“Antes tudo era minha história e fim
Meus planos, sonhos, sentidos e cores
Depois, tudo preenchem, suas dores e amores {…}”
Fernanda Curado Reale
Tratamentos que chegam a durar meses, custam mais de R$ 10 mil e que exigem paciência, disciplina e comprometimento. Às vezes, não são bem sucedidos da primeira vez, o que leva a frustrações. Mulheres com problema de infertilidade e que decidiram engravidar sabem que terão uma longa jornada até receber um teste positivo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a infertilidade afeta de 50 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo e, no Brasil, cerca de 8 milhões de pessoas podem não ter condições de serem mães biológicas. Os principais fatores que afetam a fertilidade feminina são a idade acima de 35 anos, o ciclo menstrual irregular e doenças como Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) e endometriose, que atinge cerca de 10% das mulheres.
A reportagem ouviu mulheres que se submeteram a esse tipo de tratamento e ouviu histórias com desfechos diferentes. O que há em comum é a vontade ou necessidade de ser mãe. No entanto, mulheres também encararam a decepção. É o caso da supervisora de gestão eletrônica Lânia Márcia de Almeida, mineira de 43 anos, veio para Brasília aos 17 anos para estudar e construir uma vida na capital. Desde criança seu maior sonho era ser mãe.
“Algo que é nato em mim. Sempre o desejo de ser mãe foi algo que, desde criança, desde o brincar de boneca, era uma certeza que eu tinha. Eu me lembro que eu tinha um bebê, que eu ganhei e tenho até hoje, […] de brincar de colocar o bebê na barriga, forjar um parto. Lembro até que a minha avó ficava muito brava, dizia que era coisa de mulher sem vergonha, mas que pra mim era algo muito natural”.
Foi entre 30 e 35 anos que Lânia começou a planejar a gravidez. Ela já tinha se formado, já estava com emprego fixo, já tinha uma casa própria, só sentia falta de ser mãe. Até então, ela estava em um relacionamento, porém não via seu parceiro da época como alguém que poderia ser o pai
“Eu decidi que não queria mais procurar um marido e sim um pai que se contemplasse nesse papel. Conheci uma pessoa que não poderia ter filho, ele era vasectomizado, e por isso, adiei esse desejo por sete anos. A questão de ter filho era mais forte do que casar. Até que um dia terminei com essa pessoa que eu estava na época porque o sentimento materno falava mais alto”.
Aos 38 anos, ela conheceu uma pessoa com quem dividia o mesmo desejo, mas diferente dela, ele queria construir uma família. Após seis meses tentando pelos métodos naturais, eles tiveram que fazer diversos exames para descobrir o porquê dela não estar conseguindo engravidar.
“Nesse exame eu quase morri de dor e vi que tinha alguma coisa errada. Depois eu tive que repetir o exame para melhor avaliar, aí eu tinha certeza que tinha problema. Uma das trompas tinha problema, tinha alguma coisa diferente, então tinha que fazer uma cirurgia para tirar essa infecção, porque essa poderia ser a causa de eu não conseguir engravidar”.
Após a bateria de exames, Lânia acabou descobrindo não só as obstruções das duas trompas, como também, que tinha endometriose e, por isso, não tinha possibilidade de engravidar de forma natural. Seu médico explicou que o único procedimento que daria certo, então, seria a fertilização artificial.
“Eu retirei a trompa, porque tinha endometriose A outra trompa não estava boa, tinha problemas também, por isso não dava para ter gravidez normal, mas que tinha grandes chances da gravidez. E, em menos de seis meses, eu tive que fazer outra cirurgia para a retirada da outra trompa. Quando o médico viu, ele disse que tinha restos embrionários, ou seja, tive uma gravidez tubária e a minha sorte foi que a infecção não se espalhou”.
A única possibilidade para conseguir engravidar era fazer a Fertilização In Vitro (FIV), porque ela tinha os óvulos, o ovário e o útero, só não tinha mais as trompas, que são o caminho para chegar até os ovários. Em 2015, o investimento feito custou cerca de 20 mil reais para realizar a fertilização. Ela coletou os óvulos para fertilizar, mas ao fazer os testes de gravidez o resultado foi incompleto.
“Dos doze óvulos que eu retirei, três estavam corrompidos e só nove foram usados. Desses nove, apenas seis evoluíram, e cada dia que passava eu recebia um boletim que me atualizava sobre o procedimento. Até que eu recebi um dizendo que os quatro que restavam estavam bons e coloquei dois. Os outros dois não tinham vingado e nem os que tinha colocado, aí eu voltei para a estaca zero do processo”.
