A Associação Americana de Psiquiatria mudou o manual que orienta os diagnósticos de transtornos mentais. Agora, os autistas, por exemplo, precisam se encaixar em todas as subcaracterísticas em relação à dificuldade de comunicação social citadas no documento, e não apenas algumas. Essa mudança ocorre, principalmente, por causa do diagnóstico errado de autismo.
Uma das principais mudanças no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais é a inclusão da síndrome de Asperger e de todas as variantes do autismo em apenas uma classificação, que passa a ter graus de severidade e não divisões. Essas variações são os chamados transtornos do espectro do autismo (TEA). Além disso, foram adicionados diversos critérios a outros transtornos mentais, como bipolaridade, transtorno de déficit de atenção (TDAH), esquizofrenia, depressão e ansiedade.
A mudança refletiu a visão científica de que aqueles transtornos são na verdade uma mesma condição com gradações em dois grupos de sintomas, sendo eles o de déficit na comunicação e interação social e o outro de padrão de comportamentos, interesses e atividades restritos e repetitivos.
O neuropsicopedagogo Mário Castro considera que Associação Americana de Psiquiatria entendeu que não há vantagens diagnósticas ou terapêuticas na divisão. “Ela observa que a dificuldade em subclassificar o transtorno poderia confundir o clínico dificultando um diagnóstico apropriado, um ganho para nós que lidamos com esses diagnósticos na escola”, afirma Mário.
A nova edição do manual acompanhou um comentário do psiquiatra Michael First que destaca a necessidade da reformulação do manual para evitar a banalização do diagnóstico de autismo. Segundo o DSM-5 um dos critérios de diagnóstico para o autismo é a presença de déficit na comunicação social, desde atraso na linguagem bem até a dificuldade na interação social, que pode afetar no desenvolvimento da criança.
Dificuldades de aprendizagem
De acordo com a neuropsicopedagoga Eliane Castro, 46, a aprendizagem de forma geral envolve diversas esferas, sejam elas sociais, biológicas ou até mesmo cognitivas. Ela explica que dentro desta abordagem, também existem os Transtornos de Aprendizagem ou Dificuldades de Aprendizagem, que afetam um número expressivo de pessoas, não calculado com exatidão. Esses problemas são, majoritariamente, percebidos na infância, onde devem ser feitas intervenções para diminuir os prejuízos na vida escolar e no desenvolvimento.
“Esses distúrbios, de acordo com o DSM-5, são distintos e podem ser classificados como leves, moderados ou graves, gerais ou específicos, de curta ou longa duração. Na área educacional, trabalhamos com estudantes com dificuldades de aprendizagem, bem como transtorno de aprendizagem”, diz Eliane.
Recentemente, o CID – Classificação Estatística Internacional de Doenças – foi atualizado e, agora, o autismo deixa de ter inúmeras classificações e passa a ser considerado apenas Transtorno do Espectro do Autismo.
Porém, Eliane alerta que há diferença entre o CID e o manual, apesar de ambos abordarem questões do diagnóstico. “Ambos são as diretrizes diagnósticas utilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar estudos epidemiológicos e estabelecer o financiamento para a rede de saúde mental. No entanto, o CID se dedica a todas as doenças e transtornos existentes enquanto o DSM foca nos transtornos mentais”, explica.
E na educação?
Eliane relata que dentro da área educacional, os psicopedagogos podem encontrar duas variações: alunos com dificuldade de aprendizagem e transtorno de aprendizagem, que são duas coisas distintas. Ela explica que a dificuldade pode ser causada por bloqueios emocionais, culturais, e eles podem ser solucionados no próprio ambiente escolar com acompanhamento psicopedagógico e aplicação de projetos interventivos.
Já no transtorno de aprendizagem está relacionado a um conjunto de dificuldades pontuais e específicas, normalmente ligadas a uma disfunção neurológica. Nesta condição, o cérebro pode funcionar de forma diferente, mesmo que o indivíduo apresente uma situação física, social ou emocional considerada normal. Eliane diz que essa diferenciação pode ser identificada com o uso do manual para realizar o diagnóstico, provando a importância da sua existência.
“Ainda segundo o DSM-5, a origem do Transtorno de Aprendizagem é intrínseca ao aspecto biológico, por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento. Além disso, a condição pode estar associada a fatores genéticos e ambientais, o que também afeta a capacidade do cérebro de assimilar as informações tanto verbais como não verbais,” explica a profissional.
Ela destaca que a escola trabalha com a parte intelectual e a ideia de que as pessoas são regidas pelo cérebro e a partir dele são determinados os comportamentos individuais. “Mesmo sendo mudanças para a psiquiatria, nós ,educadores, trabalhamos diretamente com o fruto desse diagnóstico e precisamos acompanhar as evoluções e/ou transformações para darmos o melhor para nossos estudantes, pois eles são os maiores interessados e toda alteração os afeta diretamente”.
Por Mayariane Castro e Adryel Oliveira
Supervisão de Isa Stacciarini