Times de esportes eletrônicos carecem de investimento em campeonatos

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Mesmo que o mercado dos esportes eletrônicos tenha se mostrado um dos mais lucrativos nos últimos anos, ainda existem cenários dos E-sports que carecem de investimentos. Como é o caso da Empoliga, que tem sido ignorada desde a sua criação há mais de três anos. 

A Empoliga trata-se de um campeonato, brasileiro de League of Legends, para jogadores abaixo do elo diamante. Ela tem o intuito de atrair novos jogadores para a competição de jogos eletrônicos. Essa liga é composta por 96 equipes, separadas em três níveis A, B e C, cada um contando com 32 times e participantes de todo o Brasil. 

Tela de computador com luz azul em cima de teclado de computador  Descrição gerada automaticamente com confiança média

Arena CBLoL 2022

Fonte: captura da arena CBLoL -Crédito – Divulgação CBLoL 

Além da falta de investimento no cenário competitivo da Empoliga, outro grande problema é a existência de um único servidor para todo o país, o que acaba prejudicando a conexão de jogadores que estão em regiões mais distantes, como a região norte e nordeste. 

 Mercado Lucrativo

Sendo uma das áreas que mais lucrou nos últimos anos, os Esports têm sido um cenário onde muitas empresas (Ex: coca-cola, Tim, Adidas, entre outras) vêm investindo devido a sua alta taxa de rendimento e a grande quantidade de jogos competitivos que surgiram nos últimos anos. 

O gráfico abaixo, feito pelo estudo da Newzoo, mostra o crescimento do lucro gerado pelos Esports ao longo de 3 anos e a previsão de quanto ele vai gerar em 2024. Apresentando também a porcentagem de quanto ele cresceu em relação ao ano anterior. 

Gráfico, Gráfico de barras  Descrição gerada automaticamente

Foto: Divulgação/Newzoo

No Brasil, um jogador profissional de League of Legends, ganha em média de 5 a 30 mil reais por mês. O salário varia de acordo com a liga em que o jogador se encontra (CBLoL/Academy), a organização pela qual ele está jogando, sua função e o quão bem ele desempenha durante sua atuação. Já na Coreia do Sul, o melhor jogador Lee Sang-Hyeok (Faker) ganha 2,5 milhões de dólares por ano, sendo considerado o melhor jogador do mundo.

Enquanto isso, na Empoliga, não existe uma premiação monetário, devido à falta de investimento de outras organizações, apenas a entrega de troféus simbólicos. Que mesmo assim, tem muito valor para os competidores.

No infográfico abaixo, é explanado os 10 países com maior número de jogadores profissionais e o lucro que conseguiram no ano. Em 2021 o Brasil se tornou o 6º país que mais lucrou com campeonatos de Esports, chegando a um lucro no valor de 6 milhões de dólares. Divididos entre todos os jogadores profissionais e campeonatos de vários jogos. 

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Faturamento em campeonatos dos países em 2021, até 20 de dezembro.

Foto: Reprodução/Esports Earnings

Ao redor de todo o mundo, times e organizações fazem grandes aquisições de jogadores, técnicos, coachs e psicólogos para auxiliar os jogadores profissionais.  As gaming offices, ou áreas de treino, também servem como moradia temporária ou fixa para ou jogadores profissionais. 

Em março de 2022, o time brasileiro, Red Canids, campeão do último campeonato nacional, de 2021, inaugurou o seu centro de treino em São Paulo, no valor de 1,5 milhões de reais. Localizado na Vila Mariana, a gaming officie apresenta salas de treino, escritórios, uma área de academia, cozinhas, refeitórios, vestiários e um  departamento médico.

Loja com porta de vidro  Descrição gerada automaticamente

Frente do novo gaming office da RED Canids / Foto: Divulgação RED Canids

Já a produtora do jogo, Riot Games,  apresenta alto investimento em diversas plataformas, tendo faturado em 2019 1,5 bilhões de dólares. A empresa produz músicas, séries, shows, jogos, cosméticos, apresentações e arenas para os campeonatos, como o Mid-Season Invitational (MSI) e o mundial de League of Legends. Ainda contam com a venda de itens cosméticos para os jogos produzidos, League of Legends, Valorant, Team Fight Tactics, Legends of Runeterra e League of Legends Wild Rift. 

 Ausência de investimentos 

A Empoliga foi criada em maio de 2019, por Vinicius “Empolgou” Pedroso, a ideia inicial era um campeonato com 20 jogadores, que foram convocados a participarem através de grupos do Facebook, separados em cinco equipes de acordo com o elo deles. 

Esse campeonato,era e continua sendo o único campeonato amador que existe no Brasil. Fora ele, existiam apenas os campeonatos profissionais, CBLoL, CBLoL Academy e a Ignis Cup.

Sendo a equipe campeã da primeira edição “Tá Tiltado Cabelo Rosa”, já os vencedores da segunda edição foi o time “Tá Maluco seu Maluco”. Após esse primeiro campeonato a Empoliga se popularizou, principalmente devido ao seu criador já ser conhecido pela página “Empolgou CBLoL” o campeonato começou a receber cada vez mais times e se popularizou. 

