“Eu chorava em casa, pensava que não queria ir para o trabalho no outro dia. Desejava desistir de tudo, tinha picos de depressão, até que acabei surtando no escritório”. Esse é o relato de Paulo Souza, 29 anos, mas poderia ser o de centenas de trabalhadores. No país que mais apresenta casos de depressão em toda a América Latina (segundo dados da Organização Mundial da Saúde), a influência da doença no trabalho é preocupante.
O alto número de casos se reflete também no mercado de trabalho. Após abandonar o curso de Engenharia Civil e o trabalho também na área, Paulo precisou procurar alternativas para se sustentar. “Há dois anos e meio eu sou motorista em aplicativos. Foi uma maneira de ganhar dinheiro rápido e me recuperar da doença”, relata. A mudança brusca de ramo trouxe espanto para a família e amigos.
Para a psicóloga Vivian Bastos, o julgamento é uma das principais causas para as pessoas permanecerem em trabalhos que as deprimem. “Muitas vezes as pessoas pioram seus quadros de depressão porque sabem que irão enfrentar duras críticas, se sentindo obrigadas a continuar ocupando aquele cargo. É importante valorizar primeiramente sua saúde mental e física”, diz Vivian.
Os trabalhos informais influenciam diretamente na economia do país. A taxa de pessoas empregadas sem carteira assinada cresceu em 2018, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral, realizada pelo IBGE. Os dados comparam o quarto trimestre com o mesmo período do ano anterior.
Caroline Andrezo, 29 anos, foi uma das pessoas que optou pela alternativa de um emprego sem carteira assinada. Ex-funcionária pública, optou por pedir exoneração do cargo ao ver o emprego e colegas de trabalho agravando a depressão que ela sentia. “Eu decidi sair do setor público o para o privado, já que cada dia mais eu adoecia por estar naquela empresa”, diz.
Hoje Caroline trabalha em uma barbearia como atendente. “Apesar de ter sido criticada, hoje tenho muito mais qualidade de vida”, desabafa.
Apesar de Paulo e Caroline terem conseguido voltar para o mercado de trabalho, Vivian alerta que nem todas as pessoas com depressão são capazes disso. “A doença é classificada em diversos graus. O que funciona para uns, não vai necessariamente funcionar para todos”, alerta a psicóloga.
A gerente de Recursos Humanos, Jessicka Marques, chama a atenção para a importância do papel das empresas. “Apoio psicológico, postos de escuta e manter uma comunicação clara”. Para ela, essas são algumas das medidas que o mercado empresarial pode tomar para manter seus funcionários com elevada estabilidade mental.
Ainda segundo a OMS, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo até 2020. “É importante que as empresas se preocupem com seus funcionários. Ainda hoje muitas pessoas taxam a depressão como preguiça, falta de esforço ou simplesmente frescura. O apoio é fundamental para a melhora das vítimas”, diz Jessicka.
Por Mirella Rodrigues
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Supervisão de Luiz Claudio Ferreira