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“Quando eu era criança, eu nem podia jogar bola. As pessoas não deixavam jogar futebol junto com o dos meninos. Os próprios meninos falavam, você é menina, não vai jogar”, conta Luiza*, de 15 anos.
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A menina é uma das 300 atletas de um projeto social que começou no ano passado. Em 2022 o Minas Brasília criou os núcleos, iniciativa que visa levar futebol de forma gratuita a meninas de 10 a 18 anos, de regiões administrativas do Distrito Federal.
O projeto idealizado pelas irmãs Nayara e Nayeri atende as jovens de Planaltina, do Gama, Recanto das Emas, Setor O e Parque da Vaquejada, prioritariamente em regiões de vulnerabilidade.
Prioridade
A coordenadora geral dos Núcleos, Tatiane Correa, contou à Agência do Ceub que o futebol do Minas Brasília e seus projetos são exclusivamente destinados à modalidade feminina.
“A gente não dependeu de nenhum time masculino para a gente alavancar a nossa a nossa carreira. Então só por ser totalmente feminino a gente vai dar sempre prioridade para alavancar o sucesso das meninas”, explicou.
O trabalho social executado pelos núcleos levam mais que futebol para essas meninas. Levam esperança.
Dão a elas oportunidade e forças de se aproximarem de um sonho que, devido ao cenário do futebol feminino nacional, parecia tão distante.
“A gente pensa no futuro desses atletas e conseguimos dar oportunidade pra todo mundo participar. Nosso projeto é de inclusão, ele não é só parte técnica. Tanto menina que nunca teve contato nenhum com a bola, conseguimos incluí-la porque no final a gente não forma só atleta, a gente forma também cidadão”, conta Tatiane Correa.
Esperança e paixão
Luiza e July, duas das atletas em um dos núcleos, afirmam que enfrentam dificuldades em campo só por serem mulheres.
“O futebol feminino é muito desvalorizado pela comunidade. Por sermos mulheres. Nós estamos aqui para mostrar a realidade. Nós viemos aqui para vencer”, conta Jully, de 16 anos.
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Luvas rasgadas
A treinadora do Núcleo de Recanto das Emas, Bianca Lago, falou que o preconceito ainda é muito presente e que trabalhando na área conseguiu enxergar isso claramente.
Segundo ela, comentários como, “futebol não é coisa de mulher”, ou até, “se joga futebol, é lésbica” são recorrentes ainda.
Bianca também relatou sobre o peso da falta de apoio familiar no desenvolvimento das meninas.
“Eu acho que o desafio dessa geração, em si, é psicológico. A gente tem muitas alunas que vieram para o futebol, mas sem apoio em casa. A gente teve atleta, uma goleira, que o pai rasgou a luva para a atleta porque era um esporte masculino”, lamenta.
Luiza diz que é uma oportunidade rara participar de um projeto social. “Até mesmo para tirar várias meninas desse mundo de drogas e bebida”.
Uma das adolescentes confidenciou que o preconceito vem de dentro de casa. Segundo essa menina, o pai a chamava de mulher machão por praticar futebol. “Ele se arrependeu, mas deixou uma mágoa porque é o meu sonho”.
Por Luana Adnet
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira