Novos sons de vida para crianças com autismo

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O palco não tinha holofotes. Na plateia, os fãs número 1 dos artistas olhavam emocionados. Os aplausos substituídos por estalar de dedos que transmitiam o que transbordava de alegria. No repertório, de sucessos da MPB a clássicos contemporâneos internacionais. Os artistas, crianças e adolescentes, experimentavam na apresentação final tudo o que as sessões de musicoterapia fizeram para eles que sofrem com o transtorno do espectro autista, o autismo.

Um desses artistas é o pequeno Ari*, de 4 anos. A mãe dele, Iamylle Carmo, conta que a musicoterapia afetou positivamente seu filho. “Ele melhorou bastante a socialização, criou um vínculo muito grande com o voluntário dele e também com outras crianças. Ele é uma criança que está se desenvolvendo devagar, mas acredito que o projeto ajudou muito a acelerar esse processo.”

Segundo especialistas, entretenimento e arte ganham poderes terapêuticos que mudam a vida dessas crianças. Uma união de música, medicina, reabilitação e psicologia. Os sons, ritmos e melodias são os instrumentos utilizados pelos profissionais da área para trabalhar diversos transtornos psicológicos, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo. Não importa o ritmo. Nesse caso, a música é usada para desenvolver as áreas da comunicação, expressão e mobilidade.

“Uma pessoa para ser diagnosticada com autismo deve ter uma falha na comunicação social reciproca, comprometimento em imaginação ou interesse em movimentos repetitivos e dificuldade em comunicação verbal e não-verbal”, explica a fonoaudióloga Lílian Quintal.

Apesar de não possuir cura, o transtorno pode ser amenizado com tratamentos multidisciplinares (psicológicos, fonoaudiólogos, terapias, entre outros).

Em pacientes com autismo, a musicoterapia age como um complemento, que busca estimular a comunicação, concentração, interação social e linguagem. “A música tem um grande potencial para o tratamento de pessoas com autismo. Com o ritmo, há a organização cerebral. A Melodia estimula a fala, as pausas musicais, o saber esperar e o fazer musical traz o conhecimento corporal”, explica a musicoterapeuta, e fundadora e diretora do projeto “Uma Sinfonia Diferente”, Ana Carolina Steinkopf.

Ana Carolina também explicou que a musicoterapia só pode ser aplicada por um graduado ou especializado na área, pois, se utilizada de forma errada pode causar efeitos negativos ou até retardar os processos de desenvolvimento. “Muitos profissionais usam a música em suas terapias e isso é normal pois ela é um elemento universal. Mas, apenas o musicoterapeuta sabe se o efeito será positivo ou negativo naquele momento”.

Por afetar a área da comunicação, as habilidades linguísticas e sociais de pessoas com TEA ficam vulneráveis. Lilian Quintal aponta a necessidade de um fonoaudiólogo e o poder da música para a melhoria dessas questões. “É comum a gente mandar pacientes autistas para o tratamento pela musicoterapia quando ele não emite som, para ele vocalizar, experimentar. As mudanças que mais se percebe são as troca de estímulos comunicativos, a concentração de tarefas e da troca do olhar”.

A psicóloga Thais Couto Lopes afirma que o tratamento de pessoas autistas pela música é bom.

“Com a música é possível trabalhar a interação das crianças. Já acompanhei pessoas nesse tipo de tratamento em um projeto multidisciplinar, lá elas melhoraram as interações, as frustrações, e o compartilhamento”.

Uma sinfonia diferente

Criado em 2015 pela musicoterapeuta Ana Carolina Steinkopf o projeto não-governamental “Uma Sinfonia Diferente” utiliza a música como ferramenta de inserção de pessoas com autismo no circuito cultural. Os participantes, guiados por voluntários, trabalham durante um ano para uma apresentação.

A estudante e voluntária Jackeline Pires, 19, conheceu o projeto a partir de um vídeo compartilhado em uma rede social. “Quis ser voluntária porque eu achei muito interessante o que eles desenvolvem. Por exemplo, no vídeo que assisti havia a visão dos pais sobre o projeto que falavam que a relação com os filhos melhorou, e eu achei isso muito bonito”.

“Andrea* já tinha feito musicoterapia antes, ela adora cantar e dançar. O envolvimento dela com o projeto foi acima das nossas expectativas”, afirmam os pais de Andrea, 13, Carliane Araújo Ribeiro e David Ribeiro, que, se dizem felizes pela participação de sua filha na Sinfonia, além de responsabilizar a musicoterapia por desenvolvimentos positivos com a filha. “A musicoterapia foi responsável por um momento de calma da Andrea. Ela também conseguiu sentar com as pernas dobradas, tipo índio. Coisa que não conseguimos fazer até então”.

No caso de Ari, filho de Iamylle Carmo entende que o projeto foi de extrema importância para a luta de representatividade de crianças com esse transtorno.

“O projeto foi de muita coragem e paixão. Precisa ser uma pessoa muito visionária para enxergar que poderia dar alguma coisa linda como foi o projeto vindo de crianças que a sociedade diz serem atrasadas”.

* Os nomes das crianças foram alterados em respeito ao que está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente a fim de que não haja nenhum tipo de constrangimento por conta dessa publicação.

Por Beatriz Castilho

Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira e Vivaldo de Sousa

Foto de capa: Pixabay / Valéria Rodrigues /  foto pública para ilustração

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