O sentimento de culpa, decepção, raiva, tristeza é comum entre mulheres que passam por essa situação. Após tudo que passou, por ainda não ter superado, Lânia não tentaria novamente.
“O custo financeiro é alto, mas para mim o custo emocional foi maior, porque eu tinha certeza que eu ia engravidar, para mim era a coisa mais certa do mundo, por mais que as estatísticas já dissessem que pela idade a probabilidade era menos que 20%. Então eu tinha certeza que eu tinha nascido para ser mãe, que a barriga ia crescer que eu ia amamentar essa coisa toda. “Quando eu descobri que não ia dar certo eu fiquei perguntando o que eu fiz o que eu fiz contra Deus, o que eu errei, por que eu era tão ruim assim. Foi me negado o dom de ser mãe, até hoje eu estou brigada com Deus, eu tive uma DR grande”.
Para ajudar na superação deste trauma, Lânia passou a fazer terapia e a buscar alternativas para a maternidade. Hoje, ela aguarda em uma fila para adoção de uma criança.
“A hora que não deu certo eu me aborreci, tive que fazer terapia para dar conta de administrar e o rumo que eu ia seguir para querer ser mãe. Depois de me inscrever no processo de seleção para a adoção, percebi que existem outros métodos, outros meios de alcançar o meu objetivo de ser mãe, eu fui aceita nesse processo no ano passado, agora é só eu esperar eles me chamarem para ir lá”.
A vontade de ter outro filho e sua fé foi à base que Alexsandra Aguiar de 46 encontrou para superar a dificuldade de engravidar. Ainda jovem, ela teve seu único filho, Yngwie, de 23 anos, nascido de uma gravidez natural, mas que não foi planejada. Durante a única gestação, Sandra sofreu dois assaltos que comprometeram a saúde de seu filho.
“Durante a minha gravidez eu sofri dois assaltos e no segundo assalto, poucos dias depois, ele nasceu. Ele nasceu com uma insuficiência respiratória, teve que fazer cirurgia no pulmão para tirar secreção. Com três meses de vida ele teve pneumonia nos dois pulmões, passou 15 dias internado. Assim, foi uma gravidez difícil, nasceu de sete meses também, mas ele está aí hoje vivo para contar história”.
Sandra ainda queria ter outro filho, tanto por vontade própria, quanto para que Yngwie tivesse a companhia de um irmão. A dona de casa passou por uma bateria de exames hormonais de progesterona e prolactina. A progesterona ajuda a preparar o revestimento do útero (o endométrio), e a prolactina é importante para o desenvolvimento das mamas para o aleitamento e também para o controle da ovulação para a regulação da menstruação.
Depois dos exames para ver a taxa de hormônios no corpo, Sandra passou por uma cirurgia para a retirada de pólipos do útero e descobriu que suas trompas estavam obstruídas. Assim, ela só poderia engravidar por meio de fertilização.
“Eu fiz uma cirurgia para retirar pólipos do útero. Depois dessa medicação, depois de um tempo, fica liberado a tentar engravidar e não consegui. Voltei para os médicos, mas todos os meus exames deram normais. Meu esposo fez o dele também e estava normal, a minha médica pediu para a gente fazer uma videolaparoscopia para ver como estavam as minhas trompas. Eu fiz esse procedimento também cirúrgico com anestesia geral e o diagnóstico veio que minhas trompas estão obstruídas e que por meios naturais eu não poderia mais engravidar, a não ser que fosse milagre de Deus”.
Foi então que, em 2009, Sandra tentou engravidar por outros métodos. Ela se organizou com o marido, procurou um médico especialista em Fertilização In Vitro (FVI) e teve que sair de sua cidade para realizar o procedimento que, na época, custou 15 mil reais. Entretanto, sua primeira e única tentativa não obteve sucesso.
“Eu fiz esse procedimento, esperei infelizmente até onde deu, coloquei quatro ovos, porque o médico disse até que eu conseguiria segurar por 30 dias, mas depois disso o óvulo se soltou e não fecundou. Aí justamente a minha reação foi de muita tristeza na época. Eu fiquei muito triste, é difícil demais você saber que você quer tanto uma coisa, até para falar hoje em dia é uma incerteza…”
Após saber que não conseguiria ter outro filho, Sandra teve apoio de amigos, da família e principalmente do seu filho. Entretanto, que lhe deu mais forças para superar, foi sua crença religiosa, algo que lhe ampara até hoje quando se sente mal.
