Polarização não acaba no dia 30, diz cientista política; assista à entrevista

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O resultado das eleições presidenciais, no próximo dia 30 de outubro, não acabará com a polarização que se instalou no País. Essa é a avaliação da cientista política Amanda Fortaleza. “Essa polarização não vai acabar no dia 30, nem no ano que vem. Ela vai ser um longo processo duradouro no Brasil”, afirma. 

https://youtu.be/69NZSSkK4Dk

Ela entende que o clima de país dividido e até de violência contra instituições é espelhado do clima de confronto dos Estados Unidos. “A eleição entre o Joe Biden (atual presidente) e Donald Trump também teve foi muito polarizada. Após as eleições nos Estados Unidos, a população continuou polarizada. Essas polarizações vão demorar um tempo até se equilibrarem”, contextualiza.

Fotos: Divulgação dos dois candidatos

A cientista política estima que a eventual eleição do ex-presidente Lula pode deixar a polarização ainda mais visível porque o Congresso foi eleito é majoritariamente conservador. “A governança do presidente Lula vai definir muito a forma com que ele vai conseguir articular com os parlamentares, conseguir apresentar projetos de lei e medidas provisórias”. 

De outra forma, a reeleição de Jair Bolsonaro, haverá uma tendência de elevação do conservadorismo de direita. “Em relação à população, se o presidente Bolsonaro for reeleito, a polarização deve continuar. Mas nas instituições, como tivemos muitos candidatos conservadores eleitos na Câmara e no Congresso, muitos ministros do Bolsonaro, inclusive, se tornaram senadores, a tendência é que tenha essa onda mesmo conservadora de direita”.

Toalhas estendidas estampam a praça da feira da Ceilândia. Foto:

Confira outros trechos da entrevista 

Agência Ceub – O Bolsonaro mudou de tom na coletiva de imprensa que houve após o resultado do primeiro turno das eleições. O resultado nas urnas foi mais favorável para qual dos dois? 

Amanda Fortaleza – Eu vejo que o bolsonarismo saiu muito fortalecido das eleições. E vejo essa questão do Bolsonaro de recuar e não dizer que as eleições não limpas ou que foram fraudadas justamente porque foram eleitos muitas personalidades que apoiam o Bolsonaro e que ele apoia elas, então ficaria muito complicado ele dizer que as eleições não foram limpas sendo que a maioria das pessoas apoiadas por ele, principalmente no Senado, foram eleitas.

 Precisamos ver como serão os próximos capítulos, principalmente dependendo do resultado do segundo turno, porque esse foi um discurso reiterado dele, né? Que as urnas eletrônicas, por exemplo, não eram auditáveis. A gente precisa aguardar. Nesse primeiro momento ele disse que as eleições foram limpas porque ele viu que o resultado foi mais favorável para ele. O bolsonarismo teve mais força, mas a gente precisa aguardar e ver como será o posicionamento dele no segundo turno, pois provavelmente vai depender do resultado. 

Agência Ceub Na sua opinião a violência política pode ser intensificada com a decisão acirrada no segundo turno?

Amanda Fortaleza – A violência política tem várias vertentes. Tem a violência institucional, a violência nas redes sociais. Isso está acontecendo muito pela polarização extrema. Os dois lados, de certa forma, estão resistentes uns com os outros. Isso acaba gerando um clima maior de tensão, isso repercute para a mídia, isso repercute para a sociedade civil, que foi o que a gente viu nos últimos dias nesses casos muito tristes no Rio de Janeiro, DF etc. 

A responsabilidade dos candidatos é não deixar isso acontecer. Todos os candidatos precisam se posicionar firmemente para que esses episódios não aconteçam no Brasil. A nossa democracia é muito recente. Tem um pouco mais de 30 anos. E não podemos deixar que chegue até certo porque ela vai ficando fragilizada, né? 

O certo é: eu posso pensar de uma forma, você pode pensar de outra. E, ainda assim, podemos conviver um com o outro e se respeitar. Infelizmente não é o que está acontecendo aqui. Tomara que a gente altere essa dinâmica após o segundo turno independentemente do resultado. 

Agência CeubA polarização e a violência política podem continuar fortes ainda depois das eleições? 

Amanda Fortaleza – A ciência política é uma área que estuda com base em dados a política. Tudo que estamos conversando aqui é uma previsão, uma tendência do que pode acontecer, mas não necessariamente isso vai acontecer. 

Pois como te falei anteriormente a política é multifatorial. Vários fatos externos afetam as ações e consequências diferentes. não tem como definirmos com absoluta após as eleições a violência vai aumentar. 

Se você for parar para pensar, por exemplo, depois das eleições começa a Copa do mundo. Então, talvez, com a chegada da Copa do Mundo os ânimos podem vir a se acalmar e os brasileiros deixem de se importar tanto com a política. Na realidade, o brasileiro começou a se preocupar muito com a política nesse ano, pois antigamente não tinha essa mobilização tão grande nas eleições. 

Eu acredito que existem vários motivos para explicar esse aumento da mobilização, como a polarização, muito extrema, o uso das redes sociais, figuras públicas utilizando a política como forma de se expressar, como Anitta e Neymar. Isso tudo faz com que jovens, principalmente, pessoas que não costumam se interessar por política comecem a se interessar. 

Mas a gente não sabe se essas pessoas que agora começaram a se interessar por política de uns dois anos pra cá vão continuar assim após o segundo turno e a copa do mundo, se elas vão retornar o interesse pela política. 

Eu espero que sim, pois acredito que cabe a população brasileira cobrar seus representantes após eleitos. É mais importante inclusive você fazer a análise após o pleito do que antes. Pois, após o pleito, você vai avaliar se ele cumpriu as propostas que havia prometido. Se não foram, nas próximas eleições você não tem que votar novamente nessa pessoa.

 A responsabilidade da população de escolher os representantes é muito grande. Nossa constituição fala: todo poder emana do povo, por meio do exercício do voto. Então é esse momento de agora que a gente viveu ontem e no dia 28 de outubro, pois é isso que vai definir o rumo do Brasil. 

Por Ana Clara Neves, Catharina Braga, Danyelle Silva e Claudio Py

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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