Aos 13 anos, a estudante Jéssica Mariz Campos (foto) foi diagnosticada como pré-diabética, com histórico da doença na família, a jovem sempre era submetida a exames rotineiros. Na época, a notícia não a assustou e ela mal entendia o porquê precisar mudar os hábitos alimentares, que era repleto de carboidratos, fast-foods, doces e frituras. “Me explicaram que eu deveria tomar um remédio para a prevenção da doença, mudar minha dieta e fazer exercícios físicos, mas eu estava tranquila e por ser jovem, não me preocupei”, relembra. Histórias como a dela fazem que o país viva uma epidemia da doença.
A diabetes casou a morte de 71,7 mil pessoas no Brasil em 2014, sendo 56,8% mulheres. A doença cresce velozmente por países de renda média. Globalmente, cerca de 422 milhões de pessoas viviam com diabetes em 2014. Os números do primeiro relatório global da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o número de adultos que sofrem da doença crônica no mundo quadruplicou desde 1980, quando 108 milhões eram diabéticos.
No caso de Jéssica, oito anos após o diagnóstico, a vida dela está bem diferente. Com 21 anos, ela compreende a importância de manter os cuidados com a alimentação e a prática de esportes. Com o tempo, diminuiu os carboidratos e açúcares da dieta, começou a caminhar e a frequentar a academia, o resultado foi perceptível na balança: 15 quilos a menos. “Quando estou estressada sinto vontade de comer coisas cheias de açúcar e às vezes fico muito cansada com os exercícios. Minha maior motivação é, com certeza, a minha saúde. Sinto medo de ser diabética, a doença pode trazer muitas consequências se não há o devido cuidado”, afirma.
30% não sabem que têm a doença
A OMS destaca que o cenário é desencadeado pelo aumento da obesidade e o sedentarismo. O endocrinologista de um laboratório de Brasília, Sérgio Vencio explica que o organismo de um diabético não consegue aproveitar a glicose como forma de energia, devido a inexistência ou o não funcionamento da insulina. “A obesidade está acelerando a doença entre os jovens. O excesso de peso impede que a insulina funcione de forma adequada e dificulta o controle da glicose”, esclarece.
O quadro é ainda mais preocupante por se tratar de uma doença que, em muitos casos, se desenvolve silenciosamente, sem apresentar sintomas. “Em torno de 30% dos diabéticos nem sabem que tem a doença. Nos outros, os sintomas são de boca seca, emagrecimento, sede, e diurese aumentada”, ressalta Vencio. O médico explica que a diabetes é monitorada pela dosagem de glicose, e por exames de sangue que medem a média glicerina. O controle da doença é primordial, pois a diabete pode causar complicações macrovasculares, como infarto, AVC e amputação, além de problemas nos rins, olhos e nos nervos. Além de aumentar os riscos de morte prematura.
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“Tive que amputar”
A aposentada, Deuzeni Joaquina Oliveira Silva, 47 anos descobriu ser diabética aos 21 anos. Apesar do controle diário com remédios e insulina, todos os alimentos com carboidratos foram cortados da mesa. A doença trouxe consequências, ela perdeu a visão e precisou amputar dois dedos do pé. “Surgiu uma ferida no meu pé e nada resolvia. Com o tempo começou a sair pus e resolvi ir ao hospital. O médico falou que precisava amputar. Depois de um tempo aconteceu o mesmo com o outro dedo”, diz.
As complicações no quadro alertaram Deuzeni para os perigos que podem ser causados pela doença. “Uso um tipo específico de chinela, não tiro cutículas das unhas e evito me machucar. Não bebo nem suco mais. Tenho muito medo que atinja outras partes do meu corpo”, desabafa.
Alimentação
O estudante Danillo Amaro Santos, 20 anos, convive desde muito cedo com a doença. “Descobrimos a diabetes quando eu tinha 2 anos e 3 meses. Aqui em casa todos têm muita consciência do que posso ou não comer, fui criado para conviver bem com isso”, conta. Ao longo dos anos, Danillo precisou aprender a cuidar e controlar a doença.
Todos os dias, ele carrega o aparelho para medir a glicose e saber a quantidade de insulina que necessita. O exame é repetido quatro vezes ao dia, antes das refeições.
“No início não compreendia a necessidade de uma dieta rígida, aos poucos me adaptei e hoje é minha rotina. Apesar de ter muita coisa que eu queria ter comido, eram impulsos momentâneos, posso aproveitar minha vida, sair com os amigos. Não me privo de nada, só tenho cuidado extra”.
A nutricionista Fabiana Lopes, que é especializada em qualidade em alimentos e professora universitária, destaca que os hábitos que favorecem a obesidade devem ser combatidos. O açúcar adicionado em produtos especializados como sucos, chás, iogurtes, biscoitos, cereais, refrigerante, pães e bolos e até em alimentos salgados como molhos e pratos congelados são os grandes vilões.
“A prevenção depende de uma alimentação equilibrada em nutrientes, rica em alimentos in natura como frutas e vegetais e que favoreça a manutenção de um peso saudável. Os integrais fazem diferença pois possuem mais fibras que os alimentos refinados e ajudam no controle da taxa de açúcar no sangue”.
Ela destaca que os alimentos ricos em carboidratos devem ser consumidos moderadamente, como frutas, trigo, arroz, aveia e nos alimentos chamados “tubérculos” como batata, mandioca e milho. E ressalta a importância de evitar produtos industrializados. “Analise a lista de ingredientes para conferir a adição de açúcar e olhar também o total de carboidratos que a porção oferece”, sugere. A OMS recomenda que os governos estimulem políticas de prevenção e controle da obesidade e da diabetes urgentemente, incluindo medicas para desencorajar o consumo de alimentos pouco saudáveis.
Por Marlla Sabino