cedidas por Márcio Almeida, historiador e autor do livro do clube. Os direitos das imagens são do autor e não podem ser reproduzidas sem a devida autorização