Atualmente a Empoliga é composta por 96 equipes, separados em três “tiers” A, B e C, cada um contando com 32 times. E ainda contando com a Empoliga Minior (ouros, pratas e bronzes) a Empoliga Major (Free Elo), todas voltadas para o jogo League of Legends. O campeonato ainda conta com a Empoliga V, que tem o mesmo intuito das outras competições,  mas referente ao jogo Valorant. 

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Jogador Luan Roumillac segurando a bandeira do seu time. Foto: André Mariano

Em entrevista, o coach do time “Green Owls”, André Mariano, 26 (Magnotta), que atua na área há quatro anos, quando questionado sobre a falta de investimento no cenário, comentou: “Não conheço nenhum investimento da Riot Games no T3, então acredito que exista uma falta de incentivo.”

Já quando perguntado se às ligas menores como a Empoliga recebem atenção da Riot Games, respondeu, “Acho que o modelo de franquias do CBLoL foi muito positivo para o cenário competitivo profissional, mas admito que eu esperava que pelo menos parte dessa positividade se transformaria em melhorias no T3. Porém isso não foi o que eu vi. Por enquanto sinto uma falta de investimento por parte da Riot Games”, afirmou o Coach do time. 

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Luan Roumillac segurando o microfone enquanto se comunica com seu time. Foto por: André Mariano

Durante entrevista,  Luan Roumillac, 23, que participou de campeonatos da Empoliga pelo time “Green Owls” e joga League of Legends a 10 anos, conta “No geral, o servidor brasileiro carece de investimento por sermos uma liga muito grande e com uma das torcidas mais agitadas. O CBLoL e o CBLoL Academy estão bem em questão de investimento, mas ainda falta investimento em ligas menores para atrair novos jogadores profissionais.”

“Junto com essa falta de investimento em ligas menores, ainda existe o problema da falta de um chat de comunicação para os jogadores. É impossível você jogar um jogo competitivamente ou ranqueado sem um chat de voz para se comunicar com os seus companheiros de equipe”, completou.

Descentralização do servidor brasileiro

Um dos principais obstáculos que os jogadores brasileiros estão enfrentando durante as partidas das competições do jogo League of Legends é o problema da conexão online do jogo, que tem prejudicado os campeonatos amadores. Com isso os times brasileiros, em específico as pequenas ligas acabam tendo menos chances de uma boa colocação no ranking dos jogos, ou em alguns casos não conseguem nem mesmo competir.

Luan Roumillac, competidor da Empoliga, aponta a descentralização do servidor brasileiro do jogo como o principal empecilho durante as partidas competitivas e ranqueadas. “O servidor não se encontra centralizado no país, sua localização está em São Paulo, sendo este o único servidor para distribuição no país inteiro, e isso prejudica as partidas, pois alguns players, localizados em regiões como norte e nordeste acabam tendo sérios problemas de conexão e isso afeta toda a partida.”

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Desconexão da partida devido a possível erro de rede ou servidor

Captura de Tela por Sedated

O Engenheiro de Software e Mestre em Computação aplicada pela Universidade de Brasília, Renan Costas Filgueiras aponta que a dificuldade maior está na longa distância do servidor em transmitir os dados para uma região distante de sua localização, ademais a falta de um investimento maior em tecnologia em algumas regiões competidoras também contribui para isso. 

“O caminho que os pacotes de dados percorrem até chegar ao dispositivo do usuário é longo e pode levar a instabilidade em vários pontos dessa jornada. Devido ao tamanho do Brasil temos regiões muito afastadas que carecem de infraestrutura adequada que vai além do servidor do jogo desejado.” explica ele.

A possível criação de sub servidores do jogo no Brasil, não é uma resposta concreta para a solução do problema do servidor. Segundo Renan, “para alterar a localidade do servidor seria necessário um estudo a fim de verificar o impacto geral, pois a mudança pode melhorar sim certas regiões, porém piorar outras”, pontuou. 

Ele ainda ressalta que é preciso de uma infraestrutura melhor para de fato melhorar a conexão nacional do jogo. “A criação descentralizada de sub servidores ajudaria sim, porém ainda seria necessário investimento na infraestrutura geral da rede nos estados mais problemáticos”, completou.

A resposta para a solução da problemática do servidor brasileiro nas competições de jogos eletrônicos ainda é incerta, no entanto há esperanças de que haverá uma melhora na conexão dos jogos com a chegada do 5G. O engenheiro de software se demonstrou otimista, já que segundo ele o 5G permite uma conexão mais rápida, no entanto, mesmo com o upgrade das redes, ele acredita que a possível solução é que a conexão com a internet seja acessível a todos no país. 

“Acredito que para os campeonatos, a solução é ter uma rede unificada para o evento que irá garantir igualdade a todos sendo 5G ou cabeada.” Finalizou ele, reforçando que mesmo com uma rede de internet mais forte ainda assim o que de fato pode agir como solução para a problemática do servidor é o investimento igualitário em uma rede única para as competições de maneira que assim, possa beneficiar todos os players em qualquer região do Brasil.

Por Henrique Guimarães

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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