Professor em geografia humana esclarece como esses eventos ambientais se resumem a uma escolha e uma decisão política
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Criador: Angelo_Giordano | Crédito: Image by Angelo_Giordano/Creative Commons
“Naturalizar a tragédia é eximir o Estado e os governantes da responsabilidade perante as populações vulnerabilizadas”. Essa é a visão do professor de geografia humana Everaldo Batista da Costa.
Ele elenca que calamidades sísmicas em países como Turquia, Síria, Afeganistão, Paquistão e Equador fizeram com que especialistas se questionassem. Alguns países apresentam numerosas mortes e estragos, enquanto outros não tomam a mesma proporção.
O professor relata que a habitação sobre a Terra se dá de maneira distinta em cada ponto do planeta. Com isso, os riscos e as vulnerabilidades ambientais não existem até que determinadas porções sejam ocupadas.
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Capitalismo e morte
Para poder se embasar sua perspectiva, o professor cita o sociólogo alemão Ulrich Beck, que publicou o livro, Sociedade de Risco (1986). Ele defende que a sociedade moderna é envolta numa cultura onde a produção social da riqueza é acompanhada sistematicamente pela produção social de riscos. Ele avalia que existe uma indústria capitalista que cresce e favorece a tragédia.
“Então, a não solução por parte do Governo e do Estado favorece o capital e o capitalismo, é uma grande contradição. É um ciclo de reprodução ampliada do capitalismo, com o discurso da violência e o discurso da morte.”
“Intencionalidade”
Ele explica que o terremoto em si é um fenômeno natural. As mortes causadas por eles se dão por uma ação, uma intencionalidade humana de ocupar territórios com passividade a esses tremores. E as tragédias são construções políticas por não ordenar as regiões a favor da vida humana.
Ele exemplifica com dois extremos países sumamente sísmicos, México e Japão. O primeiro construiu sua capital, a Cidade Do México, sob um lago aterrado. E que consequentemente ao longo dos anos está se afundando, sendo perceptível ao andar pela cidade ver edifícios históricos inclinados.
Já o segundo é um país formado por um conjunto de ilhas, altamente tecnológico e tecnificado. Porém, o que torna o Japão totalmente diferente é suas respostas às tragédias. Historicamente, culturalmente e politicamente preparado para enfrentar os desafios que a natureza lhes impõe.
Características
O professor Everaldo Batista compara a Cidade do México a São Paulo, duas das maiores cidades do mundo. A mexicana é caracterizada pela horizontalidade, já a brasileira tem seu cenário de edifícios e arranha céus.
Alguns pontos, segundo o docente, que podem servir de parâmetro para poder explicar o porquê de alguns locais serem mais propensos à tragédias ambientais são: a densidade populacional, o tipo de construção e distribuição da população sobre o território (verticalidade ou horizontalidade).
Ele defende que o papel dos representantes do Estado é promover a igualdade. E favorecer que as pessoas em condições de vulnerabilidade tenham acesso a moradias dignas e não estejam vivendo em áreas consideradas de risco.
Por Ana Beatriz Cabral Cavalcante
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira