
Diante da divisão social estabelecida pelas eleições de 2018, há quem pense que o momento foi único. No entanto, segundo o historiador Frederico Tomé, houve outros períodos políticos marcados por percalços, como a eleição de 1922, na qual foi vencedor o presidente Arthur Bernardes. “Foi um período bastante agitado, com a Coluna Prestes, por exemplo”, exemplifica. Outro momento citado pelo pesquisador foi 1934, com Getúlio Vargas no poder.
A vitória de Arthur Bernardes em 1922 teve uma disputa entre oligarquias. O historiador diz que durante o mandato (1922-1926) houve um governo de tensões e de estado de sítio. Foi no governo de Arthur que aconteceu a Revolta do Forte de Copacabana (1922) e a Coluna Prestes (1925-1927), movimentos políticos bem intensos de acordo com o pesquisador.
Confira abaixo entrevista com o professor em que ele cita semelhanças com o momento atual.
Acirramento no presente
De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, o Brasil liderou no ano passado o ranking mundial de desaprovação da liderança política, atingindo um número de 86% da população, 27% a mais que 2014, onde esse número de desaprovação chegou a 61%. As eleições políticas que marcaram 2018 foi uma das mais polêmicas e faladas já registradas na história.
Diferentes fatores interferiram nessa polarização. De acordo com o historiador Frederico Tomé, o fato da eleição ser disputada no segundo turno nos levou para um cenário de confronto entre direita e esquerda.
Desgaste do Partido dos Trabalhadores (PT)
Frederico diz que uma das questões que nos trouxe ao cenário político atual foi o desgaste sofrido pelo PT no decorrer desses 14 anos. Em 2016, houve uma ruptura traumática com o impeachment da então presidenta Dilma que acabou encerrando o ciclo de um governo marcado por denúncias de corrupção e alguns desvios.
Porém, o historiador ressalta que efetivamente, o governo do PT foi marcado por ganhos sociais consideráveis. Segundo ele, houve inclusão de uma parcela significativa da população que até antes era desconsiderada e essa parcela passou a fazer parte desse orçamento do Estado.
De acordo com a análise do professor , esse desgaste do PT foi acentuado em dois momentos. O primeiro pela quebra de um pacto político informal que sustentava a divisão política entre uma centro-direita e uma centro-esquerda, a primeira comandada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e a segunda pelo PT. Já o segundo momento foi em 2013, nas manifestações de julho que levaram milhares de pessoas às ruas daquele ano. Naquele momento o pacto que estava fragilizado foi então rompido.
Tivemos então uma ascensão da extrema direita que tem sido uma onda mundial de acordo com o historiador. Com um discurso cada vez mais acirrado, onde o antipetismo estava exposto e o discurso da antipolítica tomou força. Isso aumentou muito a polaridade política que tivemos nessas últimas eleições.
Por Veber Arruda