Ela era uma mulher de fibra, guerreira
mas tinha mania de sentir o som
ouvir os tons
desnudar o corpo
e cantar em silêncio.
Renata Fagundes
A estudante de direito Gabriela Ozanam descobriu quando tinha apenas 11 anos de idade (em 2009) uma dor que a acompanharia até a idade adulta. Hoje, aos 20 anos, recorda das dores de lidar com uma síndrome que mexe completamente com o psicologico e físico da pessoa. Diante disso por meio de uma antiga ecografia pélvica descobriu que estava com SOP. Na época ela tinha entre 11 e 12 anos e foi aproximadamente no mesmo momento em que menstruou pela primeira vez. Por ser muito nova, seu médico, em acordo com a família, desorientou a utilização de anticoncepcional pela possibilidade da quantidade de hormônios afetar o seu crescimento. Assim, ela começou o tratamento aos 16 anos.
“Eu acho que o principal efeito colateral que o anticoncepcional me trouxe foi certa frustração. Eu tive/tenho muita dificuldade pra perder peso e muita facilidade pra ganhar. Muitos pelos, acne (hoje em dia não mais), além, é claro, do ciclo extremamente desregulado.”
Em relação aos efeitos colaterais que desenvolveu por conta da síndrome, Gabriela sempre precisou procurar formas de amenizá-los e aceitar que não tinha outra alternativa do que enfrentar a SOP.
“Eu só fui aceitando mesmo, assim, eu vivi com medidas paliativas. Tem pelo, faz o que? Tira, depila. Acne? Vai ao dermatologista e faz tratamento. Está engordando? Faz dieta e faz exercícios. Eu fui mexendo nos sintomas, mas eu não fui mexendo na causa. Aí depois que eu comecei a tomar anticoncepcional que meu ciclo menstrual veio a regular, a preocupação mais foi essa.”
Gabriela nunca teve nenhum problema com o uso do anticoncepcional, nunca passou por nenhuma situação grave. Hoje, a medicação, tem ajudado a estudante a diminuir os efeitos da SOP.
“Agora eu menstruo regularmente, óbvio que se eu parar de tomar volta a desregular e eu já tive essa experiência. Eu fui ao ginecologista e falei “eu não quero mais tomar, eu não tenho vida sexual ativa e eu não quero mais tomar” e aí eu fiquei um ano sem tomar com medo de trombose. Depois eu voltei a tomar e agora a menstruação tá regulando de novo.”
A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) afeta a vida de muitas mulheres, especialmente quando desde a adolescênciase é ainda jovem, sendo mais comum na adolescência e acompanhando a mulher no decorrer da vida. Essa síndrome provoca alterações e folículos (de cerca de 10 mm) nos ovários e, caso não seja tratada, mais tarde pode levar à formação de cistos. Conhecida por gerar uma desregularidade na produção hormonal e no ciclo menstrual, a síndrome pode causar na mulher dificuldades para engravidar e até mesmo um câncer de endométrio.
A estudante de Piscologia, Alexia Burlamaqui de 23 anos, descobriu em 2016, quando fazia exames de rotina, que estava com alterações hormonais e que possui ovários policísticos. Alexia começou seu primeiro tratamento indicado por sua ginecologista com o anticoncepcional YAS, porém teve problemas com a medicação.
No começo do tratamento, sua médica se mostrou impressionada com o fato de que a estudante não possuía quase nenhum tipo de sintoma acentuado, dificultando até mesmo a descoberta do que tinha de fato.
“Os sintomas que eu tinha eram só de menstruação desregulada que tive desde sempre e espinha nas costas, que não via.”
Atualmente, Alexia faz tratamento para a síndrome com o anticoncepcional Dalyne, o objetivo é provocar o desaparecimento dos folículos e evitar futuros danos causados pela doença. Todavia, mesmo não apresentando nenhum sintoma da SOP, a estudante sente diversos efeitos provocados pelo medicamento.
“Eu não lido muito bem, porque acho que nenhuma mulher gostaria de ter ovário policístico e ficar tomando um remédio fortíssimo como é o anticoncepcional. A pior parte para mim com certeza é o remédio. Ao tomar o anticoncepcional parece que tenho todos os sintomas do ovário policístico.”
Em junho, Alexia retornará à ginecologista para analisar se os folículos sumiram devido ao tratamento. Apesar de não querer engravidar no momento, a estudante possui o desejo de ser mãe futuramente e espera que os cuidados que está tomando agora lhe ajudem a se livrar da síndrome e, consequentemente, realizar este desejo.
“Como eu não estou tentando engravidar, então para mim está tranquilo está parte ainda, apesar de que estou tratando para isso desaparece de vez, porque num futuro longínquo ainda pretendo ser mãe”.
A universitária Roberta Stuckert de Carmargo, de 23 anos, descobriu que tinha a síndrome ainda muito jovem. Logo após o primeiro ciclo menstrual, aos 11 anos de idade, Roberta teve um atraso menstrual de cerca de um ano até o ciclo reiniciar. Ao ser levada à ginecologista pela mãe, a estudante recebeu recomendação médica de esperar ter mais idade para começar o tratamento. Aos 17 anos, então, começou seu tratamento com o medicamento IUMI, o qual continua tomando até hoje.
Devido à SOP, Roberta descobriu o desenvolvimento de um tumor em seu ovário. Apesar de o tumor ser benigno, até hoje ela continua fazendo acompanhamento médico periódico.
“Eu tive um problema há uns anos atrás, que eu ainda continuo de olho. Com os ovários policísticos, criou um tumor no meu ovário chamado teratoma, que é benigno, e eu preciso ficar fazendo exames de seis em seis meses. Se ele crescer eu preciso fazer uma cirurgia pra retirar, mas enquanto isso, preciso continuar tomando remédio pra ele não crescer, então eu nunca posso parar de tomar anticoncepcional.”
Roberta faz uso do medicamento de 24 em 24 dias. Além de prevenir o desenvolvimento do tumor, ele auxilia no controle de sua menstruação.
Ovulação
De acordo com pesquisas realizadas e dados do IBGE, cerca de 5% a 10% das mulheres sofrem com a Síndrome do Ovário Policístico, sendo cerca de 2.000.000 de casos por ano. Por conta do desequilíbrio hormonal que causa, a síndrome leva à formação de cisto no ovário, por isso a mulher acaba sofrendo também com a mudança no processo de ovulação.
A ginecologista Roberta Meirele Martins menciona que há causas primárias e secundárias para a ocorrência da SOP. A causa primária mais comum é a resistência à insulina (causada muitas vezes pelo excesso de peso) e, portanto, o emagrecimento seria a primeira solução no tratamento. Segundo ela, medicamentos como o Glifage (um dos medicamentos usados para tratar a resistência à insulina) ajudam a tratar a causa. Já a causa secundária, é o aumento de prolactina, além de alterações da tireoide e da suprarrenal, que devem ser corrigidas assim que forem encontradas.
“Devido ao hiperestrogenismo são pacientes que não ovulam, ficam com os estrogênios sempre muito altos, então aumentam o risco hiperplasia endométrio (o aumento da espessura do tecido que reveste internamente o útero) e até de câncer do endométrio. Também há estudos mostrando o aumento do risco de câncer de mama com esse aumento de hiperestrogenismo.”
De acordo com a ginecologista, o tratamento depende do objetivo da paciente. Caso a paciente tenha o objetivo de engravidar, o melhor é aguardar para mais tarde. Já se a paciente deseja contracepção, deve iniciar com um anticoncepcional, porque irá melhorar o padrão menstrual e, consequentemente, também irá melhorar o hirsutismo (crescimento excessivo de pelos). No entanto, ela explica que, para o objetivo de melhorar o ovário policístico, a busca deve ser sempre por um peso adequado à estatura.
Por: Ana Vitória Queiroz.