“Me assusta que isso seja uma realidade”, diz norte-americana sobre tiroteios em massa
nos EUA

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Em 5 meses, o país registrou 268 ataques em massa em todo o território e 333 pessoas morreram

Arte: Maria Eduarda Bacellar | Colagem de fotos de Michael M. Santiago, David Becker, Rick Loomis, Joe Raedle, Stewart F. House e Screenshot via Toluwani Osibamowo via Getty Images

O número de tiroteios em massa nos Estados Unidos é alarmante. Em 2023, de janeiro a maio, já
foram registrados 268 ataques em massa. Os dados são do Gun Violence Archive, que coleta dados
de violência nos EUA, e levam em consideração os ataques até o dia 31 de maio de 2023.

Em 2019, período pré-pandemia, o país registrou 415 ataques. Já em 2020, foram 610. Em 2021, 690. Um aumento progressivo. Entretanto, em 2022, houve queda para 646 tiroteios em massa. Em
2023, de janeiro a maio, já foram registrados 268 ataques em massa.

Anna Sampson, de 14 anos, é norte-americana e vive na cidade de Dubuque, no estado de Iowa,
desde de 2022. Ela explica que desde o início da vida escolar, os alunos são treinados para situações
de perigo envolvendo tiroteios em massa. “Se você ver alguém, você precisa avisar para o professor
mais próximo que será encarregado de avisar a secretaria”, disse. Ela afirma que os treinamentos
são realizados uma vez por semestre letivo.

“É muito assustador pensar nisso e eu desejo que nós fossemos mais preparados. Eu não tenho
certeza do que fazer. Eu também sinto que eles poderiam explicar melhor [os procedimentos de
proteção]. Me deixa muito triste e dói o meu coração pensar que alguém poderia fazer isso,
especialmente, quando atacam crianças. Me assusta que isso seja uma realidade e que poderia
acontecer na minha escola algum dia”, contou Sampson.

Em 4 anos e 5 meses, os tiroteios deixaram 10.729 pessoas feridas e 2.559 pessoas mortas. Somente
em 2023, foram 333 mortes. Neste ano, dos 51 estados, os que mais tiveram registros foram:
Califórnia (22), Texas (21), Louisiana (19), Pensilvânia (16) e Flórida (15). Já os que menos
registraram foram: Connecticut (1), Hawaii (1), Maine (1), Massachusetts (1), Nevada (1), New
Hampshire (1), Oregon (1) e Utah (1).

Os seguintes estados não registraram nenhum tiroteio no período indicado: Alaska, Delaware, Idaho,
Iowa, Kansas, Montana, Nebraska, Dakota do Norte, Rhode Island, Dakota do Sul, Vermont, West
Virginia e Wyoming.

O que pode influenciar o número de tiroteios em massa?

Levando em consideração os dados de frequência de registros, a reportagem analisará 3 tópicos que
podem influenciar nos ataques. São eles: os estados mais ricos do país, os mais seguros e aqueles
que não possuem restrições para porte de armas.

Segundo levantamento de 2023 da Wisevoter, os 5 estados mais ricos dos EUA são: Distrito de
Columbia, Nova York, Massachusetts, Washington e Califórnia. O ranking leva em consideração o PIB
per capita de cada estado. Já os 5 estados mais pobres são: Idaho, West Virginia, Alabama, Arkansas,
Mississippi.

Entre os estados mais ricos, a Califórnia é o único que aparece também na lista de mais registros de
tiroteios em massa. Inclusive, foi o que mais registrou casos, contabilizando 22.

No quesito de segurança, a Wisevoter diz que, levando em consideração o número de mortes por
arma de fogo, os 5 estados mais seguros são: Distrito de Columbia, Hawaii, Rhode Island, Vermont e
Dakota do Norte. Desses, o Hawaii é o único estado que aparece na lista de menos registros de
tiroteios em massa nos primeiros 5 meses de 2023. A lista dos estados mais perigosos é: Texas, Califórnia, Flórida, Geórgia e Ohio. Desses, Texas, Califórnia e Flórida estão na lista de mais registros
de tiroteios em massa.

Sobre a liberação do porte de armas, os Estados Unidos apresentam uma legislação que garante que
cada estado defina suas políticas de porte. Com isso, são 29 estados que têm restrições de armas e
22 sem restrições de armas. Um levantamento da US Concealed Carry (USCCA) leva em consideração
aqueles que possuem o chamado Porte Constitucional.

O “porte constitucional” é a possibilidade de portar uma arma de fogo sem restrições do governo.
Em um estado de porte constitucional, não há licenciamento ou treinamento exigido para portar
legalmente uma arma de fogo.

A Califórnia é o estado mais violento?

A Califórnia fica no oeste dos Estados Unidos e tem 423.970 km². Segundo o Departamento do
Censo dos Estados Unidos, com dados de 2020, a população do estado é estimada em 39.538.223 de
pessoas. O estado não tem o chamado porte constitucional, ou seja, tem restrições ao porte de armas ao longo do seu território. Além disso, aparece na lista de estados mais ricos do território norte-americano.

Em 2023, 22 casos de tiroteios em massa foram registrados no estado da Califórnia. O primeiro
registro ocorreu em janeiro, já o mais recente foi feito em maio do mesmo ano. Os números dos
primeiros 5 meses de 2023 representam 44,9% dos registros de todo o ano de 2022. Os registros de
tiroteios em massa na Califórnia desde 2019 são: 49 (2019), 39 (2020), 45 (2021) e 49 (2022).

Note que nos dias 23 de janeiro, 4 de março e 7 de maio foram registrados mais de um tiroteio em
massa no estado e em cidades diferentes.

Como esta reportagem foi feita?

A ideia para a realização desta matéria no âmbito do jornalismo de dados partiu da presença
significativa de casos de tiroteios em massa nos Estados Unidos na mídia brasileira. Os casos
passaram a ser relatados com frequência depois de ataques em escolas brasileiras nos primeiros 5
meses de 2023.

A partir disso a plataforma Gun Violence Archive serviu de base para o fornecimento de dados de
violência no território norte-americano. Com os números relatados, a reportagem tem o intuito de
trazer ao leitor a análise sobre os tópicos que podem influenciar nos registros dos tiroteios.

Para complementar a sustentação dos argumentos apresentados, foram utilizados levantamentos da
Wisevoter e da US Concealed Carry para realizar a análise dos números.

A reportagem teve o uso da plataforma Infogram para fazer os infográficos interativos e usou
planilhas do Google Sheets para estruturar os dados.


Por Maria Eduarda Cardoso e Maria Eduarda Bacellar
Supervisão de Mônica Prado

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