Automedicação e autodiagnóstico apresentam riscos para a saúde de brasileiros

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O uso de remédios sem prescrição médica é uma prática crescente no Brasil, segundo uma pesquisa realizada no ano de 2022 pelo Instituto de Ciências, Tecnologia e Qualidade (ICTQ). O levantamento mostra que quase 90% da população tem o hábito de se medicar por conta própria. Isso apresenta um aumento de 18% se comparado com a 2016.

A estudante de 22 anos, Dayanne Vieira, faz parte do grupo de pessoas que toma medicações de forma indiscriminada. Ela é hipocondríaca e conta que, por causa disso, se automedica com frequência, antes de entrar em contato com algum profissional. “Se a dor for contínua, eu vou ao pronto socorro para ser atendida, e só fico em paz depois de ver os resultados dos exames. Mas quando é algo ocasional, como uma dor de cabeça, eu tomo remédio e faço repouso”, diz Dayanne. 

Segundo a Anvisa, a automedicação é “o uso de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, sem a avaliação prévia de um médico ou dentista”. A prescrição da medicação deve ocorrer depois do diagnóstico da doença e deve ser feita exclusivamente por médicos, farmacêuticos ou, em alguns casos, cirurgiões-dentistas .

Causas da automedicação

O consumo indiscriminado e sem prescrição de remédios pela população brasileira pode ser atribuído a diversos fatores. Entre eles, de acordo com a farmacêutica e doutora em ciências farmacêuticas do Conselho Federal da Farmácia (CFF),  Carolina Xaubet, estão: baixo letramento em saúde; inacessibilidade e ineficiência dos setores públicos e privados para resolução dos problemas de saúde da população; aconselhamento de familiares e amigos; e a influência da publicidade e Fake News

A consulta em sites da internet é um outro fator aliado às pessoas que desejam se autodiagnosticar e, posteriormente, se medicar por conta própria. E, segundo uma pesquisa de 2018 do Instituto de Ciências, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), 40% dos brasileiros fazem o próprio diagnóstico pela internet, consultando o software de pesquisa Google. 

Esse é o caso de Dayanne. A estudante conta que a internet sempre auxilia na busca por remédios que atendam sua necessidade. Segundo ela, a pesquisa poupa tempo e a necessidade de consultar um médico. “Tudo o que eu sinto, já logo pesquiso e tomo o remédio para aquele diagnóstico nada preciso”, diz. 

Riscos da automedicação

O ato de se medicar por conta própria é uma prática perigosa que pode trazer riscos para a saúde de quem se automedica. Intoxicação, reações alérgicas, dependência, agravamento da doença, mascaramento de sintomas e, em casos mais graves, até  a morte, podem ser as consequências do ato. 

Carolina Xaubet cita outros problemas causados pela automedicação: autodiagnóstico incorreto;  falha no reconhecimento das contraindicações; dose inadequada ou excessiva; uso excessivamente prolongado; e o armazenamento em condições incorretas ou fora do prazo de validade recomendado.

Dayanne conta que já sofreu os efeitos colaterais de medicações que não foram prescritas por médicos. “Eu já tomei tanto medicamento para enxaqueca que quase desmaiei. Mas eu sinto mais problemas com antibióticos que afetam meu estômago. E o que mais sofre é o psicológico, eu fico triste e acaba me afetando.”, diz. 

Hipocondria

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), a hipocondria é o Transtorno de Ansiedade e Sintomas Somáticos. Essa condição envolve preocupação excessiva e persistente com a possibilidade de ter alguma doença grave, mesmo com avaliações médicas descartando a presença de uma condição médica.

Com isso, sintomas como dificuldade em aceitar resultados médicos e a autoavaliação obsessiva de sintomas levam a pessoa hipocondríaca a apresentar sintomas somáticos: aqueles que vêm acompanhados por níveis significativos e desproporcionais de angústia, de acordo com o Manual Merck – Diagnóstico e Tratamento (MSD Manuals). 

 O médico psiquiatra Braulio Brandão explica que, por causa desses sintomas, as pessoas hipocondríacas são mais propensas a realizar a automedicação. “A automedicação nesse contexto pode se tornar um padrão de comportamento, já que a pessoa hipocondríaca pode estar constantemente em busca de alívio para os sintomas, muitas vezes sem a devida orientação médica”, afirma.

Dayanne é um exemplo desse transtorno e carrega consigo um kit de remédios para se prevenir. “Eu tenho remédio pra tudo e isso me incomoda. Tudo o que eu sinto, eu tomo algum remédio. Acredito que meu cérebro já se acostumou com essa rotina. Eu tenho tanto medo de adoecer que acabo adoecendo, não consigo controlar”, relata

Automedicação responsável 

Uma das formas de controlar o uso indiscriminado de remédios seria a automedicação responsável, que é basicamente o uso racional de medicações. A Agência Nacional da Saúde (ANS) define a atividade como a “prática pela qual os indivíduos tratam suas doenças, sinais e sintomas menores, utilizando medicamentos aprovados para venda sem prescrição médica, sendo estes de eficácia e segurança comprovadas, quando utilizados de forma apropriada”. 

Entidades que estudam os perigos da automedicação alertam que a autonomia do paciente precisa estar alinhada ao seu letramento em saúde. A especialista Carolina Xaubet explica que para que a automedicação seja segura e efetiva o paciente deve ter um diagnóstico definido e conhecer a forma correta da utilização dos medicamentos, interações, como por exemplo, no caso dos profissionais da saúde.

O Conselho Federal da Farmácia recomenda que se consulte o médico ou o farmacêutico, e em alguns casos, cirurgião-dentista, antes de iniciar o tratamento para receber orientação e demonstração adequada, para saber a dosagem correta, a frequência e o tempo de uso, além da técnica, seu armazenamento e descarte corretos. 

Além disso, Carolina Xaubet recomenda que, quando possível, o paciente deve frequentar a mesma farmácia. “Recomenda-se adquirir os medicamentos em uma única farmácia, quando possível, para todos os seus medicamentos prescritos e de venda livre, para que o farmacêutico possa identificar quaisquer riscos de interações ao consumir os medicamentos juntos”, explica.

Por Ana Clara Neves, André Araújo, Artur Marques, Iago Mac Cord e Luana Nogueira. 

Supervisão de Isa Stacciarini

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