Um apelido como se fosse uma “brincadeira”. Uma perseguição no recreio. Agora isso não tem acontecido apenas pessoalmente. As crianças e adolescentes sentem o impacto do bullying em aplicativos de mensagens e em redes sociais. Por vezes, sem ninguém por perto para ajudar.
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Para a professora Catarina de Almeida Santos, da Universidade de São Paulo (USP), é necessário debater as causas da violência porque ninguém se desenvolve em ambiente degradado de proteção.
“Ninguém se desenvolve sendo violentado, a gente tem muitas crianças que não tem alimentação. Então nenhuma dessas violações, nenhuma dessas violências podem afetar positivamente as crianças”.
Para ela, se as pessoas olharem as violências decorrentes, por exemplo, do racismo, da gordofobia, das questões de gênero, das questões de capacitismo, todas essas formas podem afetar o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento humano, desenvolvimento físico, desenvolvimento psíquico dessas crianças, desses adolescentes.
Por meio das tecnologias, a violência acontece através de perfis que acreditam estarem protegidos pelas telas dos celulares, sentindo-se livres para praticar o que é chamado de cyberbullying.
Preocupações
“A era digital certamente afeta a velocidade de informação que se tem, além de inapropriada para crianças pequenas, acelera o amadurecimento de forma errônea”. O lamento é da funcionária pública Bianca Becale Godoy, mãe de dois filhos, de 8 e 7 anos. Ela tem certeza de que a era digital tem influência na sua vida e na de seus filhos e a forma como isso os influencia de maneira negativa.
A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, revela que 13,2% daqueles estudantes que responderam a pesquisa já se sentiram ameaçados, humilhados e ofendidos nos aplicativos ou redes sociais.
Cyberbullying
Cerca 23% dos estudantes afirmam terem sofrido humilhações pelos seus colegas, sendo este outro dado fornecido pela PeNSE.
As redes sociais afetam não somente o emocional, mas também o desenvolvimento cerebral, principalmente na infância. De acordo com a psicóloga Priscila Silva de Moraes Henrique, são os estímulos inapropriados que prejudicam diretamente o funcionamento do cérebro, que acaba por ser perceptível apenas quando a mudança comportamental fica acentuada.
Ela entende que as redes sociais propõem uma perspectiva de um mundo perfeito, pessoas constantemente felizes, os menores passam a enxergar a realidade dessa mesma maneira e se frustram ao comparar esse ponto de vista com a sua própria vida.
Em especial, as crianças são prejudicadas de uma forma mais dura. “Primeiro por não saber diferenciar ainda o virtual do real, segundo por começar a desejar algo que ela não viverá o tempo todo. Sem contar dos estímulos que lentificam o funcionamento desse cérebro e a criança pode passar a responder de maneira ruim à própria realidade.” cita a psicóloga.
Ela afirma que a mudança de comportamento desses indivíduos é notória. “Eles ficam mais angustiados, irritados, ansiosos e além disso, agressivos, devido a esse uso desenfreado e a confusão mental”.
Saúde mental
A diferença do bullying e do cyberbullying é que, o que se encontra no mundo digital não possui barreiras físicas para saná-lo e acompanha as vítimas independente de onde estejam.
Segundo as especialistas, há uma necessidade de suporte a ser oferecido para as crianças e jovens, carência notada também pelos pais.
Para Erika Gaioso Conti, mãe de um menino de 9 anos de idade, a atenção à criação de conscientização dos alunos, responsabilidade da escola, bem como a presença da orientação dos pais sobre a diversidade e o respeito que deve ser passado a diante.
São procuradas soluções para a forma como essa realidade de violência acomete a saúde mental desse público. Segundo a psicóloga, o mais adequado seria que o uso não só das redes sociais como de telas em geral fosse reduzido o máximo possível para o que é recomendado para cada faixa etária.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria a recomendação é: de 0 a 2 anos, zero tempo de telas; de 3 a 5 anos, uma hora diária de modo fragmentado; de 6 a 10 anos, até duas horas diárias; e entre 11 e 18 anos de duas a três horas por dia, incluindo jogos. “Em todas as idades, o recomendado é que não faça o uso durante a madrugada“, diz a psicóloga
Ela explica que, para os adolescentes e responsáveis, também é interessante saber qual o conteúdo que é acessado para ver se corresponde a idade, orientando dos prejuízos e perigos presentes no ambiente virtual.
Por Fernanda Carvalho Diniz
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira