Responsáveis pela parte mental de alguns dos atletas paralímpicos, os psicólogos do CPB ( Comitê Paralímpico Brasileiro) fazem trabalhos desde a base, com a captação e desenvolvimento de jovens com deficiência que se interessam pelo esporte.
Através de eventos de iniciação esportiva, como festivais, as crianças e adolescentes com deficiência experimentam as modalidades ofertadas e ali são observados possíveis talentos.
Mas além disso, ali pode ser um ambiente para além da formação de um futuro atleta de alto rendimento. Movimentar o corpo, ocupar o tempo, criar uma nova rede e um ambiente social e até um processo de ressignificação da pessoa são alguns dos benefícios que o esporte pode trazer.
Equilíbrio
Em entrevista à Agência de Notícias Ceub, a psicóloga Esther Duarte, do Comitê Paralímpico Brasileiro, ainda comentou que sentimentos como ansiedade e medo não devem ser eliminados, pois todas as emoções têm uma função e quando bem trabalhadas elas fazem com que a pessoa se sinta bem.
“Não vou eliminar a ansiedade dele (atleta), eu vou ajudá-lo a ter um equilíbrio, eu não vou eliminar o medo dele, eu vou ensiná-lo a ter o equilíbrio através de técnicas da psicologia”, diz Esther.
Equilíbrio
“Eu trouxe esse exemplo, a pessoa que anda num dia sofre um acidente no outro, está numa cadeira de rodas, o esporte vai mostrar para ela a potencialidades dela, o que ela pode conseguir fazer. O esporte ele vai ser esse ambiente onde ele vai se ressocializar, se conhecer novamente, se adaptar e conhecer as suas limitações”, comenta Esther.
Porém, muitas vezes esses processos são vistos de outra forma, e esses atletas que estão passando por uma nova condição são considerados como exemplos de superação ou até exemplos de vida, o que segundo a psicóloga Esther Duarte é errado.
” Infelizmente a gente ainda é visto muito com a ideia de superação, de exemplo de vida e não é isso, são pessoas que tem uma limitação, que tem uma deficiência, mas que treinam, se preparam, se esforçam e se dedicam tanto quanto atletas sem deficiência. São atletas. Continuam sendo atletas”.

Preparação
Na sequência desse processo, quando atingem maturidade técnica e emocional, os atletas são encaminhados ao departamento de alto rendimento, ou seja, desde o início da trajetória já acontece a preocupação com a parte mental. Portanto, em um processo ideal de preparação, o indivíduo chega ao alto nível já mais preparado.
Porém, não são todos que conseguem viver todos esses processos desde o início da jornada no esporte e assim chegam no alto rendimento muitas vezes sem saber como lidar com as emoções e as pressões que convivem.
“As vezes o atleta, infelizmente só tem contato quando ele já está no nível de muita cobrança de muita pressão. Então, a partir do momento que você consegue proporcionar isso para base, para crianças e adolescentes, eles já vão aprendendo a lidar com essas emoções, com as pressões futuras pressões que podem vir”.
Dor invisível
Assim como ocorreu com Simone Biles, em 2021, pode acontecer com qualquer atleta, para evitar situações como essa os comitês e as confederações levam profissionais da psicologia para auxiliar em questões relacionadas ao mental dos atletas.
Em competições como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, as pressões se intensificam e esse trabalho realizado durante os eventos, mas principalmente nos anos que antecedem se torna fundamental.
Imagina a cena: Jogos Olímpicos, o principal evento de esportes do mundo, todos te olhando. São os cliques da câmera fotográfica, o olhar atento da torcida que observa e reage a cada movimento feito.
Mas não só isso, mas você está no centro das atenções, é o grande nome da sua modalidade, algo diferente de pódio ou até mesmo do ouro causaria estranheza, todos te observam atentamente e a cada passo há uma reação.
Você observa as outras competidoras e chega sua vez, você não se sente bem, não era como os outros dias de competição, nas prévias as performances já são anormais.
As provas vão acontecendo, coração bate mais forte e a cabeça não funciona igual. Até que então decide parar, olhar para si mesma e abandonar a competição.
A situação acima aconteceu nas Olímpiadas de Tóquio, que foi recordada em 2021.
Simone Biles, o grande destaque da Ginástica Artística, desistiu de quase todas as finais que havia se classificado por questões mentais. A norte-americana disputaria apenas uma prova, a final da trave, onde conquistou a medalha de bronze.
“Eu digo para colocar a saúde mental em primeiro lugar. Porque se você não fizer isso, então você não vai aproveitar seu esporte e não vai ter tanto sucesso quanto você quer”, disse Biles em coletiva durante as Olimpíadas.
Da mente ao corpo
Após as Olímpiadas, a norte-americana ficou dois anos sem competir. A decisão da ginasta mostrou a realidade dos atleta de alto rendimento com pressões de resultados, metas individuais, da mídia, dos torcedores, dos patrocinadores, entre outras. O caso de Simone Biles, em 2021, mostrou que o preparo do lado mental deve ser tão treinado quanto os outros aspectos.
” A gente (psicólogos) pede para que eles (atletas ) já treinem nos treinos (o lado mental) para que quando eles chegarem na competição, seja ali comum, algo da rotina, algo que eles já estão preparados”, explica a psicóloga Esther Duarte.

Por João Pedro Nunes e Marcello Hendriks
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira