Campanhas sobre HIV e aids estão ultrapassadas, diz infectologista

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

A falta de informação e compreensão, além do tabu enraizado na sociedade, prejudicam o diálogo aberto entre os jovens sobre o vírus HIV e a doença, que é a aids. Essa é a opinião da infectologista Eduarda Prestes. No próximo dia 1º de dezembro, é dia mundial de luta contra aids.

Ela acredita que a incidência de infecções entre os mais novos pode ser explicada pela falta de campanhas eficazes e modernas. “As campanhas estão presas nos anos 1990 e não conversam com os jovens dos dias de hoje”.  

No ano passado, foram notificados também 1.443 casos de aids, sendo 32,8% entre jovens na mesma faixa etária, segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do DF de 2022. 

A especialista avalia que, em decorrência da falta de abertura sobre o assunto e de informações completas à população, em especial os jovens, negligenciam o sexo seguro e não entendem as consequências que o HIV pode trazer, mesmo com o avanço da ciência.

“Não se pode naturalizar”

A casa de acolhimento Vida Positiva para quem vive e convive com HIV, criada pela ativista Dona Vicky, 75, recebe há 18 anos famílias que sofrem com a vergonha e a exclusão que o vírus causa.

A assistente social do Vida Positiva, Laís Campos, contrair HIV não é mais uma sentença de morte. “Porém, é uma doença que carrega muitos desafios para vida toda”, explica.

“As pessoas tendem a naturalizar muito o vírus por existir remédio, visto como cura, porém desconhecem a mudança de vida após o diagnóstico”, completa Laís.  

A casa trabalha com famílias fragilizadas no meio emocional, social e de saúde, e através de acompanhamentos psicossociais aos poucos são incluídas no mercado de trabalho de novo.   

Contra estigma

O cofundador da ONG Amigos da Vida, Christiano Ramos, 56, que viveu a epidemia do HIV e vive com o vírus há 34 anos, enfatiza o estigma e o preconceito ainda muito forte em relação às pessoas que vivem e convivem com o HIV.

Para ele, a comunicação aberta é decisiva para a diminuição dos casos entre os jovens e para a quebra da barreira do preconceito.   

Diagnosticado com 18 anos de idade, Christiano enfrentou em 1994 a fase mais séria do vírus: a aids, e recebeu o apoio do seu pai durante todo o tratamento.

Ao longo de suas internações em hospitais da rede pública, ele e seu pai se comoveram com diferentes histórias de portadores que não tinham o mesmo apoio emocional e financeiro.

A partir desse ponto, criaram a ONG Amigos da Vida que ajuda há 23 anos pessoas que vivem com HIV. 

Christiano Ramos também diz que o tratamento evoluiu muito desde a década de 1990 e com a Terapia Antirretroviral (TARV) consegue se manter indetectável, ou seja, não transmite o vírus.  

Transmissão e prevenção

A transmissão do vírus do HIV acontece pelo contato do vírus com a corrente sanguínea. As maneiras mais comuns são pelo contato sexual sem preservativo, por objetos cortantes contaminados e por transmissão vertical (de mãe para filho).

“A contaminação se dá em geral pela via sexual através da penetração. Por ocorrer em áreas com uma superfície de contato mucosa, durante fricção formam-se microlesões suscetíveis à infecção”, explica a médica Eduarda Prestes.

O uso de preservativos masculinos ou femininos, distribuídos de forma gratuita em qualquer serviço de saúde, é o método contraceptivo mais seguro em relação a todas as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). O uso de outros métodos de prevenção não abstém a utilização.   

 

Além da camisinha, na prevenção das ISTs, o Ministério da Saúde recomenda uma série de ações de prevenção que estão simbolizadas na “Mandala de Prevenção Combinada”.

Dentro da mandala, encaixam-se os métodos mais comuns para prevenir a contaminação do HIV: a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), a camisinha e as testagens regulares 

A PrEP e a PEP são medicações retrovirais distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que visam prevenir a contaminação do HIV por pessoas vulneráveis. A PrEP é usada antes da relação sexual de risco e a PEP é usada após uma exposição involuntária ao vírus. 

Testagem

Segundo a Secretaria de Saúde do DF, os testes rápidos de ISTs são fundamentais no combate às doenças sexuais. Os testes estão disponíveis para a  população em todas as Unidade Básica de Saúde e nos Centros de Testagens. 

“Existe um aconselhamento do pré-teste em que o profissional deve conversar e entender o contexto de exposição sexual do paciente e explicar os diversos métodos de prevenção. Em caso de testes positivos, o profissional encaminhará para o tratamento imediato”, explica a gerente da Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Saúde do DF, Beatriz Maciel.

“Por isso, a testagem é fundamental para quem tem um vida sexual ativa, quanto mais rápido diagnosticar, mais rápido é o tratamento”, completa.  

Por Júlia Lopes e Maria Beatriz Giusti 

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira 

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress