As atletas de MMA (sigla para artes marciais mistas, em inglês) tiveram seus espaços conquistados depois dos homens, que costumavam dominar esse esporte. Atualmente, atletas como a Viviane Araújo, de 38 anos, e Gabrielly Gomes, de 16 anos, que treinam na academia Cerrado MMA, vivem essa realidade e se sobressaem com maestria.

Vivi Araújo, como é conhecida, compete no UFC (Ultimate Fighting Championship), no mais alto nível do esporte, desde 2019. Ela é a oitava colocada no ranking da categoria peso-mosca (até 56,82 kg).
“Lá na academia muitas vezes eu sou a única mulher treinando, no meio de vários homens”, conta Vivi. Além de ser uma das únicas mulheres na academia, ela é a única atleta mulher de Brasília que compete no UFC.
“Aqui em Brasília eu sou a única mulher dentro do UFC, que é a maior organização de MMA do mundo, já me sinto gigante com esse grande feito”, afirma.
“Comecei no futebol, mas aos 19 anos tive uma lesão que me fez ter que parar por um tempo”. Durante esse período, ela fez uma aula de Jiu-Jitsu despretensiosamente e, ali, descobriu sua paixão pelas artes marciais.
Preconceitos
Vivi teve que lidar com isso, pois o próprio pai nunca a apoiou. “Ele falava ‘essa menina é toda masculina, ela quer ser homem, jogando futebol, agora é na luta’. Então a discriminação veio dentro da minha própria casa”, conta. Ela diz também já ter escutado comentários preconceituosos por ser homossexual.
Esse turbilhão de emoções não parou na vida da Vivi, no início deste ano, ela foi mãe de uma menina chamada Lua e relata que o apoio da esposa Catarina é essencial. “Minha esposa é muito guerreira e está sendo uma ótima mãe, uma super mãe”.
“Assim que ela nasceu, eu só fiquei sem treinar por 15 dias e já voltei aos treinos, minha esposa que me obrigou a treinar, porque se fosse por mim, eu ia ficar em casa cuidando delas e dando todo o apoio necessário”, completa.
Uma nova estrela começa a brilhar
Enquanto Viviane já está na elite mundial do esporte, Gabrielly está no início da sua carreira. Ela compete em lutas amadoras de MMA, Kickboxing e Jiu-Jitsu, para se aperfeiçoar nas artes marciais. Gabrielly, que é uma grande promessa da academia, pretende seguir os passos da Vivi e chegar no UFC.
“Eu me inspiro muito nela e adoro treinar com ela. Sempre que posso eu tiro dúvidas. Treinar com alguém que já está onde eu quero chegar me motiva ainda mais para evoluir e seguir o mesmo caminho”, afirma Gabi Gomes.

Logo cedo Gabi sabia que também queria ser lutadora. “Cresci dentro de um centro de treinamento, que era do meu pai, então a luta sempre fez parte da minha vida”, conta. “Eu acompanhava meu pai em aulões e campeonatos, eu sabia que queria estar ali também”, completa.
Além de treinar intensamente, Gabrielly ainda segue sua vida de estudos. Para ela, conciliar a vida de estudante com a carreira de lutadora é um grande desafio, mas ela consegue superar. “ É uma questão de organização, normalmente eu faço os deveres a noite antes de dormir e, mesmo cansada, sei que também preciso cumprir minha rotina escolar”.
Como mulher, outra adversidade enfrentada por ela é a questão do corte de peso antes das lutas durante o ciclo menstrual. “O corpo responde de forma diferente, eu fico mais inchada, então tenho que focar mais ainda na alimentação e nos treinos para não comprometer o meu desempenho”.
Desafios
Mulheres como elas vêm tentado romper barreiras e conquistando espaço em esportes que ainda são vistos como “masculinos”. Essa transformação desafia preconceitos, impulsiona mudanças e reforça a importância da equidade de gênero no mundo esportivo.
As próprias esportistas reconhecem que há um longo caminho a percorrer. A disparidade salarial, a falta de patrocínio e o preconceito são obstáculos enfrentados pelas atletas, que muitas vezes precisam se esforçar o dobro para obter reconhecimento.
Futebol americano
Os esportes que exigem contato físico intenso e constante, também têm sido palco de importantes avanços, principalmente no Brasil.

O futebol americano feminino está em alta no Brasil. No DF, 10 atletas do time da capital, Brasília Pilots, foram convocadas para a última competição intercontinental, consagrando-se campeãs.
Conquistas
O time de futebol americano feminino, Brasília Pilots, fundado em 2016, tem deixado sua marca.
“Temos parceiros que acreditam em nós, porém não temos patrocinadores. Hoje nos sustentamos com a mensalidade de R$ 40 pagas pelas próprias atletas e rifas para custear nossas despesas”, ressalta Natalia do Vale, de 31 anos, jogadora da equipe.
Elas argumentam que existem dificuldades, mas ainda assim as conquistas são mais importantes.

A jogadora do Brasília Pilots, Giovana Gonçalves Moreira, de 22 anos, relatou que ainda há dificuldades com relação à segurança e estrutura.
A equipe realiza treinos no gramado do Planetário e da Esplanada, em Brasília.
Apesar de eventuais dificuldades, as jogadoras da seleção fizeram uma campanha em Medelín e se consagrarem campeãs invictas, ultrapassando o número de vitórias da equipe masculina.
“Em tudo o que fizer, entregue excelência”, pois, no fim, são os resultados que constroem o respeito e a credibilidade.
A cavalo
“Confesso que não é uma caminhada fácil por ser mulher em um esporte que exige força física e mental”. mas Vitória Hanako nunca deixou que isso a impedisse de conquistar seu espaço no laço em dupla, uma modalidade no rodeio que é predominantemente ocupada por homens.
Aos 11 anos ela inicia sua jornada na modalidade e nos conta sobre o maior desafio no dia dia como atleta.
“Creio que o maior desafio seja a força física e a pressão psicológica, pois, apesar da tecnologia ter ajudado muito com cordas mais leves, mais finas, imagino que ainda seja uma dificuldade para a maioria das mulheres no esporte”, afirma Vitória.
Para ela, além da exigência física, há também o peso dos olhares e das expectativas. “A pressão psicológica é consequência dos inúmeros olhares criando expectativas sobre ‘a mulher que laça’. Por mais natural que seja pra mim, sei que é totalmente fora da realidade das pessoas.”

Ainda assim, Vitória conquistou seu espaço e o respeito dentro de um esporte predominantemente masculino. Desde sempre, o meio equestre fez parte de sua vida, e, apesar dos desafios, ela se manteve firme, superando as dificuldades com dedicação e excelência.
“Creio que até hoje eu tenho que ficar provando que sei fazer o que todo mundo já viu, mas não me incomodo mais”, afirma, mostrando que sua persistência fala mais alto do que qualquer julgamento.

Por Esther Santos, Giovanna Gimenez, Lucas Maia e Tariq Alves
Supervisão: Luiz Claudio Ferreira