“Na época, eu cheguei muitas vezes a me perguntar o porquê que tantas não querem e jogam na lata do lixo, e eu que tanto queria, não conseguia. Mas hoje, na minha visão, eu entendo que a gente tem que aceitar aquilo que Deus quer para nossa vida e muitas vezes a gente insiste tanto e termina não sendo bem sucedido. E não era isso que Ele queria”.
Pensar na ideia de engravidar não estava nos planos de Cíntia Diniz de 42 anos é psicóloga e professora de Ballet para crianças e mora em Natal. Foi com 37 anos que ela decidiu engravidar pelo método tradicional depois de 10 anos amadurecendo e adiando a vontade de ter filhos.
“Eu comecei a pensar nessa ideia de ser mãe na parte dos 26, 27 anos, mas foi muito engraçado porque entrava no consultório ginecológico e ouvia dos médicos: “já tem que pensar em ser mãe, depois dos 30 já está começando a passar da hora de ser mãe e depois dos 35 anos você já está velha para ser mãe”.
Por várias questões a professora escolheu adiar a gravidez. Dentre elas, a principal razão foi à preferência em estar madura o suficiente para lidar com a maternidade.
“A sociedade cobra muito. De uma forma geral você precisa ter, você está ficando velha para ter, ou então, se você for mãe você não pode ter uma carreira profissional ou então rótulos. Eu acredito que eu escolhi o momento que eu estava bem madura, bem consciente das minhas escolhas, do que eu queria, dos planos que eu estava traçando. Eu tentei por 5 anos engravidar naturalmente”.
Os médicos alertam que depois dos 35 anos, o período fértil da mulher é limitado e as chances de gravidez diminuem. Por isso, Cintia buscou diversos médicos especialistas em fertilização que pediram diversos exames de acompanhamento para tentar encontrar o porquê dela não conseguir engravidar.
“Então eu fiz inúmeros exames, assim de perder a conta, exames de sangue no terceiro, décimo, vigésimo, décimo segundo dia do ciclo, quase todos os dias tinha que fazer exames; acompanhamento de ultrassom nos diferentes dias do ciclo; acompanhar quando efetivamente eu ovulava; fiz exames até de ressonância magnética; e fiz um exame, um dos piores que eu fiz que é aplicado um contraste, e esse contraste segue o fluxo contrário que é para poder ver se há algum entupimento, alguma barreira nas trompas que impeça o óvulo de chegar até o útero. Aquilo causa uma dor absurda, é o pior exame que eu já fiz, muito doloroso”.
Em um desses exames de rotina, foi identificada uma bactéria que causou uma endometrite na professora, isto é, uma inflamação no endométrio que reveste a parede interna do útero. Cintia, então, teve que fazer um procedimento cirúrgico para a retirada da bactéria, que poderia ser a razão de sua dificuldade para engravidar.
“A endometrite estava bem tomada e a médica falou que poderia ser um forte indício de eu não esta conseguindo engravidar, porque realmente, hoje essa inflamação não favorece com o que o óvulo se fixe no endométrio, nas paredes do útero para engravidar. E eu já tinha tomado o Serophene, que era para estimular um pouco mais ovulação. No primeiro ciclo após esse tratamento, eu engravidei”.
Cintia ficou grávida, porém, após oito semanas e gestação, sofreu um aborto espontâneo. Até então, a sua gravidez havia sido normal. De acordo com os médicos não houve causa específica e que tinha sido algo natural do próprio corpo. A professora tem tireoide de Hashimoto, isto é, uma doença autoimune caracterizada por uma inflamação da tireoide que leva a defesa dos anticorpos contra a tireoide, ou seja, o próprio corpo não reconhece a tireoide causando assim o hipotireoidismo.
Em uma viagem a São Paulo, Cíntia conversou durante uma consulta com a médica que conhecia há mais de 20 anos e descobriu que este problema na tireoide pode ter influenciado no aborto. Até hoje, ela não tem certeza do que foi a causa, mas sabe que outros fatores foram significantes para o acontecimento, como a Herpes Zoster, uma infecção que se manifestou pelo corpo, é causada pela reativação do vírus da catapora. Por ser uma doença pouco conhecida, Cíntia teve dificuldades para ter o diagnóstico por um profissional.
“Um fator que pode ter influenciado bastante, foi a Herpes Zoster na altura do ovário esquerdo, e eu fiquei com tudo aqui na região muito inchado. Os médicos não conseguiram fazer exames de imagem, não apareceu nada e demoraram a identificar. Então foi uma série de coisas que aconteceram nesse período da gravidez e que favoreceram ou fizeram parte desse aborto espontâneo”.
Para a professora, o apoio da família e dos amigos foi importante para superar esses acontecimentos. Atualmente, ela ainda luta para ter um diagnóstico mais preciso sobre os problemas que tem. E, acredita que o mais importante agora é se cuidar, ter uma boa saúde e continuar tentando engravidar sem utilizar os métodos de fertilização, sem nenhum tratamento invasivo nem doloroso.
“Aceitar o momento em que cada pessoa está vivendo é muito importante. Querer voltar atrás não dá certo e querer acelerar também não dá. Então, eu tenho que entender, aceitar e ressinificar o que passei, usar como experiência, não me arrepender. Acho que o arrependimento traz muito mais sentimentos negativos, mas o aceitar é você entender aquilo, a função que aquilo teve, tirar o proveito para no momento seguinte você fazer diferente”.
Ter filho não era uma prioridade para a psicóloga Leandra Lima de 43 anos, porém nunca desistiu da vontade de ser mãe e construir uma família. Por conta do planejamento da vida profissional com o marido na época, escolheu adiar o investimento deste projeto de engravidar.
“Adiei durante muitos anos engravidar, por conta da vida profissional, que demandava bastante, e por conta também de um relacionamento anterior. Na época, eu estava num casamento onde o meu esposo não queria filhos e estava adiando também. Por volta dos 38, 39 anos nós decidimos que íamos tentar, já que as taxas de fertilidade das mulheres caem bastante”.
Em 2014, após a decisão de investir em construir uma família, Leandra junto com o seu parceiro, descobriu que estava grávida. Entretanto, por volta de oito semanas após a notícia da gravidez, o bebê não conseguiu se desenvolver e ela teve um aborto espontâneo.
“Eu engravidei espontaneamente e por volta de oito semanas de gestação eu sofri um aborto espontâneo, o bebê parou de se desenvolver. Aí fiz um processo de curetagem na época pensando já em respeitar o período de repouso. Se eu não me engano, seis meses depois só que poderia tentar fazer uma nova tentativa”.
Leandra precisou fazer uma curetagem, um procedimento realizado para limpar o útero de restos de um aborto incompleto e depois disso, esperar de dois a três ciclos menstruais para tentar novamente. Após esse processo, a médica descobriu diversas cicatrizes no útero da psicóloga que poderiam impedir uma nova gravidez e que precisaria passar por uma cirurgia para corrigi-las.
“Ela observou que o meu útero estava cheio de cicatrizes de uma curetagem mal sucedida feita pela médica anterior, e todas essas cicatrizes seriam um grande impeditivo para engravidar, para uma nova gravidez e nós precisamos fazer uma cirurgia no meu útero para corrigir essas cicatrizes”.
Um ano depois desse acontecimento, foi identificado o problema que poderia ser, de fato, o que dificultou a sua gravidez. Foi o exame que detectou que seu endométrio estava muito fino e a contagem de óvulos estava baixa. O diagnóstico feito alegou que ela só tinha 2% de chance de engravidar novamente e somente pelo método de fertilização.
“O endométrio fino é um dos fatores de infertilidade que dificulta a implantação do óvulo. Começamos a investigar também a minha contagem de óvulos e percebemos que eu já estava com uma contagem muito baixa, dificultando ainda mais o processo para engravidar. Segundo a minha médica, engravidar de forma espontânea seria impossível naquela circunstância, eu só teria chance de engravidar novamente através de um processo de fertilização e apenas 2% de chance de engravidar”.
Como Leandra tinha estoque baixo de óvulos, a médica optou por fazer a coleta e o congelamento de alguns dos óvulos o mais rápido possível, enquanto ela se recuperava do tratamento feito no endométrio.
“Nós iríamos entrar com um tratamento para engrossar o endométrio e nós não podíamos esperar esse tratamento acontecer, porque é um tratamento demorado e, de início, a minha contagem de óvulos ia diminuir cada vez mais. Então eu fiz três etapas de coleta de óvulos. eu coletei sete ovos, que é uma contagem muito baixa, e nós congelamos os sete óvulos na época”.
Leandra conta que o fator que mais dificultou o processo de engravidar não foi seu problema de saúde, mas sim, sua vida pessoal. Ela passou por um período de separação no ano de 2015 e, consequentemente, interrompeu o processo de fertilização e, com isso, não sabia se continuaria com o procedimento para a maternidade.
“Eu decidi não fertilizar já que eu estava em processo de repensar a mesma maternidade, se eu optaria por ter filhos sozinha, numa produção independente, ou se desistiria do processo”.
Depois de todo esse processo, Leandra se casou novamente em setembro do ano passado e trinta dias após o casamento descobriu que estava grávida. Ela diz que foi uma mistura de sensações, mas que ao mesmo tempo muita felicidade já que não esperava que passaria por essa experiência de ser mãe.
“Foi um susto porque a gente já tinha planejado uma vida sem filhos, uma vida de projeto de trabalho, projeto de viagem. Mas também foi uma alegria muito grande por perceber que um milagre estava acontecendo. Eu não tinha perspectiva de engravidar naturalmente, apenas por fertilização e, ainda assim, seria um processo muito difícil, e estava acontecendo espontaneamente”.
Criar um filho sempre esteve nos planos da jornalista Priscila Portugal de 37 anos. Sempre teve o desejo de ser mãe e seu maior sonho era engravidar. Ao completar 30 anos, teve uma conversa com o marido e decidiu que estava pronta para ser mãe.
“Eu casei com 26 para 27 anos com meu marido e sempre esteve nos nossos planos ter filhos, mas a gente queria se estabilizar e tudo mais. Com 30 anos é uma idade redonda que eu falei “bom, arrumei um emprego legal, estou morando em um apartamento legal e já podemos pensar nisso”.
Priscila fazia acompanhamento e exames médicos periodicamente e, após um ano de tentativas sem sucessos para engravidar, voltou à sua médica para saber o que estava lhe impedindo.
“Eu tinha meu ciclo regular, então não tinha que me preocupar com o dia que vou menstruar, eu sabia direitinho. Foi um ano de tentativas e comecei a entrar na neura. Aí eu falei com ela “olha doutora não é normal, eu estou tentando e não consigo engravidar”, ai ela disse que é super normal, “a expectativa é até dois anos tentando na sua idade, pode tentar mais um pouco não precisa ficar encanada’’.
Foi então que Priscila procurou outros médicos que pudessem lhe dar algum outro diagnóstico. Ela fez um rol de exames e um deles apontou que ela tinha estoque baixo de óvulos e que precisaria começar o tratamento o quanto antes. O segundo especialista que ela procurou, pediu um exame que investigaria as trompas para saber se estava com algum outro problema.
“Ele viu que estava tudo bem e pediu outro exame para ver o meu útero, que também estava tudo bem. “Então vamos partir para um tratamento, porque se está tudo ok a gente não sabe qual é o problema. Vamos ver o que tem”.
Os médicos tinham recomendado para Priscila que ela primeiro fizesse uma inseminação artificial, que é menos agressiva e, depois, caso não desse certo, partisse para uma Fertilização in Vitro (FIV). Entretanto, ela fez primeiro a FIV, seguindo indicação de algumas pessoas com quem já havia conversado. Estes lhe contaram que buscaram outros métodos de fertilização primeiramente e, quando só sobrou a opção da Fertilização in Vitro, estavam desestimulados e desanimados para continuar.
“Eu consegui produzir três, mas aí eu tive só dois embriões, a gente implantou e eu fiquei confiante que ia dar tudo certo. Bem, não deu. Eu fiquei super arrasada, foi muito ruim, foi muito investimento. Porque é um processo invasivo que você aplica uma injeção na barriga todo dia, você faz ultrassonografia que mostra se você produziu óvulo todo dia sim e dia não. Então era sempre uma decepção atrás da outra”.
Após um ano deste processo sem nenhum resultado, a jornalista ficou bastante triste com o resultado e procurou novamente seu médico para fazer outra fertilização, só que mais agressiva.
“Eu fiquei muito arrasada, demorei um ano para me recuperar disso, voltei no mesmo médico e fiz outra. Eu resolvi fazer outra fertilização no mesmo médico e ele decidiu aumentar a quantidade de hormônio, já que respondi mal. Só que me fez muito mal, porque eu continuei produzindo poucos óvulos e vamos dizer, absorvia todo o hormônio só para eles, ai eles cresceram muito rápido e não amadureceram. Aí foi outro tombo, aí nessa a gente começou a considerar a adoção, buscar outros caminhos, porque eu já não aguentava mais”.
Logo após todo esse momento delicado, Priscila buscou terapia para lhe ajudar na superação desses acontecimentos e buscou um obstetra que pudesse lhe explicar o motivo que lhe impedia de ter filhos.
