Linha de frente: enfermeira procurou terapia por causa da solidão

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No ano passado, com o início da pandemia de Covid-19, Mylena Rodrigues, 25, enfermeira e atuante na linha de frente, decidiu se mudar para um apartamento e morar sozinha para evitar o contato com seus familiares. “Eu morava com minha mãe e minha irmã, e no ano passado precisei sair de casa e ir morar sozinha para proteger meus familiares, já que eu tinha contato direto com pacientes com Covid”, contou. Mylena, assim como muitos outros brasileiros, passou muito tempo isolada de todos, sem contato com amigos ou familiares por medo de contaminá-los.

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Enfermeira faz Terapia

Para Mylena, não foi fácil sair de casa antes do esperado, a enfermeira afirma que precisou se virar sozinha e, às vezes, um abraço fazia uma falta imensa. “Me senti sozinha por vários momentos, principalmente no início onde tudo era novidade. Meu psicológico ficou muito abalado devido ao medo, por ver muitas pessoas morrerem diariamente. Pensar que poderia acontecer comigo ou com alguém que eu amo me deixava aterrorizada”, disse a enfermeira. Ela optou por fazer terapia para enfrentar melhor a situação.

Solidão e afastamento

Para o professor de psicologia Aldry Santos, morar sozinho pode acentuar o sentimento de solidão, impotência, abandono e falta de apoio. “Na medida em que o trabalho dos profissionais de saúde é um trabalho com uma grande carga de estresse, estes profissionais necessitam de um aparato social para que eles possam ser cuidados também”, explicou. Santos afirma que se sentir apoiado por outras pessoas, ajuda a enfrentar os desafios da vida.

Andry Santos afirma que esse afastamento social pode afetar o psicológico das pessoas. “O isolamento social modifica o nosso cotidiano na medida em que impõe medidas restritivas de circulação. O trabalho, o lazer, o contato familiar e as outras atividades como essas acabam sendo afetadas. Essa situação termina por limitar o nosso espaço de vida e nós precisamos deste espaço para mantermos nossa saúde mental“, analisou.

Agravamento dos casos

Segundo o levantamento feito pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), no qual médicos psiquiatras de 23 estados e o Distrito Federal participaram, em 2020, 47,9% dos entrevistados perceberam um aumento em seus atendimentos após o início da pandemia. Além disso, 89,2% dos médicos entrevistados destacaram o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes devido à pandemia de Covid-19.

Porém, um tratamento com um psicólogo pode ser caro, e não são todos os profissionais de saúde que podem pagar por ele. Santos afirma que atualmente existem vários projetos de atenção psicológica que são ofertados para essas pessoas que atuam na linha de frente. “Há projetos de universidades e também algumas ONGs que oferecem estes serviços”, esclareceu.

Saiba como encontrar atendimento gratuito

Para Aldry Santos, existem maneiras de tornar o isolamento social menos desgastante e ao mesmo tempo seguir todos os protocolos de cuidados em relação à pandemia. “O ideal é que, dentro das possibilidades, mantenhamos uma rotina nas nossas atividades. Ao manter essa rotina, não sentimos o grande impacto do isolamento social. Rotina para dormir, trabalhar, ler, passear, fazer atividades físicas, compras, etc”, argumentou.

Mylena já tomou as duas doses da Coronavac, mas ainda não acredita em um rápido retorno à casa de sua mãe. “Infelizmente acredito que ainda vai demorar muito tempo até que tudo volte ao normal. A vacinação não está no ritmo que deveria e muitas pessoas ainda não se conscientizaram da gravidade da doença. Ainda está morrendo muita gente. Jovens, idosos. Todas as idades. UTIs estão, sim, lotadas. As pessoas continuam se aglomerando, indo em festas, não usando máscaras ou tomando o mínimo de cuidado possível. Enquanto a população não estiver consciente da real situação que estamos vivendo, as pessoas vão continuar adoecendo e morrendo”, desabafou.

Saiba como se proteger

Segundo a microbiologista/virologista da UFMG, Betania Drumond, esses são os 5 cuidados  fundamentais para quem não pode se isolar em casa e precisa sair para trabalhar.

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Por Maiza Araujo

Foto: Arquivo pessoal da enfermeira

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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