
“Faria exatamente tudo o que fiz”, disse o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, sobre o protesto, que considerou “democrático”, realizado em Cannes contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O protesto incluiu todo elenco de “Aquarius” encabeçado pela estrela Sônia Braga. O filme rodado no Recife foi preterido na escolha para representar o Brasil como candidato a melhor filme estrangeiro no Oscar. A comissão do Ministério da Cultura responsável pela seleção optou pelo filme “Pequeno segredo”, de David Schurmann. Kleber Mendonça esclarece que não reclama da atitude do Ministério da Cultura, mas “apenas aponta” que não faz o menor sentido “Aquarius” estar de fora do prêmio.
Confira trailer do filme
Kléber Mendonça Filho entende que o país passa por um momento delicado e que é preciso reafirmar as ideias de democracia. Ele explica portanto, que uma das formas de expressão, e de combate ao que considera um “golpe”, se dá, na sociedade, pelos movimentos culturais, mas estão ameaçados. Lançado em mais de 60 países, o filme ‘Aquarius’ tem sido considerado pela equipe um sucesso de bilheteria, mas não vai disputar o Oscar. Segundo o diretor, houve retaliação por parte do governo de Michel Temer (PMDB).
Para o cineasta a produção cinematográfica brasileira está em um nível como “nunca” esteve antes. Ele também acredita que a crise política em que passa o país será inspiração para obras futuras. “A gente está vivendo um grande momento para o humor”, ressalta. Ele também explica que há um investimento maior em cultura, por parte do Estado, e uma maior democratização dos investimentos, ou seja, regiões como o nordeste passaram a ter investimentos para realizar filmes que antes só lugares como o Rio de Janeiro e São Paulo poderiam.

Ao ser questionado em palestra sobre a falta de atores negros em no novo longa, Kleber Mendonça Filho esclarece que o preconceito e o racismo está entranhado na sociedade brasileira e que é preciso ser fidedigno com a realidade do país. “Nenhum filme meu vai tentar consertar o Brasil. O país tem problemas de racismo e o filme é totalmente plausível em nossa sociedade”, afirma. Mesmo assim, o ator lamenta a existência de tamanho preconceito.
Oscar
O diretor do filme ‘Aquarius’ explica que a produção foi prejudicada pelo governo após protestos em Cannes envolvendo a equipe Para ele a discussão girou em torno de qual seria o melhor filme, mas esse método é bastante subjetivo, e por essa razão, nos últimos anos esse critério não tem sido adotado. “A discussão deveria ser vista de forma técnica. Essa coisa de Oscar, funciona com relação à prestígio e o filme brasileiro de deste ano é Aquárius. Nós estamos com distribuição em 60 países e mais de 300 mil pessoas no Brasil já assistiram”, argumenta.
Mesmo não assistindo o filme escolhido para concorrer ao Oscar, ele enfatiza que a questão precisa ser técnica. “Pode até ser que seja um bom filme, mas ele terá de construir toda uma carreira para chegar onde o Aquárius já está há meses, e nesse sentido é uma questão técnica e não uma questão de qual é o melhor filme”, afirma.
Outro aspecto criticado foi a comissão montada para escolher o filme que irá concorrer ao prêmio. Um dos integrantes, um jornalista de entretenimento, gerou polêmica, pois antes da decisão já havia criticado “intensamente” o filme. “Ele inclusive espalhou mentiras de que estávamos em Cannes para fazer protesto e tirar férias . Foi uma pessoa como essa que está na comissão, que deveria estar fazendo um trabalho sério, estratégico e técnico para o cinema brasileiro”, condena.
Filme feito com dinheiro público vai a Cannes e não leva prêmio algum. A mentira do golpe só serviu para expor o Brasil ao ridículo.
— Marcos Petrucelli (@Petrucelli_) 22 de maio de 2016
Por: Lucas Valença e Bruno Santa Rita
Fotos: Divulgação