Anticoncepcional: especialista explica que efeitos colaterais estão ligados à desinformação

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

Fácil acesso, praticidade e desinformação sobre efeitos colaterais ainda fazem com que mulheres recorram com frequência a pílulas anticoncepcionais como principal método para evitar a gravidez e para regular a menstruação. Essa é uma das conclusões de um levantamento realizado por pesquisadores do Centro Universitário de Brasília (Ceub) com universitárias no Distrito Federal.

Ao todo, 189 entrevistas foram realizadas com mulheres de 18 e 40 anos, matriculadas em universidades do Distrito Federal. Destas, 99 disseram fazer uso de algum método contraceptivo há mais de seis meses. De acordo com a apuração, 88,9% desse grupo de entrevistadas optaram pelo uso da pílula. 

O especialista em farmacologia Danilo Avelar alerta que para além dos efeitos colaterais que podem levar à trombose. A falta de informação e da prescrição médica podem ser agravantes. “Isso ocorre devido à ingestão de hormônios sintéticos, que podem alterar a ação fisiológica de várias substâncias e vias metabólicas do organismo”.

Trombose

Rafaela Maria Alves Graça, de 22 anos, teve trombose venosa cerebral depois de ter tomado por apenas dois meses a pílula. ”Tive trombose em abril de 2020. Os maiores sintomas que tive foram tontura, falta de libido (ela acabou completamente) e dores muito fortes na cabeça”. Ela relata que sentia mais dores na área sobre as sobrancelhas e na nuca. “Esses eram os dois lugares que eu mais sentia. Não era uma dor de cabeça comum. Era parecida com a de enxaqueca. Sentia essa dor de cabeça constantemente, todos os dias, dormindo, acordando, tomando remédio… não passava de jeito nenhum”, relata Rafaela.

O problema de Rafaela ficou pior. As dores de cabeça se intensificaram. Porém, o período da pandemia de covid-19 desencorajou a estudante a procurar o atendimento médico. A urgência ocorreu no dia que teve convulsões em casa.  “Eu só tive certeza que a pílula não estava me fazendo bem quando tive duas convulsões em casa, uma de noite e outra de manhã”, recorda.

Foto: Marcello Casal / Agência Brasil



Depois do atendimento, ela ficou uma semana internada tomando anticoagulante e teve que parar imediatamente de tomar a pílula anticoncepcional. Nesse período, ela teve restrições alimentares por conta dos fortes medicamentos.

“Por conta do anticoagulante, eu tinha que evitar comer várias comidas, em razão dos efeitos do remédio. Por exemplo, se eu tomasse um deles, não podia comer nada que fosse verde porque tem uma vitamina K”
A jovem, em seu tratamento, teve que utilizar o anticoagulante e o anticonvulsivo. “Eu tinha toda semana que fazer exame de sangue para saber a taxa de NR ( Nível de coagulação no sangue). 
Eu não podia deixar de tomar eles diariamente. Se eu deixasse de tomar eles, por exemplo o anticoagulante, eu sentia muita dor de cabeça porque o meu sangue parava de circular do jeito correto.”

“Fico muito triste pelo fato da saúde feminina ainda ser muito marginalizada. Querendo ou não, a educação sexual precisa ser feita porque as pessoas não têm ciência dos danos que o anticoncepcional pode causar. Eu, por exemplo, não sabia”, lamenta Rafaela Graça.  

Anticoncepcional

Uma pesquisa da ONU sobre o uso de métodos anticoncepcionais no mundo mostrou que 64% das mulheres utilizam algum tipo de proteção para não engravidar. No Brasil esse número sobe para 79%, segundo o documento. O estudo aponta que para cada 100 mil mulheres, pelo menos cinco casos de trombose estão relacionados ao uso de anticoncepcionais orais. 

Atualmente, Rafaela não utiliza nenhum tipo de método contraceptivo via oral, pois todos os métodos contém hormônio. Ela pode somente utilizar o DIU de cobre ou o DIU de cobre e prata e preservativo. 

Conscientização

Não há uma estatística consolidada em relação ao aumento de casos de trombose, mas, na prática, observa-se um aumento estimado na proporção de 5 a 10 vezes maior, do que se fosse realizado o uso correto do anticoncepcional (da substância correta, na concentração correta, pelo período correto, na forma correta) e com o devido acompanhamento por profissionais de saúde.

Danilo Avelar destaca a importância de incentivar o ensino e palestras educativas a respeito dos diversos meios contraceptivos, proporcionando, assim, a escolha do método junto ao profissional de saúde devidamente capacitado (médico, enfermeiro e farmacêutico) para que melhor se adeque à realidade e ao organismo das mulheres.

“Por meio de campanhas, exames e acesso à saúde e informação, as mulheres devem optar pelo uso adequado do fármaco, garantindo, assim, o preceito constitucional da dignidade da pessoa humana e da liberdade de escolha individual”.

Pílula anticoncepcional masculina


A pílula anticoncepcional masculina que, conforme se noticiou recentemente, pode chegar ao mercado no ano que vem, divide opiniões.

Isso porque mulheres entendem que a responsabilidade pelo planejamento reprodutivo ou prevenção fica com elas. Por isso, temas como machismo estrutural são citados com frequência. A injeção consiste em um gel aplicado na região dos ductos deferentes, região do sistema reprodutor masculino responsável por levar os espermatozóides até o líquido seminal antes da ejaculação.

A substância tem como função “quebrar” a cauda dos espermatozóides, tornando-os incapazes de fertilizar os óvulos. A prevenção dura por 10 anos e os cientistas afirmam que para reverter o procedimento é necessário uma injeção de água e bicarbonato de sódio.

O especialista Daniel Avelar explicou que já existem algumas substâncias hormonais registradas e autorizadas para serem utilizadas como “anticoncepcional masculino”. “Acredito que ainda levará bastante tempo para que essa prática, entre os homens, passe a fazer parte da nossa rotina. Algumas questões que me levam a esse pensamento são (1) a nossa cultura (de que os homens cuidam pouquíssimo das suas questões de saúde); (2) o “temor” de que essa prática possa diminuir sua “masculinidade”; (3) extrema falta de conhecimento a respeito dessas substâncias para o sexo masculino; e (4) a necessidade de, ainda, aprimorar essas substâncias para o uso em homens (por se tratar de uma prática farmacológica ainda bastante incipiente.”

Leia mais sobre o tema


Por Danyelle Silva e Maria Clara Abreu
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

Matérias relacionadas

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress