O professor e teólogo Leonardo Boff defendeu, em palestra no UniCEUB, em Brasília, que a igreja deve amparar e reconhecer a dignidade dos homossexuais. Para ele, só a “tolerância” não basta. Além do respeito, é preciso reconhecer que não se trata de uma escolha. O teólogo comentou que já representou um avanço o fato do papa reconhecer como amor “sagrado” entre homossexuais. “As uniões deles devem ser reconhecidas, e nós devemos apoia-los em suas lutas. A igreja tem que ser uma defensora”, disse.
Boff aponta que o fato de estar na constituição não é o mais importante ” se não for vivido”. “É assim também com o direito dos sem teto, dos sem terra, direitos mulheres, indígenas, dos afrodescendentes, LGBT e da diversidade da família”.
Movimentos sociais
Para Boff o primeiro direito necessário é o direito a vida, o segundo é o direito aos meios da vida, que é o direito ao trabalho, a moradia e a mínima educação para poder se comunicar com o outro e se sentir mais humano. De acordo com o teólogo, o Brasil hoje é o país que mais tem movimentos sociais e o motivo de cada um deles é pela luta de um direito que foi negado.
O teólogo ressaltou que em princípio defende toda a vida nas suas várias fases de crescimento e também aquela vida mais mínima e embrionária que seja. Mas confessou que é a favor da discriminação do aborto, já que em outros países de maioria católica tem essa visão. Ele acredita que não é uma questão de ética e sim de saúde pública e que não adianta os fundamentalistas católicos ou evangélicos defenderem a posição contrária e quando a criança nasce, joga na rua, não alimenta, nem educa, enfim não dá o devido suporte. “A cada três dias morre uma mulher por aborto mal feito. É preciso entender aquelas mães que por desespero, que por não saberem o que fazer que aceita o aborto, e eles (os fundamentalistas) devem acompanha-las ao invés de critica-las. Chamar um médico e não a polícia”.

Conservadorismo
Sobre a bancada da Câmara dos Deputados nunca ter sido tão conservadora quanto a atual, ele acredita que os direitos humanos podem evoluir para os brasileiros desde que existam alguns movimentos para que essas questões não passem despercebidas. “A perspectiva não é muito otimista porque a maioria da bancada evangélica tem uma tendência fundamentalista. E eu acho que a gente deve equilibrar isso com os movimentos sociais que pressionam e são organizados e podem criar correlação de forças que não prejudique, mas que faça avançar os direitos”.
Leonardo Boff comentou também um cenário de violação aos direitos humanos que ocorreu este ano no Rio de Janeiro, em que um rapaz suspeito de assaltado foi amarrado ao poste. “Essa atitude tem que ser punida e eu acho que a legislação nossa para crimes dessa ordem ela tem que ser qualificada, não pode lançar essas pessoas na prisão comum porque lá ele aprende tudo que é criminoso”. Segundo Boff essas pessoas devem frequentar escolas de formação de cidadania, onde elas possam trabalhar, e com o dinheiro pagar seus estudos. Para ele essa é uma forma civilizada de integração, já que apenas medidas punitivas não resolvem a situação.

Direitos da terra
Outro aspecto importante que teve bastante destaque na palestra a estudantes foi em relação aos direitos da natureza. Boff contou que devemos defender os direitos da terra, sem os quais os demais direitos não terão suporte. E isso significa respeitar, retirar apenas o que se precisa e permitir que a terra tenha tempo para repor o que foi removido. “Tudo a terra mãe produziu, a nossa relação tem que ser uma relação de sinergia, trabalhar junto com ela, seguir todos os ciclos dela”, afirmou. É um trabalho que segue os ritos da natureza.
Por Regina Arruda
Fotos por Sergio Alberto