O ex-ministro e diplomata Celso Amorim, do Itamaraty, ironizou a condução da atual política externa do atual governo: “existe?”, perguntou. Para ele, as medidas tomadas pelo ministro das Relações Exteriores, José Serra, têm desconstruído o trabalho internacional feito pelo ex-presidente Lula. Certas atitudes como a intromissão na política de outros países, como ocorrido na Venezuela, só apequenam a nação e mostram, o que chama de “guinada à direita” de nossa diplomacia. “Agora o Brasil vai voltar para o seu cantinho pequeno no qual nunca deveria ter saído”, lamenta.
Segundo Celso Amorim, o Brasil adotou posições de tamanha hostilidade e partidarismo com relação ao governo venezuelano, que inviabilizou a possibilidade de ser o mediador dos conflitos no país vizinho. Ele explica que não adianta condenar ou tomar posição com relação a um lado, pois acaba de fora de qualquer possibilidade de ajuda. “O Brasil é metade da América do Sul em território e em população, então tem de ter uma influência muito importante, e não pode abdicar dessa influência. Porém ao adotar posições muito radicais, nós abdicamos desse protagonismo”.
Com o “partidarismo” adotado pelo Itamaraty pela atual gestão, o ex-ministro se diz preocupado que o MercoSul esteja sendo usado como forma de pressão em favor de determinada “facção”. “Se a Venezuela precisa mudar? Claro que sim, mas todos reconhecem que é necessário diálogo”. O diplomata lembra também que hoje é criticada, mas a entrada do país vizinho no MercoSul foi uma maneira de ajudá-lo. “Talvez não tenha sido totalmente bem sucedido, mas isso não se resolve passando para a posição contrária. Se resolve redobrando os esforços e mostrando que a democracia plena é o melhor caminho”, ressalta.
Protagonismo
É importante o Brasil ter um protagonismo nos grandes temas mundiais. Contudo, os sinais de nossa política externa não são animadores, acredita Amorim. As críticas eram frequentes quando ocupava o comando do Itamaraty, porém muitas delas não queriam que o país continuasse a “irritar” as nações desenvolvidas. “O Brasil não pode temer contrariar os interesses das grandes potências quando eles forem contra os nossos próprios interesses e visões do mundo”, afirma contrariado.
“Ao contrário do que muita gente imagina, as posições que o país adotou só fez a gente ganhar respeito no cenário mundial”, esclarece o diplomata. Ele cita a crise no Iraque como exemplo. “Ao tomar essa atitude de condenarmos a invasão norte-americana (no Iraque) só ganhamos respeito”. Também é importante lembrar que o protagonismo do Brasil foi percebido pelos outros países, mas no Brasil uma parcela da população queria continuar a ser pequeno, explica Amorim.
O Itamaraty não comentou as declarações de Celso Amorim.
Por: Lucas Valença
Foto: Antonio Araújo