![](https://agenciadenoticias.uniceub.br/wp-content/uploads/2023/11/repatriados.jpeg)
Foto: Agência Brasil
Depois do processo de retirada de brasileiros na Faixa de Gaza, região mais crítica do
conflito entre o grupo terrorista Hamas e Israel, o diplomata e subchefe da Divisão de
Mecanismos Políticos Regionais do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Luís
Fernando Wasilewski, explicou o processo que envolve uma repatriação.
“Em geral, o Brasil tem uma boa rede de embaixadas e consulados, então [quem vai cuidar do processo] será uma embaixada e um consulado local. Mas quando não existe, seria uma embaixada ou consulado
[de um país] próximo que vai encaminhar essa demanda”, explica.
Nos últimos dois anos, o governo brasileiro teve que operar dois grandes processos de
repatriação. As guerras na Ucrânia e Israel, que estouraram em fevereiro de 2022 e outubro
de 2023, respectivamente, exigiram uma operação da diplomacia brasileira e do governo para
que os cidadãos pudessem retornar em segurança.
Wasilewski diz que ambas as operações de repatriação, da Ucrânia e de Israel, foram
feitas rapidamente, mas a da Ucrânia ocorreu em um tempo menor devido ao fato de ter
menos brasileiros no país. “Na Ucrânia, a guerra está sendo traumática, mas em Israel talvez
tenha sido um ataque mais inesperado e a maior quantidade de brasileiro lá, se comparado
com os que estavam na Ucrânia.”
Wasilewski conta que no caso da Palestina a situação é mais complexa. “O governo
brasileiro teve autorização da Autoridade Nacional Palestina, que ainda não é reconhecida
como o governo autónomo”, relata.
O pedido de repatriação é feito pela plataforma digital da embaixada brasileira a partir
do momento em que há uma autorização do governo local. É necessário preencher um formulário e, após isso, será gerado um comprovante informando onde o interessado deve se
apresentar, que dia e a que horas. Na data, esse documento servirá de passagem para
embarcar na aeronave designada.
“A gente estava no meio da guerra”
No contexto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, os brasileiros que desejavam retornar
tiveram que se deslocar até Varsóvia, capital da Polônia. Isso porque a capital da Ucrânia,
Kiev, estava em situação de perigo e sofria um grande número de ataques russos. Por isso, a
cidade estava inapta de receber voos estrangeiros. A ucraniana Anna Bondar, de 37 anos,
conta que só depois de duas semanas as pessoas conseguiram deixar Kiev. “Já não tinha
como sair com o carro, porque tudo estava fechado. O único jeito de sair era de trem”, relata.
“Eu entrei em contato [com o governo brasileiro], mas eles não tinham como ajudar, porque
na verdade eles também nem sabiam o que fazer, porque a guerra começou do nada”,
completa.
![](https://agenciadenoticias.uniceub.br/wp-content/uploads/2023/11/IMG_3513.jpg)
As pessoas que estavam na Ucrânia tinham que ir até a cidade da fronteira com a Polônia,
chamada Lviv, para conseguirem sair do contexto da guerra. Anna morou no Brasil entre
2015 e 2021 quando resolveu voltar para a Ucrânia.
Ela tem dois filhos de pai brasileiro, que estavam com ela em Kiev quando estourou a guerra. Seu filho mais novo tinha pouco mais de 1 ano em fevereiro de 2022 e ela conta que sentia muito medo pelos filhos. Logo após o início da guerra, eles foram para a casa da mãe de Anna e, às vezes, dependendo de ataques, iam também para um abrigo. Nesse período os filhos dela ficaram doentes, “provavelmente
alguma virose”, nas palavras de Anna, e não havia como sair dali.
Ataques aconteciam a somente 10 quilômetros de distância da casa de Anna. Essa
proximidade também dificultou a saída dela e dos filhos em direção a Lviv. “Dava para ouvir
tudo. Tinha um prédio que era uns 200, 300 metros , eu acho, do prédio onde a gente estava.
Ele estava destruído. A gente estava no meio da guerra mesmo.”
“Você fica tenso só de olhar para o céu”
No contexto da guerra entre o grupo terrorista Hamas e Israel, estava o brasileiro Antônio
Odorico Carneiro, de 56 anos, e a esposa dele. Os dois chegaram a Jerusalém na manhã do
sábado em que os ataques começaram, em 7 de outubro de 2023.O casal fazia um passeio no
Jardim de Gethsemane, que faz parte de uma peregrinação religiosa, que é um tipo de turismo
popular no país. “Eu olhei para cima e vi aqueles parapentes. Achei que eram pessoas
fazendo por lazer. Até mostrei para minha esposa. No momento, nem imaginava que aquilo
poderia ser um ataque terrorista. Mas, depois de um tempo, começaram a aparecer os caças F
16 e F 36, aí percebemos que algo não estava certo”, conta Antônio.
O passeio deles teve como ponto de partida a cidade de Nazaré, no norte de Israel. Em
seguida, a peregrinação foi para Jerusalém, onde estavam quando tiveram seu passeio
interrompido devido a ataques e a declaração de guerra de Israel contra o Hamas.
Antônio conta que ficaram no hotel durante quatro dias. Não era permitido sair e, em alguns
momentos, tinham que ir se abrigar no bunker. As incertezas geravam medo. “No grupo tinha
uns padres. Eles celebravam a missa todo dia. Isso foi muito bom, acalmou as pessoas”,
conta. “Você fica tenso só de olhar para o céu”.
Ele e a esposa conseguiram vaga no primeiro da FAB, que foi até Israel resgatar os cidadãos.
Ele contou que têm um amigo que é Brigadeiro e os informou que o formulário para pedir
repatriação já estava disponível. “Fomos um dos primeiros a enviar para Embaixada”,
completa.
Foto: Arquivo pessoal
Em 11 de outubro saíram do hotel em Jerusalém e foram para Tel-Aviv para
embarcar na aeronave de resgate. Ao chegarem lá, as incertezas e os perigos causados pela
guerra tomavam conta dos terminais. Ele contou que foram avisados, por um funcionário da
Embaixada Brasileira, que tinham que estar preparados para imprevistos. “Aí ele avisou:
‘olha, se vierem foguetes, se tocar a sirene, vocês correm para algum local, deitem no chão,
protejam as cabeças. Porque o foguete na hora que ele explode e joga pedaços para todos os
cantos”, explica.
Antônio e mais 211 brasileiros decolaram de Tel-Aviv às 19:00, dando início ao resgate de
cidadãos do território israelense. A aeronave pousou em Brasília em 12 de outubro por
volta de 4h10.
Por Luana Adnet
Supervisão de Isa Stacciarini