Há quem associe o trabalho dos médicos legistas apenas a exames necroscópicos e investigações de causas de mortes. Porém, o que não se sabe é que o volume de trabalho desses profissionais se concentra, na maior parte das vezes, em atendimentos a pessoas vivas.
Para se ter uma ideia, de acordo com o Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF), enquanto são produzidos cerca de 3,5 mil laudos de óbitos anualmente, os peritos médico-legistas realizam mais de 50 mil perícias em pessoas vivas, um número 14 vezes maior.
Médicos legistas, ou peritos médicos desempenham uma função essencial não só na investigação de mortes externas, mas também no corpo de delito em vivos.
O estigma da profissão é causado por se pensar no legista como um atuante exclusivo da morte, no entanto, um médico legista faz apenas um ou dois exames necroscópicos por dia, e o Instituto de Medicina Legal do DF realiza em torno de 7 a 10.
“Nós fazemos um volume muito grande de exames na pessoa viva. Vítimas de acidente de trabalho, vítimas de acidente de trânsito que precisam receber um seguro, pessoas vítimas de agressão, a gente precisa saber se houve ou não lesão corporal”, diz o médico legista Cristofer Martins, especialista em perícia médica.
Ele exemplifica que são produzidos laudos de verificação de idade para saber se a pessoa é maior de idade ou se é menor porque há repercussões na esfera criminal.
“Nós fazemos também a perícia de avaliação para fins de aposentadoria ou da concessão de benefícios no INSS, entre muitas outras coisas”, aponta o profissional.
História
O profissional defende que a medicina legal está presente na sociedade desde o primeiro código de leis que se tem conhecimento, o Código de Hamurabi, que previu a presença do médico legista no dispositivo legal.
O perito utiliza os conhecimentos da medicina para fins forenses, e isso o torna um auxiliar do direito. Por isso, a profissão está presente nos principais pilares da sociedade, incluindo a proteção da saúde pública, prevenção de novos acidentes e garantia da justiça social.
Resposta rápida
Um exemplo é no caso de surtos de doenças ou envenenamentos, nos quais os exames podem identificar a causa dos óbitos e permitir uma resposta rápida para evitar mais pessoas afetadas.
A exemplo de acidentes em massa ou desastres naturais, esses profissionais desempenham um papel essencial para a identificação das vítimas, proporcionando às famílias a oportunidade de luto e encerramento. Famílias, aliás, que recebem respostas fornecidas pelos legistas em momentos de angústia e incerteza.
Assim como qualquer outro profissional da saúde, os médicos legistas são preparados para mortes e situações de dificuldade e pressão. “Qualquer médico trabalha diretamente com a morte, então faz parte da profissão do médico, e a medicina legal é uma área em que a presença da morte é cotidiana, assim como as lesões corporais, as investigações de crimes, então isso faz parte da profissão e o médico precisa estar preparado. A faculdade de medicina prepara muito para isso”.
“Mas claro que você conviver com o sofrimento humano, você ver uma pessoa doente, você saber que uma pessoa às vezes não tem tratamento, ou que sofreu um acidente muito grave, é algo sempre um pouco perturbador”, diz Martins.
Dificuldades
Ser médico legista exige resiliência e preparo emocional, já que o profissional se depara diariamente com situações de dor e violência.
“A maior dificuldade da profissão é, de fato, essa falta de conhecimento, muitas vezes, que as pessoas têm a respeito da especialidade médica”, destaca o legista Cristofer Martins.
Por Diller Abreu
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira