Seca de clubes do DF na Série C é marcada por mais de uma década de traumas

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No Distrito Federal, a estiagem já faz parte do cotidiano. No esporte, entretanto, a seca de clubes candangos entre as primeiras três principais divisões do futebol masculino nacional se mostra uma rotina.

Desde a queda traumática do Brasiliense na Série C em 2013, os clubes da capital federal vivem de “quase acessos” e muitos corações partidos no nível mais baixo do Campeonato Brasileiro.

Derrota do Ceilândia para o Barra garantiu o 13° ano sem times do DF na Série C; Foto: Diller Abreu

No mês de agosto, auge da seca na região, a eliminação do Ceilândia para o Barra-SC no último sábado (23/8), a situação complicada se manterá até pelo menos 2027.

Para o ano de 2026, Gama e Capital voltam a tentar quebrar a sina de decepções candangas no torneio, tentando achar o tão sonhado posto entre os quatro semifinalistas.

Queda dolorosa


Depois de um auge em 2005, quando o Brasiliense se tornou o primeiro e único time do DF a disputar a primeira divisão do Brasileirão de pontos corridos, a região foi aos poucos caindo de relevância no cenário futebolístico nacional.

Disputando a Série B em 2005, onde estava desde 2003, o Gama foi rebaixado em 2008 para a terceira divisão e, após duas temporadas lá, caiu uma vez em 2010, não retornando a tal nível desde então.

Rival do alviverde, o Brasiliense deixou a primeira divisão em 2005 após sua estreia e ficou cinco temporadas na série B, caindo mais uma vez em 2010.

As três temporadas do Jacaré na terceirona terminaram de maneira dramática em 2013, com um rebaixamento prolongado judicialmente do qual a equipe de Taguatinga nunca conseguiu se recuperar.

O Brasiliense ficou entre os rebaixados da Série C em 2013 mesmo não ficando entre os dois últimos colocados de seu grupo, norma de rebaixamento da época, por causa de uma alteração excepcional no regulamento.

Originalmente, o Grupo A do torneio teria 10 clubes e dois seriam rebaixados, mas a inclusão judicial do Rio Branco‑AC durante a competição aumentou o grupo para 11 times.

Com isso, a CBF decidiu, por meio de uma diretriz técnica, que três equipes do Grupo A seriam rebaixadas, enquanto no Grupo B seriam mantidos dois rebaixamentos.

O Jacaré ficou na 9ª colocação, com os mesmos 30 pontos do Cuiabá, mas com saldo de gols inferior, o que o colocou na zona de rebaixamento.

O clube tentou contestar a decisão no STJD, alegando que a mudança no regulamento era ilegal por ter ocorrido durante a competição, mas o recurso foi negado por ter sido apresentado fora do prazo legal e, assim, o rebaixamento foi mantido.

Traumas nos pênaltis


O último representante candango da Série C é justamente um dos mais traumatizados com a volta. Logo no primeiro ano do Brasiliense na quarta prateleira, o primeiro baque veio com força. Depois de campanha invicta na primeira fase, o jacaré despachou o tradicional Remo-PA antes de enfrentar o Brasil de Pelotas-RS na disputa final pela vaga. Depois de derrota em solo gaúcho, os brasilienses devolveram o placar na Boca do Jacaré, mesmo perdendo Thiago Galhardo por expulsão, mas acabaram perdendo na disputa de pênaltis, filme que viria a se repetir no futuro.

Brasiliense perdeu nos pênaltis a chance do acesso dentro do Serejão em 2014 e 2024; Foto: Matheus Dutra

Em 2018 a derrota veio ainda nas oitavas. Segundo de seu grupo na primeira fase, o Brasiliense derrotou o Sergipe no primeiro mata-mata, mas viu o filme se repetir. Depois de vencer o Campinense-PB no Abadião, uma derrota em Campina Grande levou o duelo para a disputa de pênaltis, onde mais uma vez a torcida da capital saiu em lágrimas.

No aniversário de 10 anos da derrota em 2024, o Jacaré parecia que iria expurgar de vez os demônios do passado. O clube eliminou o próprio Brasil de Pelotas, algoz antigo, com uma sonora goleada por 9×1 nas oitavas, mas o filme ainda se repetiu do mesmo jeito. Mais uma vez, derrota na ida e vitória no Serejão, mas a chegada das penalidades trouxe um filme de terror para a mente da torcida. Gabriel Galhardo, capitão do time e irmão de Thiago, que havia sido expulso dez anos antes, desperdiçou a cobrança decisiva e o Retrô se classificou na capital do país.

Sina das oitavas


Assim como os pênaltis para o Brasiliense, as oitavas de final se mostram como o calcanhar de aquiles para o Ceilândia, que, em quatro das seis vezes que disputou a D nos últimos nove anos, caiu a dois passos do paraíso. O Gato Preto começou sua sina em 2016, quando perdeu nas penalidades para o Fluminense de Feira-BA em pleno Abadião, mesmo tendo vencido o jogo de ida fora de casa.

A segunda queda veio já no ano seguinte, dessa vez perdendo as duas partidas para o América de Natal-RN.

Depois de cinco anos fora, o Ceilândia voltou a figurar entre os dezesseis melhores da quarta divisão em 2023.

Para a tristeza da torcida alvinegra, o revés veio, mais uma vez, dentro do Estádio Maria de Lourdes Abadia.

Dois empates sem gols fizeram com que o confronto contra o Caxias-RS fosse para a disputa de cobranças diretas, onde os gaúchos saíram vitoriosos pelo placar de 7X6.

Derrota para o Caxias em 2023 foi um dos grandes traumas do Ceilândia nas oitavas; Foto: Pedro Santana

No caso mais recente da lista, o Ceilândia perdeu no último sábado para o Barra-SC, em Balneário Camboriú-SC, e deu adeus ao sonho do acesso mais uma vez.

Os candangos chegaram a abrir o placar em casa na partida de ida com Kennedy, mas o empate catarinense nos minutos finais da partida fez com que o resultado terminasse em igualdade.

Na volta, Elvinho marcou o único do jogo e garantiu mais uma eliminação do Gato Preto ceilandense.

Outras participações


Ainda que Brasiliense e Ceilândia sejam os maiores representantes do DF na Série D durante esse período de seca, com 8 e 6 participações, respectivamente, outros times candangos tentaram a sorte na competição sem sucesso.

Um dos times mais tradicionais da capital, o Gama talvez seja o de maior destaque. Tendo disputado seis vezes a primeira divisão nacional, o alviverde jogou apenas três a Série D desde 2014.

Apesar da tradição histórica do clube, apenas uma das oportunidades o time do sul do DF chegou a passar da primeira fase, quando foi eliminado em 2020 para o Goianésia-GO ainda na primeira fase de mata-mata.

Equipe “adotada” pelo DF, o Luziânia também esteve presente três vezes na competição, todas em um período de quatro anos.

Apesar da frequência, o Azulão terminou todas as edições na terceira colocação de seu grupo na primeira fase, não conseguindo se classificar para o mata-mata nenhuma vez.

Além dos quatro times citados, Capital, Real Brasília e Sobradinho também chegaram a participar do torneio nos últimos 11 anos, todos apenas uma vez, sem classificações para a próxima fase.

O Capital, entretanto, já tem vaga garantida para retornar em 2026, onde junto com o Gama tentará reescrever essa história em sua segunda participação no campeonato nacional.

Por Henrique Sucena
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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