Mama tuberosa: entenda essa rara malformação nos seios

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O que você entende sobre mama tuberosa? Você já ouviu falar a respeito? Muitos não sabem do que se trata ou da primeira vez que escutam, pensam que pode ser um tumor na região da mama. Mas a realidade é que a mama tuberosa  é que uma rara malformação nos seios da mulher que se apresenta ainda no início do desenvolvimento da puberdade. O seio fica no formato de um tubo.  “Desde pequena, eu já sentia o meu peito de uma forma diferente porque ele doía muito, mas muitos falavam que ele estava crescendo e por isso a explicação para dor. Mas foi aos 14 anos que eu descobri que tinha mama tuberosa. Foi algo confuso pra mim na época, mas eu lembro que chorei muito, escondida, depois de saber do que eu tinha e de pesquisar a respeito”, disse uma jornalista, de 22 anos, que preferiu não se identificar.

A jornalista disse que, durante muitos anos, não conseguia aceitar que tinha mama tuberosa. Foi algo que durante toda sua adolescência sofreu, principalmente com a questão de sua autoestima. Idas a  praias ou clubes? De forma alguma. Só usando blusão, pois não tinha coragem de usar biquíni ou maiô. Não era qualquer roupa que poderia usar, não conseguia se olhar no espelho e como tava em fase de crescimento, isso acabava com ela. “Na época, a médica me disse que eu poderia fazer a cirurgia depois dos 18 anos, que era a idade aconselhável para a massa do peito crescer, e pediu que eu fosse ao psicólogo, mas só pude mesmo em 2015 com 19 anos.”

Hoje com 22 anos, ainda não fez a cirurgia. A ideia de ter a mama tuberosa ainda é algo que mexe com ela, pois em relação a relacionamentos amorosos, ainda tem vergonha e não se vê com ninguém, até fazer a cirurgia. Depois de anos após descobrir a malformação nos seios, vem indo ao psicólogo, principalmente se preparando para a cirurgia que tanto deseja fazer.

Alteração congênita

A mama tuberosa é uma rara alteração congênita na mama da mulher, que se inicia no início do desenvolvimento da puberdade. Os seios ficam no aspecto de um tubo, variando de pessoa pra pessoa no tamanho, formato e do aumento da posição da aréola.

De acordo com a mastologista da Aliança Instituto de Oncologia, Gabriela Feitosa Lins de Albuquerque, o conceito “mama tuberosa” é usado para definir uma variedade de deformidades mamárias cuja causa não está clara nem bem definida. É uma entidade rara que acomete mulheres jovens, uni ou bilateralmente. Sua incidência e prevalência exatas são desconhecidas em decorrência do subdiagnóstico e da ausência de correlação clínica em casos de assimetria mamária. “Desde quando eu tinha 15 anos, eu percebia que tinha algo de diferente”, disse uma estudante de 20 anos.

Após descobrir sobre mama tuberosa pesquisando na internet e logo depois indo a ginecologista, a estudante descobriu quando tinha 15 anos. “Desde muito nova eu já ia em vários cirurgiões, pois a mama tuberosa que eu tenho é a mais grave, é a de nível 3. É uma situação complicada, pois tem riscos. E por ser um grau tão elevado, eu to na fila do SUS para conseguir a minha cirurgia.”

Apesar de lidar com o fato de ter mama tuberosa, até hoje continua sendo um problema pra ela, pela questão da vergonha, do desconforto e da baixa autoestima. Apesar de ter acompanhamento psicológico, não começou por conta da mama tuberosa e sim por outros problemas mas acabou que englobou de alguma maneira.

Em relação a cirurgia, ela ainda não fez, e por serem duas, a questão financeira fala mais alto, principalmente por ser uma cirurgia tão cara. “Eu lembro que teve uma que deu 13 mil reais, tirando a internação, os remédios, meia e sutiã cirúrgico.” Após conseguir ir ao hospital público de Brasília,  está na fila para conseguir a cirurgia. “Não é algo rápido, eles priorizam pessoas que estão em situações mais complicadas do que eu”.

Desde que conseguiu entrar nesse hospital público, um médico vem a ajudando, não pensando pela questão do dinheiro e sim de ajuda mesmo, por entender toda essa questão delicada que é a mama tuberosa. “Até hoje eu não fui aprovada ainda, estou na fila, mas graças a Deus venho tendo consultas. Inicialmente eu preciso emagrecer, mas é por uma questão de ter pele o suficiente. Mas até o momento eu não fui encaminhada para a cirurgia, é todo um processo ainda.”

O papel do psicólogo com um paciente com mama tuberosa é essencial pois ele vai estar ali com o paciente para trabalhar as questões emocionais e de autoestima. O especialista em Psicologia Clínica, de abordagem comportamental, Felipe Burle dos Anjos, explica que a personalidade vai se formando no início da vida, vindo da infância até o início da adolescência. Então, tratando de uma paciente que tem mama tuberosa, é necessário trabalhar a questão do isolamento, que acaba surgindo pelo fato da pessoa querer se “esconder” por vergonha, e eventualmente pela exposição do corpo em atividades da escola, de esportes. As habilidades sociais é algo a ser trabalhado, senão acaba gerando uma depressão e problemas de autoconfiança. “É uma fase da vida que as pessoas naturalmente vão precisar de apoio”

Após o diagnóstico da mama tuberosa com mastologista, o acompanhamento com o psicólogo, vem também o papel do cirurgião plástico. A médica Cinthia Tavares explica que o diagnóstico é principalmente clínico. É através do exame da mama, exames complementares de imagem e do exame físico da palpação que é possível identificar se tem mama tuberosa e qual classificação, ela se enquadra.

Por ser um assunto muito complexo, a paciente deve procurar um profissional para esclarecer dúvidas sobre a mama tuberosa e assim dar entrada no tratamento com o cirurgião plástico. De acordo com a médica, a mama começa o desenvolvimento dela, desde a vida intrauterina, mas ela só vai finalizar na puberdade, sofrendo ainda modificações. “A mama tuberosa é uma alteração congênita, que a paciente vai desenvolvimento isso ao longo do tempo, começando na puberdade e em torno, dos 16 anos, é para essa alteração está definida.”

Tipos de Mama Tuberosa

Há duas classificações principais: a de Grolleau et al. e a de von Heimburg et al. A classificação de Grolleau et al. descreve três tipos de deformidade da mama tuberosa:

  • Tipo I: Considerada Leve, é o tipo mais presente em 54% dos casos 
  • Tipo II: presente em 26% dos casos
  • Tipo III: Grave moderado, apenas 20% dos casos
  • Tipo IV: Grave, apenas  75%

A classificação de von Heimburg et al., por sua vez, subdivide o tipo II de Grolleau et al., sendo o tipo II com pele subareolar normal e o tipo III, com deficiência de pele subareolar associada a hipoplasia parenquimatosa nos quadrantes inferiores medial e lateral. O tipo I na classificação de von Heimburg et al. equivale ao tipo I de Grolleau et al. e o tipo IV ao tipo III, respectivamente.

A médica Cinthia Tavares explica que não é só uma característica que determina a mama tuberosa e sim um conjunto de alterações. A paciente pode ter uma mama do tipo 1 e a outra do tipo 2 ou então ter só uma mama alterada e a outra normal ou até mesmo os dois seios do tipo 3 ou 4.

Tratamento e cirurgia

Para cada paciente é um tratamento individualizado, pois é necessário ver que tipo de mama tuberosa tem e o que é necessário fazer. A maioria das vezes é corrigido por prótese mamária, pois tem assimetria e é preciso deixar essas mamas semelhantes. Em relação a cirurgia, após o diagnóstico, o tempo é se programar com a questão dos exames e se preparar. Em alguns casos, a decisão de intervir mais precocemente pode acontecer, sempre individualizando a conduta conforme o caso da paciente. Na consulta será feita uma avaliação completa, desde a história do desenvolvimento mamário até o exame físico para definir o tipo de deformidade e a melhor técnica cirúrgica para a correção. Os exames pré-operatórios variam de acordo com idade da paciente, achados no exame físico e doenças preexistentes.

“É necessário tratar o psicológico primeiro, antes de fazer a cirurgia. São mudanças, cicatrizes que serão deixadas na mama pro resto da vida.”

É muito importante reforçar que o próprio diagnóstico é feito em pacientes ainda muitos jovens, é necessário todo um preparo emocional e psicológico durante todo o processo de exames, além da própria espera para uma a cirurgia. Muitas vezes a questão financeira fala mais alto, não é todo mundo que tem condições de pagar uma cirurgia, então é um processo demorado e que é importante ser acompanhado por um psicólogo. Muitas vezes, tá tudo muito confuso e é necessário trabalhar o paciente com relação à aceitação da mama e seu relacionamento interpessoal. Então é importante que essa parte psicológica esteja tranquila e segura.

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Por: Ana Vitória Queiroz

Supervisionada por Luiz Claudio Ferreira

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