Márcia Tiburi: “sem tolerância com discurso de ódio”

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Desde o mês passado, a filósofa Márcia Tiburi, autora de “Como conversar com fascistas”, tem sido alvo de ataques e respondido ainda perguntas depois de ter se recusado a debater com o ativista Kim Kitaguiri, do Movimento Brasil Livre (MBL) em uma emissora de rádio gaúcha durante julgamento do ex-presidente Lula no TFR-4 (dia 24/2).

“Foi uma falta de ética da rádio, da produção e do jornalista que não me avisaram que eu teria debatedoras. Eu fui para uma entrevista sobre o meu livro”. Segundo ela, é impossível realizar um diálogo com uma pessoa que tem um discurso pronto de ódio, de cancelamento dos direitos e que faz uma propagando fascista.

Ela acrescenta que as pessoas não interpretam corretamente o título do livro, que é irônico. “Devemos ter um discurso democrático e com amor, mas sem tolerância com o discurso de ódio”. Para ela, esse conflito com Kim foi mistificado pela mídia.”Houve toda uma produção de fake news com o que aconteceu e uma perseguição que não cessa por parte desse movimento em relação a minha pessoa”.

Autoritarismo no Brasil

A filósofa aponta que existe tendência pró-militarista adotada inclusive por muitos jovens como desespero e falta de reflexão. “Há um desespero das classes mais favorecidas que morrem de medo de uma revolução, de uma revolta das classes exploradas”.Além disso, avalia o papel das mídias como produtora do sistema.“Não é um exagero dizer que atualmente o Brasil é comandado por um sistema mafioso”. Para ela, a televisão faz uma “cortina de fumaça” para a população não se rebelar diante da perda dos seus próprios direitos .

A escritora entende essa intervenção militar como “uma tática espúria do governo golpista, sendo que esse governo golpista tem ainda a delirante esperança de levar algum voto no processo”. De acordo com Tiburi, as pessoas afetadas já perceberam que o problema da segurança deve ser resolvido por meio do acesso à saúde e educação e não por intermédio da força do exército.

Márcia comenta também a descrença da população com as eleições e com os partidos políticos como consequência da substituição do discurso político por uma ideia de pragmatismo econômico. “Se demonizou a política, e criou uma ideia de que a política deve ser gestada economicamente. Enquanto esse imaginário continuar, os donos desse discurso e do poder vão ganhar com isso. Isso precisa acabar. Nós precisamos ocupar a política, o povo precisa ocupar a política. Precisamos acabar com esse congresso nacional.”


A luta das mulheres

Márcia é conhecida por sua produção de livros sobre o empoderamento das mulheres tanto na filosofia como na sociedade. Ela comentou as homenagens do Dia Internacional da Mulher e o verdadeiro significado da data. “O mês de março está cada dia mais politizado e perigoso. A mídia hegemônica tenta transformar esse dia em um dia de mulheres e flores. Enfim, tenta associar a vida das mulheres à um universo feminino de um mundo fashion, doméstico e cor de rosa. Algo que não tem nada a ver com a vida das  mulheres reais”.

Mas ela vê a importância de existir uma data que lembra da lutas que mulheres vivem contra o machismo. “Apesar disso, o dia 8 de março é um dia internacional marcado por lutas feministas, mulheres em greve e muitos eventos. As mulheres se apropriando de um lugar de feminismo que rompe com a idealização da mulher para o machismo”.

Além disso, comentou sobre o perigo do machismo estrutural presente na sociedade e falou sobre a importância do feminismo em conjunto para a conquista de direitos das mulheres. “As lutas contra o machismo estrutural é dentro de casa uma coisa perigosa, mulheres são mortas por isso. No Brasil e no mundo,as estatísticas do feminicídio são aterrorizantes. As mulheres precisam lutar contra isso. Para lutar contra isso, precisa-se lutar com as companheiras”.

Filiação partidária

No dia 6 de março, Márcia Tiburi filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) ao lado do ex-presidente Lula. Sobre o ato, a filósofa explica, “eu era filiada ao PSOL e decidi repensar outro projeto político tendo em vista a gratidão que nós devemos ter com o PT. O PSOL não oferece a chance de construir um governo com o povo e o mais importante do PT é que ele sempre foi um partido do povo. Eu quero estar com o povo”.

Por Mariana Fraga, Ricardo Ribeiro e Larissa Lustoza

Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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