Entre as sete cidades com o maior número de indígenas, três elegeram prefeitos que se declararam com essa origem no último dia 15. Na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM), em que cerca de 76% de sua população é indígena, o prefeito eleito, Clovis Cubarão, ganhou com 50,36%. Já na cidade de São João das Missões (MG), em que cerca de 68% é indígena, o prefeito eleito, Jair Xakriabá, ganhou com 53,70%. Por último, a cidade de Uiramutã (RR), em que cerca de 88% da população é indígena, elegeu o prefeito Tuxaua Benisio, com 42,49%.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de candidatos autodeclarados indígenas cresceu 27% nas eleições municipais.
Já os municípios de São Paulo de Olivença (AM), Tabatinga (AM), São Paulo (SP) e Santa Isabel do Rio Negro (AM), que elegeram, respectivamente, quatro, dois, um e e três.
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De acordo com levantamento feito pelo Instituto Socioambiental (ISA), ao menos 220 indígenas foram eleitos, sendo 10 prefeitos, 10 vice-prefeitos e 200 vereadores.
Representatividade
Para o indígena Paulo Januário, do povo Wapichana, e que é universitário em ciência política em Brasília (UnB), esse aumento no número de candidatos significa um avanço, mesmo que mínimo, para eles. “Hoje, nós vemos uma tentativa dos indígenas de ocuparem esses lugares e isso traz uma representatividade em ter alguém que, de fato, nos representa”. Paulo Januário foi, durante dois anos, secretário municipal de assuntos indígenas da cidade de Amajari (RR), cidade a 157 km da capital Boa Vista.
“Estamos demarcando as urnas. Demarcando esse território.”
Paulo Januário, 34 anos, estudante e indígena
Segundo ele, a maior problemática de não existir um número significativo de indígenas em cargos públicos, é a falta de representatividade, de que alguém atenda a necessidade desses povos. “Se as autoridades não entendem e não fazem projetos voltados para a nossa cultura, para a nossa língua. Então, uma forma de conseguirmos isso é nos colocando lá, nos colocando na política”.
Ainda assim, para o estudante, muito da baixa dos número de eleitos se deve à velha política dos municípios de interior. “Existem muitos aspectos históricos, de domínio do colonizador nas aldeias. E isso se reflete hoje, no contexto político partidário.”