A plataforma Media Cloud identificou, nesta semana, que a notícia do depoimento da influencer Virgínia Fonseca, na CPI das Bets, teve 299 notícias inéditas publicadas enquanto que a execução de traficantes pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), só renderam 56 materiais nos veículos observados pela plataforma. Os dois episódios ocorreram na terça (13 de maio).

Naquela data, moradores do Morro do Timbau, a favela mais antiga do Complexo da Maré no Rio de Janeiro, acordaram com o barulho de tiros da operação do Bope.
O bairro da zona norte do Rio de Janeiro teve 70 linhas de ônibus desviadas, duas escolas fechadas e outras 43 unidades impactadas pela ação policial.
Operação do Bope
A ação do Bope foi responsável pelas mortes de Thiago da Silva Folly, conhecido como “TH da Maré, apontado como principal liderança do Terceiro Comando Puro (TCP), e dois de seus seguranças.
Enquanto isso, os veículos ficaram mais atentos às atitudes de Virgínia, influenciadora digital que foi chamada para depor a favor da publicidade de apostas virtuais, no Senado Federal.
O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), encontrou o traficante em um “bunker” no Morro do Timbau, e após trocas de tiros, TH da Maré e seus dois seguranças foram encontrados mortos.
O suposto líder do TCP estaria envolvido na morte de dois agentes do Bope, em julho do ano passado.
A repercussão do caso nas redes causou muita comoção, a palavra chave “BOPE” apareceu nas principais posições nos “Trending Topics” do X.
Audiência da CPI
Mais tarde no mesmo dia, Virgínia Fonseca, abriu sua audiência pública com uma fala que causou polêmica nas redes sociais: “Que Deus abençoe nossa audiência e bora para cima”.
A influenciadora, que acumula mais de 100 milhões de seguidores em suas principais redes sociais, foi chamada para depor no Senado a respeito do seu suposto envolvimento com casas de apostas.
Sua presença no plenário causou muita repercussão nas redes sociais, é o assunto número 1 do Trending Topics do “X”.
Plataforma na qual internautas se divertem caçoando da figura pública, mas esquecem de observar as ações policiais que voam abaixo do radar da opinião pública.
A maior parte das reportagens divulgadas sobre a audiência são de caráter sensacionalista.
Os portais de notícias divulgam informações sobre vestimenta, falas e intrigas de Virgínia, mas esquecem de abordar o tema central da CPI, que é a gravidade da divulgação de jogos de azar sem a regulamentação devida.
Disparidade
A apuração por meio da plataforma Media Cloud, que permite mapear o noticiamento virtual, aponta que no dia 13 de maio ,entre as 1214 plataformas brasileiras de mídia, (como G1, Estadão e UOL).
O fato desperta atenção sobre quais são os critérios de noticiabilidade considerados prioritários. A intensidade do acontecimento foi deixada de lado, uma vez que o episódio no Rio de Janeiro afetou mais uma comunidade do que um depoimento que não teve reflexo algum na investigação.
Não se pode negar que os jogos de azar, como as apostas esportivas, que foram liberadas pelo governo, devem ser observadas muito de perto e que pode haver reflexos na economia popular e na saúde mental da população. Porém os jornalistas preferiram apostar mesmo na audiência que a influencer poderia provocar, o que chamamos de “notoriedade”.
Cabe à sociedade exigir mais didatismo. Cabe à imprensa fazer autocrítica e aos gestores públicos promoverem educação midiática sobre o que importa para a coletividade. Assim, o público terá mais chance de distinguir o que faz ou não diferença no cotidiano.
Por Artur Maldaner e Rafael Soares
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira