Um setor popular sem cadeiras no Mineirão está a caminho de se tornar realidade. Após ser aprovado em segundo turno pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o Projeto de Lei (PL) que permite a retirada de assentos em parte do estádio agora aguarda a sanção do governador Romeu Zema.
A medida, articulada pelo Deputado Professor Cleiton (PV), responde a um forte movimento das torcidas e, segundo o parlamentar, representa uma solução mais segura e econômica para o Gigante da Pampulha.
A iniciativa legislativa nasceu de uma demanda popular, impulsionada principalmente por torcidas organizadas do Cruzeiro.
“O que motivou foi o movimento dentro da torcida do Cruzeiro. A torcida começou a levar algumas faixas para o Mineirão solicitando um setor popular sem cadeiras”, explicou o deputado.
Grupos como Comando Rasta, Máfia Azul, Resistência Azul Popular e Torcida Pavilhão foram os protagonistas que levaram o parlamentar a convocar uma audiência pública para debater o tema.
O projeto atual reverte uma legislação de 2021 que proibia a remoção dos assentos, uma mudança que, segundo o deputado, foi um “erro”. A nova proposta busca alinhar o Mineirão a uma tendência nacional de resgate de espaços mais acessíveis e vibrantes nos estádios, permitindo que os torcedores possam “fazer aquilo que eles sempre fizeram, que era ficar em pé nos jogos”.
Economia e segurança
Além de atender ao clamor das arquibancadas, a retirada das cadeiras apresenta um forte argumento financeiro.
De acordo com o Professor Cleiton, a manutenção dos assentos gera um prejuízo significativo para a Minas Arena, concessionária que administra o estádio.
“Existe uma estimativa, especificamente do Mineirão, que por jogo se tem um prejuízo de R$ 70 mil a R$ 150 mil, em média, pelas cadeiras que são quebradas”, afirma.
Apesar disso, o deputado falou sobre preocupações técnicas sobre segurança, levantadas por especialistas durante as audiências públicas.
Ele garante que todas as questões, como a instalação de barras antiesmagamento e a reavaliação das saídas de emergência, estão sendo discutidas entre a Minas Arena e o Governo do Estado.
Ele se mostra confiante no resultado desses estudos: “Eu não tenho dúvida que o engenheiro vai apresentar que é muito mais barato retirar as cadeiras, fazer essas obras de segurança, do que manter da forma como se encontra hoje”.
Outro benefício apontado é o potencial aumento da capacidade de público do estádio, o que poderia impactar positivamente a arrecadação em dias de jogos.
Copa do Mundo Feminina
Um dos principais obstáculos para a mudança era o contrato de concessão do Mineirão, firmado para a Copa do Mundo de 2014 e que exige o chamado “padrão FIFA”, com assentos em todos os setores. Com a perspectiva da Copa do Mundo Feminina em 2026, a questão logística voltou à tona.
No entanto, o deputado minimiza a preocupação, citando uma experiência recente e bem-sucedida. “Em um show no Mineirão, para a colocação de um palco, a Minas Arena teve que tirar as cadeiras. Isso foi feito num tempo recorde, e a recolocação [também] num tempo recorde”, argumenta. Para ele, o episódio demonstrou que não há “nenhum segredo na possibilidade de retirada das cadeiras, ainda esse ano, caso o contrato seja firmado entre as partes”.
Próximos passos
Com a aprovação na ALMG, o governador Romeu Zema tem um prazo de 15 dias para sancionar ou vetar o projeto.
Caso não o faça, a lei é promulgada automaticamente pelo presidente da Assembleia. O Deputado Professor Cleiton acredita em um desfecho positivo. “Eu vejo que não vai existir nenhum empecilho em ele vetar ou não fazer a sanção desse projeto nos próximos dias”, projeta.
Após a sanção, o comitê gestor avaliador da administração do Mineirão deverá pautar o assunto em sua próxima reunião, iniciando a apresentação de cronogramas e análises técnicas. O movimento já ganha força, com uma visita técnica da Comissão de Esportes da Assembleia à Minas Arena para acelerar o diálogo.
Inspirado por iniciativas em outros estádios, como o Maracanã, que recentemente anunciou a retirada de cadeiras em seu setor popular, o Mineirão parece cada vez mais próximo de um setor popular. “O Mineirão agora, com essa segurança jurídica concedida pela Assembleia de Minas, não tem porquê de não fazer o mesmo”, conclui o deputado.
Por Eduardo Naoum
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira