Durante todo o periodo das eleições, fica claro a disparidade entre candidatos do sexo masculino e feminino nas candidaturas. Longe de serem isolados, no ano de 2022, houve um aumento de 1% em postos configurados por mulheres ao Senado e na Câmara dos Deputados. Apesar de não ser números ideais ainda, isso reflete o contexto histórico de radicalização, apologia ao patriarcado e ao discurso de ódio contra grupos da sociedade – e, muitas vezes, endossados pelo presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL).
“O ambiente político em si já é uma dificuldade extrema para as mulheres devido à cultura patriarcal do Brasil, tendo que equilibrar a vida política com a vida pessoal, casa e filhos. Ademais, outra preocupação é a falta de visibilidade das mulheres, que não tem incentivo para a participação política e sempre são ofuscadas dentro de suas campanhas”, revela a pesquisadora e aluna de direito, Maria Fernanda Monteiro.
Conforme o Cadastro Eleitoral de 2022, as mulheres são maioria do eleitorado brasileiro, com 52,65%. Porém, esse valor não corresponde à representatividade feminina no Congresso Nacional. Apesar do aumento em relação a 2018, as mulheres ainda estão longe de ocupar o mesmo número de cadeiras que os homens. Nas eleições deste ano, foram eleitas 86 deputadas federais, menos de 20% das 513 vagas em disputa. No Senado, foram eleitas quatro senadoras de um total de 27 cadeiras em disputa.
Para a professora de Ciência Política na Universidade de Brasília Camila Santos, o pequeno aumento veio devido à maior voz gerada pelas mulheres. “As mulheres têm denunciado mais casos de violência política e não só em cargos presidenciais, mas em cargos legislativos também. Isso acontece muito pelo fato de que está havendo uma educação da sociedade das mulheres de que o que é correto e o que não é no ambiente”, discorre.
Entretanto, as mulheres ainda têm um caminho maior a ser percorrido. O financiamento da campanha é uma das barreiras para aumentar a representatividade feminina na política. “Os partidos vêem que candidaturas de homens brancos têm mais chances de vencer, por isso eles investem mais dinheiro na campanha. A mulher, por não ser vista como uma candidatura competitiva, é subfinanciada”, explica Camila Santos.
Outra dificuldade notória na vida das mulheres que almejam adentrar a vida política é a conciliação com a vida pessoal. “É um empecilho sim as questões sobre conciliação de vida pessoal, vida familiar. As mulheres historicamente a gente vê que quando elas adentram a política, elas adentram mais tardiamente. Elas não entram assim que a política, assim que já tem idade para exercer um mandato legal no país, dezoito anos, uma mulher não, elas demoram mais para adentrar esse campo político”, destaca a cientista política.
Dessa mesma forma, ela alega que às vezes somente depois dos quarenta anos – depois que já estabeleceu uma família – isso acontece. Motivo: existe toda a questão do machismo que se mostra dentro da sociedade, de que a mulher foi feita para ficar em casa, mas também porque há todo esse preconceito da mulher.
Não é de hoje que mulheres não se sentem representadas nesse meio. “O machismo estrutural da sociedade na totalidade mostra que o campo político não é um campo das mulheres. Tanto que as mulheres foram ter o direito ao voto apenas em 1932 no Brasil e só foram conseguindo exercer de fato livremente, mas depois da democratização”, comenta Camila.
Ela completa que há toda uma questão de que as mulheres não são incentivadas à participação como candidatas pelo fato das candidaturas femininas não serem vistas como competitivas. “Faz com que os partidos não queiram que essas mulheres adentrem, o que a gente tem visto nos últimos anos para tentar mudar esse cenário são justamente iniciativas ONGs. Essa sociedade civil visa incentivar não só o voto feminino, mas uma candidatura feminina e também temos a questões institucionais, como as mudanças nas leis, para que as mulheres tenham mais direito a financiamento de campanha, que elas consigam participar do ambiente político”, analisa a docente.
Para Maria Fernanda Monteiro, aluna de direito, as esperanças são ainda melhores. “O Judiciário felizmente vem tentado alterar esse cenário, com isso conquistamos a emenda constitucional nº 117 que obriga os partidos a disponibilizarem pelo menos 30% dos recursos públicos destinados às campanhas eleitorais para as candidatas mulheres. O resultado dessa eleição foi no mínimo satisfatório”, diz.
Por Débora Sabino e Monique Del Rosso
Supervisão de Vivaldo de Sousa