Desde 2014, anualmente, o Brasil recebe uma Copa do Mundo. Sem os holofotes ou transmissões na TV, como a organizada pela FIFA, a Copa dos Refugiados chega à 5ª edição neste ano no auge. Estão marcadas três etapas estaduais. Porto Alegre (nos dias 2 e 3 de junho), São Paulo (dias 21, 22, 27 e 28 de julho) e Rio de Janeiro (nos dias 4 e 5 de agosto) recebem a competição. Ainda em 2018, será realizada, nos dias 29 e 30 de setembro, a Copa Brasil dos Refugiados, juntando as melhores equipes de cada etapa. No ano passado, pelo menos 250 cidadãos de 16 países (a maior parte da África) que moram no Brasil disputaram os jogos. Neste ano, as inscrições estão abertas. O tema é “Não me julgue antes de me conhecer”.
O coordenador geral da Copa no biênio 2017/2018, Abdulbaset Jarour, sírio e refugiado, explicou que o evento surgiu em 2014. “O Brasil é muito ligado ao futebol e o esporte tem uma linguagem universal. O objetivo é integrar o refugiado à sociedade e ajudar a quebrar o preconceito e a ignorância. A mídia brasileira sempre focou nos refugiados no exterior, e não dava atenção aos que estão aqui. A Copa é um processo para apresentar os refugiados para a população”.
Aos poucos, a ONG África do Coração, idealizadora do evento, aperfeiçoa a competição. No último ano, foram duas etapas: em Porto Alegre, as partidas foram disputadas na Arena do Grêmio. Em São Paulo, a grande final foi no estádio do Pacaembu. As equipes vencedoras? De acordo com Abdulbaset, não é importante: “Foi conversado sobre o objetivo da Copa: mesmo se você perdeu, não jogou bem, não importa. O importante é entender e abraçar a causa. É isso que faz a Copa ir para frente”. Embora não seja o mais importante, teve troféu e comemoração. Em São Paulo, Nigéria foi a campeã. No Rio Grande do Sul, senegaleses comemoraram o título.
Mulheres refugiadas também disputam competição. Foto: Sibele Martins / ONG África do Coração
Gênero
A ONG tem atividades para mulheres também. Elas palestram, contam do seu espaço, como é a adaptação no país, além de participarem de algumas dinâmicas na Copa e competirem, para “quebrar a cultura do machismo, muito presente no futebol”, de acordo com Jarour. Ainda foi feita a Copa Integração, em que as equipes são compostas, em sua maioria, por mulheres. São 5 jogadores de linha e 1 goleiro. Cada time tem, no máximo, 2 homens.
Além disso, o coordenador reclama da má interpretação do significado de refugiado.“A palavra refugiado tem seu significado deturpado no Brasil. Refugiado não é aquele que cometeu um crime, um ato terrorista, e sim aquele que sofre perseguição política ou religiosa, foge de guerras, racismo. O Brasil é, historicamente, formado por imigrantes. Podemos comparar a situação com os imigrantes nordestinos. Se está difícil para o brasileiro trabalhar e estudar, imagina para nós? Somos cidadãos do mundo, nós temos direito de estar aqui. Somos gratos ao Brasil, mas não escolhemos este lugar. Foi para onde conseguimos vir”.
Por Vinícius Heck e Sofia Brandolff
Foto: Divulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira