A pressão estética por trás de uma relação disfuncional com o corpo
Na era das redes sociais, os padrões de beleza e estética são constantemente reforçados e amplificados por algoritmos, moldando a percepção de sucesso e aceitação com base na magreza extrema. Em busca desse ideal, jovens acabam presos à cultura do emagrecimento, o que intensifica uma relação disfuncional com o corpo e a alimentação.
Especialistas alertam que essa pressão estética pode desencadear transtornos alimentares e ansiedade, e chamam a atenção para a urgência de discutir o impacto psicológico dessa cultura no bem-estar e na saúde mental da sociedade.
Para a estudante de 20 anos, que optou por não ser identificada, a trajetória com distúrbios de imagem começou na infância e ela lida com o transtorno a partir de acompanhamento terapêutico desde os 10 anos, regularmente. A jovem afirma que no “pior momento” tratou por dois anos com psiquiatra e obteve diagnóstico de anorexia nervosa e ansiedade, desencadeados a partir da distorção de imagem.
“Hoje em dia, eu evito ao máximo me olhar no espelho de corpo, tenho pavor de foto desprevenida, as vezes eu não compro uma roupa que eu queria muito por achar que eu não tenho um corpo digno pra usar. Tenho uma relação péssima com a comida, se eu acho que dei uma exagerada eu vou dar um jeito de compensar em atividade física ou reduzindo minhas porções depois”, comenta a estudante sobre os impactos da dismorfia corporal atualmente na rotina.
Dentro dos padrões
A psicóloga Elisa Sayuri explica que a obsessão por um padrão de magreza começa com a idealização do “corpo perfeito”, frequentemente associado à felicidade, sucesso e realização. “A cultura da magreza gera uma visão distorcida do que é saúde e beleza. Muitas vezes, a pessoa acredita que emagrecer será a chave para uma vida mais feliz, para ter sucesso nas relações e até mesmo no trabalho”, alerta a psicóloga.
Sayuri também enfatiza os perigos das dietas restritivas sem orientação, que podem gerar uma relação negativa com a comida e desencadear transtornos como ansiedade e depressão. Ela defende que o equilíbrio alimentar é essencial, longe de modismos e dietas rápidas que comprometem a saúde.
Já a nutricionista Sara Canuto, especializada em Nutrição Clínica Funcional e Comportamento Alimentar, destaca que a cultura do emagrecimento está diretamente ligada à cultura da imagem, um fenômeno que altera constantemente o padrão estético imposto pela sociedade. “Essa pressão estética oscila ao longo do tempo. Hoje, por exemplo, vemos a valorização do corpo fitness, da massa magra, e isso influencia a forma como as pessoas se relacionam com seus corpos e com a alimentação”, afirma.
O impacto da internet
Para Sara Canuto, as redes sociais têm um papel crucial na propagação dessa cultura, principalmente entre os mais jovens, que estão inseridos em um universo digital que não condizem com a realidade e com a diversidade de corpos, além dos que são apresentados. Para ela, o impacto dessa constante comparação é profundo e afeta principalmente a imagem corporal e gerando inseguranças.
Ela também observa que essa cultura afeta homens e mulheres de maneiras diferentes. “Isso se agrava por conta das oscilações naturais do corpo feminino ao longo da vida, como na adolescência, na gestação e na menopausa”, afirma. Para Canuto, enquanto os homens enfrentam menos cobranças devido a essas mudanças, as mulheres lidam com um padrão de beleza que parece estar em constante evolução e adaptação.
A nutricionista alerta que, embora a busca por um corpo idealizado seja forte, o verdadeiro foco deve ser a saúde. “Desassociar saúde de magreza é um processo difícil, mas fundamental. O importante é adotar um estilo de vida saudável e entender que o corpo não precisa se encaixar em um padrão específico para ser saudável. A chave é a aceitação, junto com um trabalho de imagem corporal e cuidados com a alimentação”, finaliza a nutricionista.
Por Amanda Martins, Anna Vitória de Carvalho, Isabela Mencarini, Julia Cavalcante e Lucas Alarcão
Sob supervisão de Isa Stacciarini