“Eu cheguei ao ponto que era mais importante eu saber o que eu tinha do que engravidar, porque poxa, não saber o que você tem é desesperador. Aí fui em outro médico, que era um obstetra, que descobriu que eu tinha um endométrio disfuncional, um endométrio que tinha saliência. O médico propôs uma aspiração do endométrio e que nasceria um outro endométrio e que talvez seria bom”.
Após esse procedimento de aspiração, o casal buscou a inseminação artificial, que era menos agressiva e que não precisaria de um acompanhamento diário.
“Fizemos a inseminação, eu tive até umas cólicas a noite que é sintoma de gravidez, mas que não deu certo. Aí depois dessa eu falei “chega, essa é a última, não quero mais, vamos correr no processo de adoção”, eu já tinha passado de todos os meus limites”.
Depois de diversas frustrações com a tentativa de engravidar, em 2016, Priscila criou o blog “Cadê Meu Neném?” para contar a sua trajetória até conseguir engravidar e também ouvir histórias de mulheres que passaram por esse mesmo problema. Em muitos casos, Priscila se tornou amiga de muitas mulheres.
“Eu me sentia muito sozinha, então a minha proposta era ajudar as mulheres. Primeiro mostrar que elas não são as únicas a passar por aquilo, depois contar a minha história para ter uma identificação, trazer informação […] E também colocar depoimentos de mulheres que queriam contar sua história, porque eu adorava contar histórias com um final feliz, mesmo que seja uma mulher que demorou cinco anos para engravidar, mas que teve um final feliz”.
Em um dos depoimentos recebidos pela jornalista, uma mulher que virou grande amiga da jornalista contou sua história de que havia sofrido dois abortos, mas que depois conseguiu engravidar após uma consulta com um imunologista. Depois da insistência Priscila resolveu, então, ir atrás do médico desta colega.
“Eu contei a minha história também, eu sempre conto a minha história para elas e ela me falou para ir no médico dela, que ele seria muito bom, que eu iria conseguir. Mas eu disse que não, porque eu não queria brincar de novo, não quero me decepcionar de novo”.
Após a consulta, o médico pediu diversos exames que ela nunca tinha feito, até que um deles apontou que Priscila além de endometrite tinha trombofilia, tireoide de Hashimoto e também estoque baixo de óvulos. Após disso fez outro procedimento de fertilização.
“Eu fui atrás do médico, ele me passou exames que nenhum médico tinha me pedido e mostrou o que eu tinha. Aí eu tentei engravidar durante seis meses, mas como eu tinha poucos óvulos, não estava conseguindo. Ele falou que não era para esperar e era partir direto para a fertilização. Eu tive três óvulos maduros e só um embrião fecundou. E depois de sete anos, eu finalmente engravidei”.
Tratamentos
O médico especialista em Reprodução Assistida, Antônio César Barbosa, explica que existe uma idade limite para mulheres engravidarem pelo método tradicional.
“Quando se fala em infertilidade, é importante entender é quando um casal está tentando engravidar por mais de um ano e não tem sucesso”. Se a mulher tiver acima de 35 anos, considera-se o tempo de seis meses. Podem existir causas femininas e causas masculinas, aí teria aproximadamente 50% de causas femininas, 30% de causas masculinas apenas e 20% envolvendo os dois”.
Para cada tipo de infertilidade existe um tratamento adequado. Quando a mulher tem Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), por exemplo, a melhor forma será induzir a ovulação. Já se houver obstrução das duas trompas (canais que levam o óvulo até o útero), recomenda-se que a mulher faça a fertilização in vitro (FIV).
O especialista ainda explica a diferença entre inseminação e FIV.“Fertilização In Vitro você pega o óvulo e o sêmen e fertiliza em laboratório e implanta no útero.” “A inseminação é um caso mais fácil, mas tem menor chance de sucesso. Quando se faz inseminação é quando o caso é simples e a paciente é jovem. Se a paciente tem um caso mais complexo e tem mais de 35 anos você vai direto para a fertilização in vitro”.
De acordo com o Antônio César,, a infertilidade ocorre entre 10 e 15% em casais, e que é algo muito comum, além de outros fatores serem fundamentais para a progressão desse problema. “A endometriose ocorre em 30% das mulheres, pólipos no útero ocorre até 50% nas mulheres, então são doenças que a mulher tem e que o médico precisa investigar para saber se é isso a causa de infertilidade”.
Por Victória Basques.