Torcida do Flamengo antifascista reclama de elitização do futebol

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Conhecido pelo seu poder de movimentar massas e emocionar multidões, o futebol promove mais um de seus espetáculos este sábado (29).

Apesar disso, a final da Copa Libertadores da América entre Flamengo e Athletico Paranaense tende a “ser a final mais esvaziada da história”, segundo fonte interna da Torcida Flamengo Antifascista.

Com os preparativos a postos para assistir a mais uma final do seu time, a Fla Antifa conta, em entrevista, a sua história e a sua visão diante do atual cenário do futebol e político brasileiro.

A final

Pela glória eterna, Flamengo e Atheltico Paranaense se enfrentam neste sábado (29), às 17h do horário de Brasília. A final acontece no estádio Monumental de Guayaquil, no Equador.

O time carioca vai em busca do tricampeonato, enquanto o CAP pode conquistar sua primeira Taça Libertadores da América. A disputa será transmitida, ao vivo, na TV aberta pelo SBT e na TV por assinatura pela ESPN.  Além disso, o jogo também estará disponível para o torcedor nos serviços por assinatura da Conmebol TV e da Star+.

Como tudo começou: Flamengo Antifascista

A história da Fla Antifa, como costuma ser chamada, começa no ano de 2013. Naquele junho, brasileiros espalhados por todo o território nacional se juntaram nas mobilizações conhecidas como Jornadas de Junho, reivindicando a manutenção do aumento nas tarifas do transporte público. “Os militantes perceberam que tinham algo em comum, além da causa antifascista, o amor pelo Flamengo”, revela o torcedor.

A organização funciona em núcleos, presentes nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Distrito Federal, Bahia e Minas Gerais. Com torcedores espalhados por todo o país, o movimento luta para “tomar e devolver o Clube ao seu povo. Ser popular não somente para além dos muros da Gávea”, revela a fonte.

O movimento, que tem angariado cada vez mais adeptos, tem seus princípios fundamentados na “propagação, agitação e solidariedade pela luta de classe”, diz o entrevistado, “nossos membros, em boa parte, são torcedores organizados e têm contribuído com os objetivos políticos do Movimento”.

Democratização do acesso ao futebol

Com ingresso mais barato àa142 dólares, equivalente 752 reais na atual cotação, a presença do torcedor na final da Copa Libertadores se tornou um sonho para poucos. Para o entrevistado que preferiu não se identificar, os altos preços associados ao futebol são fruto de uma elitização do espaço do esporte. “ O futebol moderno trouxe junto de toda a parafernália tecnológica, a indústria do entretenimento. Essa junção cria uma forma de consumo do esporte que está diretamente ligada à gentrificação dos espaços”.

A Flamengo Antifascista tem como uma de suas principais pautas a democratização do acesso ao futebol.

A instituição acredita que a luta deve ser travada com as organizações do futebol brasileiro e as próprias diretorias dos clubes. “Entendemos que uma das formas de mudar essa realidade é cobrar do clube uma postura condizente com a realidade financeira de boa parte dos seus mais de 40 milhões de torcedores”.

O problema é mais profundo do que se imagina, relata a fonte da torcida, e está enraizado na cultura do sócio torcedor do clube. “Criam-se planos de sócio torcedor com castas, onde o rico sempre consegue comprar ingresso antes do pobre e assim aumenta-se a distância social entre os que podem e os que não podem acompanhar o clube. Na arquibancada Rubro-Negra essa distância fica nítida para quem tem o olhar crítico a todo esse movimento”.

A glória eterna

O sábado do dia 29 ficará marcado como a quarta final única da Copa Libertadores da América. O novo modelo implementado pela primeira vez em 2019 tem gerado críticas, desde então, pela dificuldade logística e financeira para o torcedor que quer acompanhar o seu time de coração.

Para o torcedor da Fla antifa, a solução economicamente justa para a torcida seria a opção pela final dupla. “A fim de expandir sua marca, seguindo moldes europeus, a Conmebol criou essa alucinação de final única em países itinerantes. Não levam em conta, na escolha do local sede, o atual momento pandêmico mundial, a falência das economias neoliberais latino-americanas e muito menos a situação financeira dos torcedores”.

Questionado quanto ao que fazer para que a questão seja revisitada pelas instituições, o entrevistado reafirma que a reivindicação também deve passar pela diretoria de futebol dos clubes. “Uma diretoria que se preze, deveria ter como principal pauta, a defesa de sua própria torcida. Nesta final de sábado, os cartolas atuais não colaboraram com o deslocamento de suas torcidas organizadas e nem pleitearam junto a entidade sul-americana melhores condições para a segurança e acomodação do seu torcedor. A tendência é ser a final mais esvaziada da história. Uma vergonha para CONMEBOL e para a grandeza do Flamengo”.

Anistia das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro

Nesta sexta-feira (28), representantes das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro juntaram-se à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) para conversar sobre o projeto de lei que visa garantir a Anistia das torcidas organizadas do Rio de Janeiro.

A Torcida Antifascista do Flamengo já havia declarado apoio à causa em suas redes sociais. “Aprovar a lei de anistia é necessário para que o povo possa continuar sendo representado nos estádios. Censurar as organizadas é censurar o povo”, reafirma o torcedor sobre o tema.

O projeto de lei segue em discussão entre as entidades responsáveis, visando evitar um segundo veto pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. Para o representante da Fla Antifa, as organizadas precisam “manter a mobilização e mostrar para os seus integrantes a necessidade de se estruturarem politicamente para que as torcidas possam continuar existindo”.

O Flamengo é do povo

Com mais de 40 milhões de torcedores, as últimas pesquisas apontam o rubro-negro como o time de maior torcida no Brasil. Causa próxima ao coração da Torcida Fla Antifa, a representação do torcedor em todos os âmbitos do clube é essencial aos olhos do entrevistado. “Hoje, com cerca de 7 mil sócios aptos a votar. O Clube de Regatas Flamengo realiza uma eleição em formato arcaico, somente em modelo presencial, em sua sede e que efetivamente não ultrapassa a participação de 3 mil eleitores”.

Em 2021, a atual diretoria do Flamengo, comandada por Rodolfo Landim, foi reeleita nos moldes descritos pelo torcedor. A fonte reitera, no entanto, que não há interesse em mudar o modelo atualmente utilizado, “é desta ampla participação que a turma do Leblon tem medo. Talvez na tentativa de defender seus próprios privilégios. Como já ouvimos de conselheiros, isso transformaria a piscina da Gávea numa favela. Nós não somos o time da favela?”.

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